terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Humildade é tudo, mas ter consciência do que somos e o que fazemos disso é mais tudo ainda!



         Um amigo (sou cheio de amigos instrutivos) me veio perguntar se eu não tinha orgulho de ser o que eu era, de ser, segundo ele, uma autoridade, o que me dava, como dava também a outros, ainda segundo ele, certas prerrogativas para ajudar “os amigos” como... Ah!... deixa pra lá... tenho até vergonha de repetir o que ele disse. Fiquei calado e pensei: “Não vou envergonhar esse cara.” Então lhe dei um tapinha nas costas, saí e fui embora.
Mas agora vai aí uma resposta razoável:
        Para começar, orgulho não se deve ter de nada nessa vida. Pois somos apenas humanos, e com os padrões morais de hoje isso já não é lá grande coisa, dadas as nossas falhas e imperfeições.
Como se pode ter orgulho do que somos se a nossa frase predileta é (imagino que era isso que ele esperava de mim após o elogio cheio de más intenções que fez): “Deixe que eu vou dar um jeitinho”?
Como se pode ter orgulho de se apresentar amigo, fazer um elogio e já ir logo pensando em tirar vantagens?
Como se pode ter orgulho de se dizer sincero e tramar contra o seu próximo, seja em casa, na escola ou no trabalho?
Como se pode ter orgulho de ser o que se é e fazer uso de subterfúgios para fazer valer a sua suposta condição de autoridade para tentar “contornar algum imperativo legal”, por exemplo, transacionar com “um amigo” para esquivar-se de uma multa de trânsito oferecendo ou recebendo dinheiro?
            Como se pode ter orgulho de achar que o honesto é um paspalho e o malandro é que é ”o cara”, num país onde impera o jeitinho brasileiro e a corrupção como estilo de vida?
Enfim! Graças a Deus eu não sou assim como ele pensa que eu deveria ser. Mas certamente se tivesse ouvido isso, teria sido ele a se calar, despedindo-se, e ido embora. Teria ficado envergonhado. Talvez até pensasse que eu estivesse a falar dele.
De qualquer modo, o comentário dele me deixou outra ideia daquilo de que vale a pena ter orgulho. E aí vão algumas pinceladas do que penso, só pra destacar alguns exemplos:
            Orgulho mesmo se deve ter quando se é acima de tudo sério, honesto, ético.
Orgulho mesmo se deve ter quando se tem consciência do que você é e como poderá contribuir para melhorar o mundo, ou pelo menos a sua realidade.
Orgulho mesmo se deve ter quando se pode ser útil para si, sem prejudicar os outros e a sociedade em que vive, e quando lhe passarem o troco errado, ainda que seja a ínfima quantia de R$ 0,50 (cinquenta centavos), você deve entender que tem a obrigação moral de devolver.
Orgulho mesmo se deve ter quando se notar, na sociedade em que vive, meio deslocado dos valores morais que te cercam, pois há muito já vivemos o que dizia Rui Barbosa:  “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chaga a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, e a ter vergonha de ser honesto.”
            Entenderam agora porque eu nada respondi no momento. Poupei o meu amigo de duas vergonhas.
Mas pra finalizar, a propósito do orgulho que acabei de defender, devo dizer que esse orgulho tem que ser comedido, para que não percamos a humildade, pois no fim das contas, como diz minha mãezinha em sua empírica sabedoria e português nada ortodoxo, mas que passa uma mensagem que dispensa explicações: “Somo tudo comedor de farinha, cagamo e mijamo como todo mundo, e vamo morrer tudo do mermo jeito, como todo mundo morre. E pronto!”
Orgulhar-se de que, então, se não passamos de NADA
            Essa, sim, é minha mais simples lição de humildade.


Wallace Rocha




terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Falando de ideia e opinião - crer ou não crer: eis a questão!



Outro dia eu conversava com um amigo sobre a existência de Deus. Ele (refiro-me ao amigo), filósofo e ateu convicto, argumentou que se Deus existisse não haveria tanta iniquidade e injustiças no mundo, pois se Deus é, como dizem, o senhor de todas as coisas, Ele (refiro-me agora a Deus) poderia muito bem impedir que atrocidades e injustiças acontecessem. Deveria, como Deus que é, impedir que os homens, criação Sua e, portanto, sob Seu julgo, cometessem qualquer MAL, já que tanto se fala ser Ele um Deus do BEM. Se isso não ocorre, e sabemos mesmo que não ocorre, logo Deus não existe!
Analisando grosso modo a sua argumentação, inicialmente foi fácil perceber nela certa lógica. Porém, se levarmos em conta que o meu amigo é muito mais ateu convicto do que filósofo, poderíamos inferir o seguinte: a proposta de sua argumentação é tendenciosa, unilateral, pois meu amigo tem opinião formada, mostra-se sempre irredutível acerca de temas religiosos, usa sempre argumentos favoráveis às suas conveniências e ao seu entendimento das coisas e certamente, caso lhe seja proposta, NÃO aceita argumentação contrária, principalmente se a argumentação for também de caráter religioso, que embora não prescinda de lógica, baseia-se muito mais em conceitos dogmáticos, fé, simplesmente FÉ, do que em qualquer outra coisa, e a fé ele notadamente não deve apreciar, pois ainda não deve ter tido as suas experiências que colocariam por terra os seus frágeis conceitos de ateísmo.
Partindo desse ponto de vista, vamos a uma argumentação mais laica. A meu ver, culpar Deus pelo mal que nós mesmos fazemos só para justificar a existência de Deus seria como culpar nossos pais por nossos maus passos na vida, e assim sucessivamente na ascendência em linha reta. Em exemplo mais didático, seria como culpar um pai por um homicídio cometido por seu filho penalmente imputável, só para provar que o pai existe. Mas tentar convencê-lo de que a lógica do meu argumento é igual à lógica do dele seria, creio eu, pedir demais para uma cabeça tão dura.
Para estender ainda mais a discussão, que acredito valiosa, vamos pegar carona no mote de Voltaire, que dizia: “Não concordo com o que dizes, mas defendo até a morte o direito de o dizeres”. Pra mim, não há nada mais justo do que isso. Mas isso que eu entendo justo não me permite afirmar que todos os meus amigos ou inimigos devem ou possam pensar assim como eu ou mesmo acreditar na frase de Voltaire como eu. Concordam? Não? Tudo bem! Não faz mal.
O que digo é que há pessoas que pensam que os outros são obrigados a concordar com suas ideias, opiniões e crenças e, se não pensarem igual, estão erradas. Só posso tirar daí duas conclusões infelizes: ou o indivíduo é muito cabeça dura, ignorante, ou é autoritário mesmo para querer impor a sua vontade sobre os demais. Contudo, tenho também que admitir a possibilidade de haver quem discorde do que eu acabo de dizer. Creio ser isso o justo.
Para adubar um pouco mais a matéria, devo acrescentar ainda que tenho eu próprio outra teoria no tema que agora desenvolvo e que o leitor lê, portanto mais de uma ideia ou opinião sobre a mesma coisa, e isso não atrapalha o meu viver. Ao iniciar a proposta de desenvolver o texto, apenas escolhi uma linha, mas não descarto as outras possibilidades. Por que então não aceitar a opinião do outro, que é apenas diferente da nossa, não melhor ou pior, mais válida ou menos válida?
E apimentando ainda mais o tema, vejamos: concordo com tudo e acredito em tudo que vem da mente humana, isso só vai depender do humano e das circunstâncias e conveniências do momento para ajustar tudo e agradar a todos. Assustam-se? Calma! Ironias à parte, se olharem bem, essa é a regra básica da política que impera no país. Mas parece que ninguém contesta. Aliás, todo mundo até gosta. Sabem por quê? Porque essa prática é chamada de jeitinho brasileiro, e alguns de nós, se tiverem oportunidades, farão também. E essa, da minha parte, é apenas outra leitura de cenário, outra opinião, que eu não sigo, mas admito haver quem goste, e como há! Não espero, porém, que me sigam, tampouco quero seguir alguém que aprecie esse tipo de valor, mas uma coisa é certa: devemos nos respeitar, e não querer impor um ao outro o que gostamos, acreditamos ou seguimos.
E a propósito de opiniões, o meu primo Glauco Capper já escreveu um texto curioso: “Maria vai com as outras” (acesse o blog http://26mm.blogspot.com.br/): “existe algo muito importante em tudo isso: há pessoas que usam argumentos que as favorecem, para praticarem coisas que fogem até da decência! Que não seja o caso de ler este artigo e achar que pode fazer tudo que der na telha. Bom senso é um bom termômetro e sempre funciona. Já a opinião dos outros!...” Então vai aí um conselho: não levem meu texto muito a sério! RS!
Porém, como não faz mal algum, vamos a mais um exemplo: outro dia, em uma reunião, me pediram para eu expor minhas ideias. E eu, conhecendo bem o ambiente hostil, tosco e obtuso em que estava, disse: “Expor minhas ideias? Aqui? Pra quem? Pra quê? Expor ideias aqui é um desperdício! Seria como lançar margaritas ante porcum!. Vocês não aceitarão o meu argumento e ainda vão querer me convencer do contrário, ou melhor, me impor o que vocês acreditam”. E então me calei!
Certamente houve quem pensasse de mim o que eu agora penso e digo sobre eles. Arrogante? Autoritário? Talvez. A verdade é que não sei. Também não me importa. O que interessa é que, antes que a discussão pudesse começar, ela acabou. Sem atritos, assim acredito. Com efeito entendi que houve certo respeito a opiniões (não, não estou sendo irônico!), embora elas nem tenham sido expostas, nem as minhas sobre eles, nem as deles sobre mim. Que bom! Creio que desperdiçar um dia com atritos e defesas de opiniões, se a causa não for filosófica, não é salutar à alma humana.
Nesse conceito, entendo que não devemos deturpar o conceito de filosofia, como acredito ter feito o meu amigo e outros tantos que andam por aí a arrotar verdades incontestáveis. Afinal, filosofar é EXPOR ideias... e não IMPOR ideias! E é isso que eu defendo. Mas tudo isso é apenas mais uma opinião de minha parte, o meu entendimento das coisas. A verdade é que não tenho a pretensão de convencer alguém nem de impor a ninguém as minhas verdades. Posso ter seguidores ou opositores, ou quem sabe até perseguidores, mas eles serão pra mim apenas isso. Nada mais!
Entendo também que Ciência é ciência; religião, uma questão de fé: ou você acredita ou não acredita. Einstein, um dos maiores cientistas do mundo, inicialmente ateu, acabou por descobrir Deus dentro do laboratório, e nos deixou um grande ensinamento: "A Ciência sem a religião é manca. A Religião sem a ciência é cega." Eu costumo dizer o seguinte: Se você não consegue entender as duas coisas, os dois conceitos, para fazê-los entrar em harmonia, paciência então! Nesse caso, é melhor se manter ignorante, afinal de contas, a ignorância é mesmo uma bênção!
            O que quero dizer é que, apesar das ciências que aprendemos e que achamos que com elas podemos dominar o mundo e as pessoas, o nosso cérebro deve estar aberto a novas experiências, de modo que possamos encontrar respostas às nossas indagações diárias que nos acompanharão até o nosso último dia na terra. Não podemos nos fechar ao conhecimento de coisas novas ou a novos entendimentos das coisas. Em qualquer lugar e tempo, podemos encontrar inclusive Deus onde menos esperamos. Basta-nos apenas nos despirmos desse véu espesso de preconceitos e ignorâncias de acharmos que porque somos filósofos, historiadores, astrônomos, físicos quânticos ou os pica-da-galáxia, temos que necessariamente ser ateus e não admitirmos um Deus. 
Nosso saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade, num arroubo de lirismo, lógica matemática e fé, nos deixou sua simples prova de reconhecimento de Deus no poema “O Único” que, embora pequeno, faz-se grandioso pela universalidade da mensagem:

“O único assunto é Deus
O único problema é Deus
O único enigma é Deus
O único possível é Deus
O único impossível é Deus
O único absurdo é Deus
O único culpado é Deus
E o resto é alucinação.”

É diante deste pequeno poema que Drummond se revela um filósofo da alma humana e acaba nos revelando sutilmente, nesta interpretação possível, tudo aquilo que não temos coragem de aceitar por não termos ainda capacidade de entender.
Se ao longo da história da humanidade tivéssemos tratado a ciência descartando tudo que não compreendemos, como talvez faça o meu amigo no caso da religião, não teríamos evoluído a tal ponto. Aliás, talvez nem tivéssemos saído da caverna. Do mesmo modo, descartar a existência de Deus só porque nós não o compreendemos ou porque Ele talvez não faça o que queremos para que justifiquemos a nós mesmos, seria aceitar permanecer para sempre na escuridão.
E se existe mesmo um Deus – e eu acredito que existe – que a nós e a tudo criou, que nos ouve e nos vigia agora, certamente Ele está de fato além da nossa compreensão. E isso não nos deve causar nenhum assombramento. É bem possível, pois, que tudo o mais que há sobre Ele, que se crê sobre Ele ou mesmo escrito sobre Ele não passe de mera invenção da mente humana, assim como o poema de Drummond, que nos abre um universo de portas possíveis para onde quer que queiramos ir, pois a vida é aquilo que a gente quer que ela seja, e acreditar em Deus, ao contrário do que se pensa, ou como pensa meu amigo, não é uma questão de lógica cartesiana, mas simplesmente de fé. E fé não se explica.  
Por isso, quando meu amigo me expôs a sua opinião sobre Deus, apenas respeitei o que ele acredita e, embora tenha ele tentado me convencer e engrossar o seu clube, apliquei a ele o mesmo argumento e pedi que ele respeitasse o que eu acredito.
Enfim, decidimos não impor um ao outro qualquer que fosse as nossas crenças ou vontades. Pois como disse Saramago: “Aprendi a não convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito. É uma tentativa de colonização do outro.” Portanto, apenas respeite a opinião do teu próximo. Acho que assim, imagino, devemos viver melhor. Mas isso também é só mais uma opinião.



Wallace Rocha

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Uma ideia cavalar... ou o que quiserdes!

            — ...para um cavalo?!
            — Isso mesmo: um cavalo!
            — Então é mesmo um cavalo a figura!
            — E o pior é que...

            Este era o diálogo de dois estudantes, que comentavam um acontecimento nada comum envolvendo certo educador, ao ter este se deparado com a mirífica ideia de uma classe de alunos revoltada com a sua metodologia de ensino.
            O caso é que o pitoresco e desastroso fato tinha ocorrido no dia anterior, tendo sido o fatídico momento resultado de ânimos atritados por semanas de descontentamento e discussões acerca das posturas e procedimentos da pseudopedagogia praticada pelo “mestre do saber”, alcunha tanto elogiosa quanto irônica com que foi agraciado o ilustre mestre, desde o primeiro contato com a turma.
            Havendo ele, desde o início, se mostrado tão exibicionista quanto despreparado, alternando momentos de falso saber com ignorância explícita, tentando demonstrar provas de tudo com postulados autoritários que versavam sobre nada, que só faziam sentido na sua falta de senso, logo conseguiu que a classe lhe externasse os primeiros toques de amabilidade:
            — É uma MERDA!
            O seu despreparo era tamanho que, mesmo não se esperando que ele pudesse ir mais longe, ainda assim ele surpreendia, se superava, fazendo comentários impróprios sobre assuntos que não dominava e largando frases hilárias que uma criança teria vergonha de dizer, bem como nós, que não as transcrevemos aqui para não cairmos no mesmo erro.
            O tratamento científico por ele dado a certos assuntos era um mero reflexo de sua cega vaidade e intransigente postura em não aceitar contestações. Quando isso ocorria, embasbacava-se, ruborizava-se e apresentava argumentos nada convincentes que só incentivavam a hilaridade contida nas entranhas dos alunos, todos quase a explodir em risos. Mas para maior revolta da classe, a situação piorava quando o mestre vingava-se em avaliações descriteriosas e mal elaboradas que mais serviam para mostrar autoritarismo que para avaliar conhecimento, coisa que pouco tinha, haja vista ser o seu saber o refugo do que teria sido se tivesse estudado.
            De fato era um néscio, um néscio travestido de intelectual, do tipo detentor de um saber duvidoso, demasiadamente intangível até para ele mesmo, pois tinha dificuldade em alcançá-lo para transmiti-lo; um néscio que se valia de uma retórica empolada, talvez arrancada de um desses manuais de categoria inclassificável e também duvidosa que bem poderia se apresentar sob o pomposo título de “Tudo que você precisa saber para falar bem em público e não passar vergonha”.   
Verdadeiramente, atropelava a ortografia, a sintaxe e a semântica (estes três seres monstruosos) com o pragmatismo de um trem desgovernado. Com erros absurdamente esdrúxulos, que passeavam por todas as áreas do conhecimento, e servido de frases latinas enferrujadas, extraídas de outro manual qualquer, que serviam tão somente para aumentar a pompa do indivíduo, ressaltando a ignorância, pois se perguntassem a etimologia do palavreado ele nada sabia dizer com clareza, foi assim consolidando a sua nefasta e arrogante presença perante a classe, sem a mínima inquietação da consciência ética, moral e intelectual, valores que certamente nem cultivasse, já que essas coisas andam mesmo em falta no mercado.
            Por tudo isso e um pouco mais, é que o mestre e a classe travavam discussões hercúleas a respeito de saber e não saber, como ou não ensinar, saber aprender ou não, e o seu, para ele, o mestre, notável conhecimento, aumentado por ele mesmo. Tudo, absolutamente tudo isso fazia que diminuísse a cada dia o pouco o quase mais nenhum respeito que a classe pudesse ainda nutrir por ele. Até que um dia, um aluno mais irreverente espetou com a verdade o orgulho do mestre:
            — O senhor não sabe ensinar! – disse, pondo-se firmemente de pé e com o dedo em riste.
            O professor, com o “intelecto” sangrando embrutecimento, sem que pudesse formular melhor resposta, certamente pela simples carência de algo que a turma tinha certeza que ele não tinha, respondeu do mesmo modo, dedo em riste, desenhando no ar um arco geométrico imaginário, coisa de que nem ele, um dia, tivesse talvez ouvido falar, assim como as regras da boa gramática:
            — Vocês é que não sabe aprender! Ao longo da minha carreira, sempre foi assim. É assim porque é assim, e pronto! – disse, sem a devida concordância gramatical e contextual.
            — Realmente assim não é possível aprender! – declarou outro aluno.
            De insinuações a entreveros mais ásperos, o impasse acabou por culminar numa discussão interminável da classe com o mestre, pois as declarações deste só poderiam ter sido uma piada.
            E o mestre retomou o discurso:
            — Então digam aonde estamos errando?
            — Aonde estamos? Xi! Errou de novo e duplamente! – disparou outro aluno irritado, entre risos dos demais.
De fato, aonde não era apropriado à frase, e estamos incluía a classe no erro, e isso não era verdade, errava apenas o professor, duplamente!
— Não admito gracinhas! – bradou o mestre, ruborizado, sem entender ao certo o motivo do riso, pois do erro explicado acima a classe tinha ciência, já o mestre não, claro!
— Não admito gracinhas! – repetiu.
— Nem nós! – reverberou um coro de alunos.
E deu-se que, no ardor da discussão, um aluno mais irreverente ainda teve a espirituosa ideia de relinchar. Este fato, como se não bastasse para adjetivar a figura do mestre, suscitou a outro membro do corpo discente outra ideia não menos espirituosa, acrescida de certa insolência, exagerada talvez, mas que veio bem a calhar.
De fato a ideia era suficientemente contundente para que o mestre se reconhecesse – pelo menos isso era o que se esperava – como o absurdo da ignorância perpetuada por quase um século na Instituição da qual fazia parte. Naquele dia, porém, não houve como executá-la, dada a situação daquilo que o “mestre do saber”, quase que diariamente, insistia em chamar de aula.
Chegado o momento adequado, no dia seguinte, o aluno da ideia mirífica chegou mais cedo, reuniu a classe e explicou a todos o que tinha preparado para o mestre e disse:
— Então é isso!
— Sério?! – perguntaram-lhe.
— Exatamente! Não se assustem com a situação. O que está lá é realmente o que vocês vão ver! E não precisa ter medo. É manso!
Ansiosos, todos ficaram tomados de curiosidade pelo que iria acontecer.
Quando o professor, na hora costumeira, assomou no corredor que dava acesso à sala de aula, para impor por mais um dia a sua triste e medíocre figura, construída ao longo dos seus trinta anos de carreira, avistou os alunos reunidos do lado de fora da sala.
Mesmo imaginando que teria que enfrentar a insólita turba – pelo menos esse foi o pensamento que lhe atravessou o crânio – não perdeu a compostura (se é que tinha alguma) e rumou para a sala.
Ao se aproximar dos alunos, disparou:
— É motim?! Querem boicotar a minha instrução, é isso?!
— Não, senhor! – respondeu com firmeza o porta-voz do grupo e autor da ideia. – e com ironia, concluiu: — Só lhe trouxemos um aluno à altura da sua notável pedagogia e arrogância.
Ao entrar na sala, o ilustre mestre se deparou com um cavalo... um cavalo tão negro quanto o seu conhecimento.
O animal – refiro-me ao cavalo – estava no meio do recinto, rodeado por cadeira vazias, à espera do instrutor.
À primeira vista, pode ter perecido ao equino que o instrutor era de outro mundo, de outra espécie animal, mas tão logo o mestre começou a falar, os olhinhos do animal começaram a serenar, o bicho meneou a cabeça, talvez procurando identificar-se, e pareceu, no momento seguinte, sentir que aquela figura que falava lhe era bem familiar.
Para o espanto dos alunos, o animal – refiro-me agora ao mestre – dirigiu-se ao cavalo e começou o seu ofício diário.
 — Vamos começar pelo início. – disse, como se começar por outro lado fosse fazer alguma diferença. E continuou, enquanto o cavalo, já bem familiarizado, lhe olhava com um ar de solidariedade e olhinhos brilhantes: — Como você sabe, a natureza é composta por dois grandes reinos: o vegetal, que compreende as plantas; – e apontado para o cavalo e para si – e o animal, do qual você e eu fazemos parte...
Do lado de fora, os alunos não esperaram o resto da explicação. A última frase ouvida da boca do mestre foi usada com a melhor das propriedades linguística em todas as dimensões da linguagem: “...do qual você e eu fazemos parte...”. Olhem só que maravilha!
Comprimiram o riso, e um dos alunos disse:
— É... não tem jeito! É pior do que imaginávamos. São mais de trinta anos de animalismo, de paradigmas unilaterais doentios, de ideias fixas amareladas, enfim, de embrutecimento. Isso é uma doença que vicia!
Algumas horas depois da execução do plano e do último comentário do aluno, houve quem achasse a ideia um tanto exagerada e descabida e quase saísse em defesa do professor, mas não ousou levar adiante o intento, haja vista não querer ser tachado de bajulador de ideias caducas.
Retiraram-se, só restando mais comentários para o dia seguinte. E é neste dia que vamos encontrar os dois alunos em diálogo, um narrando a outro de outra turma o insólito fato:
— Aula para um cavalo?!
            — Isso mesmo: um cavalo!
            — Então é mesmo um cavalo a figura!
            — E o pior é que... – sentenciou, ao ver passar ao lado o único aluno que achou a ideia um tanto descabida - ...o pior é que esse tipo sempre deixa discípulos!





Wallace Rocha

sábado, 31 de agosto de 2013

Decadência!


O vaga-lume aí da foto, não sei qual a razão, acabou por despencar em cima da minha mesa enquanto eu dava prosseguimento aos escritos do meu livro, motivo pelo qual (aproveito para informar os meus leitores) tenho estado afastado um pouco do meu blog. Então eu pensei: se até um animalzinho desses, que tem luz própria, tem mais liberdade e é bem mais independente do que nós, anda meio DESORIENTADO, imagina alguns que vagam por aí nessa “terra miserável” e que seguem a luz emprestada de um astro solitário que anda meio decadente.  Acho que vale o post. É isso!



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Pra relaxar! Eh, eh, eh!


ENTREVISTA NO RH DE UMA GRANDE EMPRESA

1º Candidato formado na USP
Diretor: Qual é a coisa mais rápida do mundo?
Candidato: Ora, é um pensamento.
Diretor: Por quê?
Candidato: Porque um pensamento ocorre quase instantaneamente.
Diretor: Muito bem, excelente resposta!

2º Candidato formado na PUC
Diretor: Qual é a coisa mais rápida do mundo?
Candidato: Um piscar de olhos.
Diretor: Por quê?
Candidato: Porque é tão rápido que às vezes nem vemos.
Diretor: Ótimo!

3º Candidato formado na UNICAMP
Diretor: Qual é a coisa mais rápida do mundo?
Candidato: A eletricidade.
Diretor: Por quê?
Candidato: Veja: ao ligarmos um interruptor, acendemos uma lâmpada a 5km de distância instantaneamente.
Diretor: Excelente!

4º Candidato fazendo curso no Colégio ASDRUBAL CORNÉLIO em Trubuçu do Norte
Diretor: Qual é a coisa mais rápida do mundo?
Candidato: Uma diarreia...
Diretor: Como assim? Está brincando ? Explique isso...
Candidato: Isso mesmo. Ontem à noite eu tive uma diarreia tão forte, que antes que eu pudesse pensar, piscar os olhos ou acender a luz, já tinha me cagado todo...
Diretor: O emprego é seu!

"Fundamento técnico e cálculo não é tudo... entender de cagadas é o que o mercado precisa.”

"E O SERVIÇO PÚBLICO ESTÁ CHEIO DESSES!"

terça-feira, 16 de julho de 2013

Dicionário da Amazônia



                Constam nas crônicas do Acre que, tempos atrás, havia certos folclores por parte dos habitantes que se deslocavam da capital Rio Branco para viver na fronteira do Estado com a Bolívia (Brasiléia com Cobija). Dizem que, ao habituarem-se à localidade, alguns moradores brasileiros, que não dominavam nem a própria língua, inexplicavelmente adquiriam até o sotaque espanhol dos hermanos.
            Ocorreu então que, certo dia, nomeou-se, como se nomeava antigamente, um daqueles delegados sem muita formação, mas com muita experiência, para responder pela delegacia de nossa cidade fronteiriça e pôr fim de vez à criminalidade. O homem era daqueles que, como dizia minha mãe, tinha fardo de estupidez que nunca havia mexido, tão grosso era o cabra. Mas estava lá o homem: delegado da fronteira, coisa monumental para lugar tão mirrado.
            Alguns dias depois de sua chegada, o delegado se deparou com a sua primeira ocorrência policial. Aportou à entrada da delegacia um jovem, noticiando, numa mistura de português sofrível com um espanhol ingrato, o seguinte gracejo:
            Mi capitan, venho a hablar a usted que me roubaram mi chalana de la porto!
            De fato, o relato, como posto, era bem típico de gente medíocre que, quando se comunicava com gente que viesse de fora, gostava logo de fingir uma importância que não tinha, é claro.
            O delegado, que prezava muito bem pelo português amazônico e não era afeto a macaquices, desconfiado de que o rapaz era brasileiro com molecagem, chamou o seu auxiliar, disparando a seguinte sentença:
            — Tenório, venha cá e traga o Dicionário da Amazônia!
            O auxiliar apareceu com um porrete de borracha do tamanho da ignorância linguística do rapaz. E o delegado, em seguida, disse ao auxiliar:
            — Dê três porretadas no cabra pra ele lembrar como se fala.
            Tenório executou a ordem com precisão e estampou no rosto um prazer horripilante.
            — Pelo amor de Dios, mi capitan, só vim hablar a usted que me roubaram mi chalana de la porto!
            — Tenório! Mais três! – ordenou o delegado.
            De pronto, a ordem novamente foi cumprida com o mesmo prazer.
            — Seu delegado, pelo amor de Deus, só vim falar pro senhor que roubaram minha catraia lá do porto. – disse o rapaz, já bem alinhado com o falar brasileiro.
            Para confirmar a suspeita de que o porrete não mentia, o delegado concluiu:
            — Tenório! Dê mais três pra ele não esquecer o Dicionário da Amazônia.
            E Tenório executou a sua receita infalível.
            Daquele dia em diante, dizem que, por longo tempo, não houve mais crime na fronteira... tampouco molecagem linguística.
           
            Wallace Rocha



domingo, 16 de junho de 2013

Vamos direto ao ponto G da questão


Há alguns meses, Denise Leitão Rocha, ex-assessora parlamentar do gabinete do senador Ciro Nogueira e a mais nova musa a protagonizar um escândalo no Congresso Nacional, foi pré-julgada e moralmente condenada pelo vazamento de um vídeo em que ela aparece com o namorado em cenas salientes e calientes, em que quase aparece o ponto G, vídeo esse veiculado sem reservas, para a abestalhação dos políticos do Brasil, no próprio Congresso Nacional. Depois disso, após o abalo emocional, a moça ganhou notoriedade e, para a nossa alegria, e mais uma vez para a alegria dos políticos – que adoram uma sacanagem –, ela posou para a Playboy e, ao contrário de alguns políticos, ela ganhou um dinheiro razoável e honesto. Antes, porém, por causa do seu vídeo, a moça foi sumariamente exonerada, pois não faltou quem a julgasse. Pura hipocrisia, principalmente vindo de onde veio!
No Acre, os membros de outro ponto/grupo, o G-7, após quase dois anos de investigação legítima da Polícia Federal, uma das instituições mais sérias do Brasil, foram presos, e presos ainda estão há mais de 30 dias, acusados de formação de cartel, fraude em licitações, desvios de dinheiro público e outras mazelas penais e morais. Tal como a moça, também ficaram famosos em algumas revistas, mas para a nossa tristeza a fama é outra, pois teriam ganhado dinheiro de maneira improba. Pena que no Acre, no Brasil, quiçá no mundo não haja uma revista que desnude a alma dos políticos e empresários envolvidos no esquema como a Playboy o faz com os corpos de nossas belas mulheres. O interessante é que, depois de todo o escândalo, que já teve seu aniversário comemorado até com bolo pelos adversários políticos, há quem diariamente os declare inocentes e os defenda com veemência e ainda achincalhem as autoridades policiais e do Judiciário estadual que conduziram a investigação e o processo de maneira firme e isenta.
Minha conclusão?:
No Brasil e no Acre, posar para a Playboy e fazer sexo – a coisa mais natural do mundo, senão não estaríamos aqui – parece ser conduta mais reprovável do que saquear os cofres públicos.
No atual estado das coisas, onde se subverte a ética, a moral e os bons costumes, tudo parece ser apenas uma questão de ponto de vista ou, quem sabe, de ponto G.
Então eu pergunto:
O que fizeram é ou não é uma injustiça? Ah! Refiro-me à moça, benza-a Deus!



Wallace Rocha

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O MITO DO LEITO DE PROCUSTO E A IGNORÂNCIA QUE NOS RODEIA

Por Elenckey Pimentel

Procrusto, também conhecido como "Procrustes", "Procusto", "Damastes" ou "Polipémon" é um personagem da mitologia grega que faz parte da história de Teseu. Procusto era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua casa, ele tinha uma cama de ferro, que tinha seu exato tamanho, para a qual convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem demasiado altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. Uma vítima nunca se ajustava exatamente ao tamanho da cama porque Procusto, secretamente, tinha duas camas de tamanhos diferentes. Procrusto significa "o esticador", em referência ao castigo que aplicava às suas vítimas.
Continuou seu reinado de terror até que foi capturado pelo herói ateniense Teseu que, em sua última aventura, prendeu Procusto lateralmente em sua própria cama e cortou-lhe a cabeça e os pés, aplicando-lhe o mesmo suplício que infligia aos seus hóspedes.
É bem verdade que ainda hoje se vê muitos Procustos, de vários tipos, espalhados por aí. Aquele que ignora a corrupção de seus políticos ajustando as coisas de modo a querer justificar aquilo que não tem justificativa, em vez de assumir o erro, o que seria mais honesto e maduro. Aqueles que se apoderam de uma pseudo-sabedoria religiosa e interpretam as Sagradas Escrituras de acordo com o que querem e ignorando aquilo que não entendem, em lugar de buscar uma interpretação – repito! – madura. Há ainda os pais de filhos sempre inocentes. Os culpados são sempre os filhos dos outros. E a grande invenção da qual o Brasil ignorante se orgulha: o jeitinho brasileiro, que faz adequar tudo ao driblar as leis e fazer do país uma grande vítima do Procusto mitológico que, até hoje, não se deparou com seu Teseu. E duvido que isso acontecerá!
No Acre, incrivelmente, parece que este mito é bem real. Pelo menos é um Estado CLÁSSICO! RS!

OREMUS!

segunda-feira, 3 de junho de 2013

BEING IS NOTHINGNESS / O SER É O NADA


(Há uma versão em português ao final do texto em inglês)

The following text is composed of fragments of the numerous obsecrations from my friend and Professor José Janilson towards authorities in the State of Acre, Brazil, to enforce what is expected in the Brazilian Constitution regarding the right to health, a right that so far has not been fully secured.
Janilson is cardiac and has fought tirelessly to keep standing, considering he needs special medication provided by the government, which not always offers the medicine, and when the medication is available, the state gives sometimes him half only.
Were it not for the charity of some doctors that now and again give him free samples of the medication, Janilson would be in much more delicate situation...
Knowing his numerous obsecrations posted on facebook (profile: José Janilson), I decided to give my contribution here on this blog, which is already accessed in 39 countries. Who knows we may well be heard, now that our country and our state do not hear us!

BEING IS NOTHINGNESS
By José Janilson
Sartre was wrong!
In his important work "Being and Nothingness", I think in French is "L'Etre et le Néant", could be corrected to something like "L'Etre est le Néant", more precisely "Being is Nothingness."
(…) Well, I do not know whom to appeal to!
Even if ordered by Justice – by virtue of Injunction – If I seek assistance from the State of Acre to provide me a medication (Pradaxa 150mg) because of my heart problem, the medication was secured only half of what had been requested. This medication serves to soften the Atrial Fibrillation and assists in the prevention of Cerebrovascular Accident (stroke), ischemia, and embolisms. And it seems that there is not much interest in solving the problem. If I go to the medication dispensing service of the Health Department of the State of Acre in search of the other half of my NOT dispensed medicine, to my surprise, disgust, and expansion of disbelief, but almost certain finding, there was not even a box of the medicine. That first half was done in November, and it's been so long that if the medicine would be ordered from Germany, which is the headquarters of the manufacturer of the medicine, probably the medication would have arrived too.
Look! Nowadays in the State of Acre, Northern Brazil, we are over 350 patients with pacemakers and other implanted electronic devices. That’s it!: we are more than 350 (THREE HUNDRED AND FIFTY) citizen-taxpayers-voters-patients with heart disease corrected by some sort of electronic device implanted in our bodies here in the State of Acre. Many of these people need various kinds of remedies. I imagine that more than 10% of this heart-diseased quota need to take this kind of medicine.
Ensuring health to the citizens is a state duty in Brazil. But, despite being a constitutional obligation, the authorities do not comply with it and prevaricate before serious problems which are easy to solve. In fact authorities do not respect what is mandated by law.
The problem is that the taxpayer-voter-patient with such a device implanted in his body – besides restrictions already imposed by the State – undergoes numerous social restrictions:
1 - should not pass the doors of shops, banks, or any establishments with public access doors with metal detectors or burglar, because such doors can affect or even deregulate the pacemaker. Imagine that you go to the "Mall of Acre", and the shopkeeper does not give any attention to you, without shutting down the system that can cause interference and/or alter his pacemaker... How would you feel? Only you would be left wandering the halls of that shed unable to enter the stores and standing in the aisles looking as “sucker” (...) through the windows. (...);
2 - these same “sucker” human beings need medication provided by the state, but they do not have access to this medication correctly. Sometimes, the state provides it (by half), other times it does not. (...);
3 - the persons who are cardiac find some difficulty walking because their movement makes them feel kinda breathless. For that reason, they almost do not go around for a walking. But if these same citizens own cars, they do not have an appropriate place to park them because the transit authority does not provide an appropriate space for these second-category citizens to have a proper place to park and get around in search of goods and services they need. (...);
How long should we wait?!! The lawmakers we elected are, in most cases, shamefully illiterate. The government representatives also seem to have no worries about this problem. No matter if they hold a degree in medicine, or not. Well, they may think, it’s not my problem! Then, let them be damned! It looks like Bertolt Brecht, writing on "Indifferent", was correct. Well, I'm tired and fed up, so I'll remember two irreverent Brazilian singers Raul Seixas referring to Silvio Brito asking to: "Stop the world that I wanna get off." I can no longer stand so much indifference and lack of commitment! "Because here on earth we will get only disgusting worms!"
I would like to express my special thanks to Cardiologist Doctor Gilberto, who provided me with some free samples of the medicine. Were it not for the charity of Doctor Gilberto, I'd be completely without medication.
PS. But there is something that makes me happy: you – powerful or make-believe authorities – well, you are not IMMORTAL. Although IMMORAL, you also will die! You also will disappear from this planet! Well, I do not believe in hell, but if there is one, may it consume you burning any existing genetic structure in you...
Therefore: BEING IS NOTHINGNESS! See, Sartre?!

(Portuguese version)
O texto a seguir é composto de fragmentos dos inúmeros apelos do amigo e Professor José Janilson às autoridades acreanas para fazer valer o que está previsto na própria Constituição Brasileira no tocante ao direito à saúde, direito esse que até agora não lhe tem sido completamente assegurado.
Janilson é cardiopata e tem lutado incessantemente para se manter em pé, haja vista necessitar de medicação especial fornecida pelo Estado, que nem sempre dispõe do medicamento e, quando o tem, só lhe cede pela metade.
Não fosse a caridade de alguns médicos, que vez ou outra lhe cedem amostras grátis da medicação, Janilson estaria em situação bem mais delicada...
Tendo conhecimento de seus inúmeros apelos publicados no facebook (perfil: José Janilson), decidi eu dar a minha contribuição aqui neste blog, que já é acessado em 39 países. Quem sabe assim possamos ser ouvidos, já que o nosso país e o nosso Estado não nos ouvem!
Vamos ao texto:

O SER É O NADA
Por José Janilson

Sartre estava errado!!!
Na sua importante obra "O Ser e o Nada", acho que em Francês é "L'Être et le Néant", poderia ser corrigido para algo como "L'Être est le Néant", mais precisamente "O Ser é o Nada".
(...) Bem, eu já não sei a quem recorrer!
Se busco assistência do Estado do Acre para me disponibilizar um remédio (Pradaxa 150mg) por conta do meu problema cardíaco, mesmo sendo ordenado através da Justiça – por força de Liminar – com as devidas instruções, o remédio foi garantido só a metade do que havia sido solicitado. Esse remédio serve para amenizar a Fibrilação Atrial e auxilia na prevenção a AVC (derrame), isquemia, e embolias. E parece que não há tanto interesse em resolver o problema. Vou ao CREME – serviço de dispensação de medicação da Secretaria de Saúde do Estado do Acre – próximo ao Hemoacre, em busca da outra metade NÃO aviada do meu remédio, e para minha surpresa, desgosto, e ampliação de descrença, mas quase certa constatação, NÃO havia sequer uma caixa do remédio. Essa primeira metade foi efetuada em novembro, e já faz tanto tempo que daria pra ter mandado buscar até da Alemanha, que é a sede do laboratório fabricante do medicamento. Já teria chegado também.
Vejam só: hoje no Acre somos mais de 350 portadores de marca-passos e outros equipamentos eletrônicos implantados (...). Isso mesmo: somos mais de 350 (TREZENTOS E CINQUENTA) cidadãos-contribuintes-eleitores-pacientes com cardiopatias corrigidas por algum tipo de aparelho eletrônico implantado no corpo aqui pelo Estado. Muitos destes seres humanos precisam tomar vários tipos de remédios. Imagino que mais de 10% deste contingente cardiopata precisa tomar esse tipo de remédio.
Garantir saúde aos cidadãos é dever do Estado. Mas, apesar de ser uma obrigação constitucional, as autoridades não cumprem e prevaricam diante de problemas sérios e fáceis de solucionar. Nem tampouco respeitam o que é mandado pela Justiça.
O problema é que o contribuinte-eleitor-paciente com um equipamento destes implantado no seu organismo, além das restrições já impostas pelo Estado, sofre inúmeras restrições sociais:
1 - não deveria passar nas portas das lojas, bancos, ou quaisquer estabelecimentos de acesso público com as portas com detectores antifurtos ou metálicos, porque as tais portas podem afetar ou até desconfigurar o marca-passo. Aí, meu, lascou-se tudo: imagine que você vai ao "shopping do Acre", e o lojista não dá a mínima atenção a você, sem desligar o sistema causador de interferência e/ou até desconfiguração no seu marca-passo, como você se sentiria? Só lhe resta perambular pelos corredores daquele galpão sem poder entrar nas lojas e ficar feito um abestado nos corredores olhando (...) através das vitrines. (...);
2 - estes mesmos seres humanos precisam de medicamento fornecido pelo Estado e não têm acesso de forma correta. Às vezes, o Estado disponibiliza (pela metade), outras vezes, não tem. (...);
3 - o sujeito que é cardiopata tem "dificulidades" para caminhar porque sua movimentação o deixa com falta de ar. Por essa razão, ele/a já quase não sai. Mas, se este mesmo cidadão possui um carro, ele/a NÃO tem um local apropriado para estacionar porque a autoridade de trânsito não contempla um espaço apropriado para este ser de segunda categoria ter um lugar adequado para estacionar e se locomover em busca dos bens e serviços que precisa. (...);
Até quando esperar?!!! Os "pra-lamentares" que temos são, na grande maioria, vergonhosamente pouco preocupados com a situação de quem já vive em situação mais difícil ainda. Os representantes do poder executivo também não parecem ter tanto interesse em resolver o problema. Não importa se tem formação superior em medicina ou não! Bom, eles devem pensar, o problema não é meu! Então, que se... !!! Parece que Bertolt Brecht, ao escrever sobre "os indiferentes", estava correto.
Bem, eu já estou cansado e de saco cheio, por isso vou me lembrar de Raul Seixas citando Silvio Brito: "Parem o mundo que eu quero descer!". Já não aguento mais tanto descaso e falta de compromisso! "Porque aqui na face da Terra só bicho escroto é o que vai ter!"
Quero expressar meu agradecimento ao Cardiologista Dr. Gilberto, que me disponibilizou umas amostras grátis com as quais eu estou me virando. Não fosse ele, eu estaria completamente sem medicação.
(...)
PS. Mas, há algo que me alegra: vocês – autoridades com poder ou de faz-de-conta – também, vocês não são IMORTAIS. Apesar de IMORAIS, vocês também morrerão! Vocês também sumirão deste planeta! Bem, eu não acredito em inferno, mas se houver um, que ele os consuma queimando toda e qualquer estrutura genética existente em vocês...
Logo: O SER É O NADA! Viu, Sartre?!


            

domingo, 19 de maio de 2013

Ética da Hipocrisia - crônica de um veneno crônico



A Barata diz que tem sete saias de filó
É mentira da barata, ela tem é uma só
Ah rá rá, oh ró ró, ela tem é uma só!
(...)
A Barata diz que tem um anel de formatura
É mentira da barata, ela tem é casca dura
Ah rá rá , hu ru ru, ela tem é casca dura
(...)
(Cantiga Popular)


Após certa celeuma acerca de escândalos de irregularidades e ingerências políticas envolvendo membros do alto escalão do governo da Vila dos Bobos, o repórter indagou do assessor de comunicação, em entrevista coletiva, que justificativas ele trazia sobre os fatos veiculados na mídia.
O assessor, cansado de adotar o glamour do estilo true lies, respondeu secamente, num rompante de indignação:
— Quer a verdade ou quer que eu minta?
O repórter foi lacônico:
— A verdade!
— Essa, infelizmente, eu não posso falar, nem na televisão nem na rádio! – respondeu o assessor, com a angústia estampada na testa. — Vão me acusar de ferir a ética institucional.

Assim é trabalhada a ética na administração de algumas de nossas instituições públicas, se é que isso pode se chamar de ética!
Ora! Se “a ética é a parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana”[1]; se também “é o conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão”[2], não é nada ético tê-la que aplicar a serviço da mentira, pois na mentira não existe ética. Se oficiosa, por prazer ou utilidade, a mentira continua sendo prejudicial, aética. Se inocente, a mentira pode ser igualmente desairosa, inconveniente, podendo levar a desvios comportamentais, a hábitos funestos. De qualquer modo, “mentir é um desserviço à formação ética”[3].
“Mentira é a afirmação contrária à verdade, é engano propositado, é também engano da alma, engano dos sentidos, falsa persuasão, juízo falso, erro, ilusão, vaidade”[4]. A ética, ao contrário, não se traveste de valores amorais, mas de virtudes, valores sólidos como a verdade e a justiça, por exemplo.
“Aristóteles dizia que as virtudes morais não são plantadas em nós pela natureza, mas são produto do hábito”[5]. Considerando isso, como há indivíduos influenciáveis, mal habituados! É exatamente este tipo que vende a honra e a dignidade por míseros centavos, cargos, status! E se for preciso, exercem a mentira como se verdade fosse e ainda invocam a ética para justificá-la.
Mas por que isso acontece? Sejamos simples: quem desvirtua a verdade que lhe seria destruidora, caso fosse revelada, não aceita a sua realidade e é incapaz de superar suas limitações. Isso é fato. Portanto, nem precisamos ir mais longe a explicações que não seriam nada éticas.
De fato, “honra, probidade, dignidade e vergonha na cara são valores há muito aposentados pelo advento do relativismo moral”[6], pois alguns valores são relativos a cada grupo de indivíduo, e desse grupo brotarão as conveniências a serem reveladas ou escondidas. Entendemos também que, “se estes valores são desprovidos de discernimento, a ética servirá somente para balizar uma visão limitada da realidade, como por exemplo, a ética dos mafiosos ou dos grupos criminosos”[7], ou mesmo dos grupos políticos que estão no poder, que, para se sustentarem, investem maciçamente em propaganda e na compra de indivíduos para mentir em nome do Estado. Os que conseguem e vivem bem com isso despojam-se da ética, da moralidade e da dignidade para manter o emprego. Como bem disse Rachel Sheherazade, repórter do SBT, “Manda quem pode, obedece quem tem o rabo preso com o governo.” Fica assim o assunto bem resumido.
A verdade é que enquanto o trabalho sério enobrece, a política malfeita envilece o homem. Se fosse esta proposição algo que pudesse ser demonstrado por meio de um processo matemático, lógico, diríamos que estamos frente a frente com um teorema incontestável. Atualmente, porém, e isso é lamentável, o que vale é a ética da mentira ou, como é o caso, na maioria das vezes, a ética de agradar os “padrinhos” e se manter no cargo.
Mas não pense o leitor que esses indivíduos que se predispõem a isso o fazem por mera necessidade financeira. Não é só isso. É bem pior! É falta de caráter mesmo. Na verdade eles também pertencem, como disse Dostoiévski (Crime e Castigo), “a essa inúmera e variada legião de indivíduos medíocres, de fracassados vulgares que não aprenderam nada a fundo, que aderem de um momento para o outro às ideias que estão na moda [ou à política que impera na situação], para logo em seguida degradarem e desacreditarem e, num abrir e fechar de olhos, ridicularizarem tudo o quanto anteriormente apoiaram, ainda que fosse da maneira mais sincera.”
Para isso, vale propagandear, florear as palavras, maquiar inaugurações, engendrar números, mas tudo com bastante objetividade e com a melhor das intenções, diga-se de passagem, intenções pessoais. Isso me faz lembrar o bom modelo de Darrell Huff, no livro Como mentir em estatísticas (1954), onde há exemplos vários de que “números podem ser usados para distorcer a realidade em vez de ajudar a compreendê-la”. “Tal arte não é nova, mas continua sendo a principal forma de transformar a mentira em verdade”[8]; que o diga Goebbels, que “soube tirar proveito da força da propaganda a fim de justificar os crimes de Hitler”[9], martelando a mentira aos quatro cantos, sob a égide nefasta de que “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. Mas quando essa verdade não se sustenta mais, de nada adianta, como de fato não adiantou, pois uma hora a casa cai (com o perdão da expressão chula), e cai em qualquer lugar, seja na Alemanha Nazista, na situação econômica dos Estados Unidos, no caos econômico e político da comunidade europeia ou na Vila dos Bobos... Ops! Vejam só! Eis aí a nossa vila em status de paridade com grandes nações! Que maravilha!
O certo, entretanto, é que a força da verdade, sem esforço ou pretensão alguma, é mais destruidora, basta ser dita e provada uma vez. Estão aí as verdades científicas de Einstein que, quando emigrou para os EUA, foi editado na Alemanha um livro intitulado “Cem cientistas contra Einstein”. Resposta do gênio: “Por que cem? Se estou errado, bastava um!”
Infelizmente, porém, a ética da mentira está em alta. Esconde-se a podridão, e borrifa-se o melhor dos perfumes para a plebe, que aplaude a realeza almiscarada como se deuses fossem. Mas um dia, essa realeza, de tanto usar os melhores aromas, esgotará todos os perfumes do mundo, revelando então o seu verdadeiro odor! E a plebe, o que fará?
Nos dias atuais, do modo que é posta, a ética não passa de um exercício de imoralidade em algumas de nossas instituições, algumas delas instituições fulanizadas e que apresentam índice de promiscuidade acurada! Além disso, alguns dirigentes têm estampado na testa o malcaratismo, a mediocridade e a inércia endêmica, tudo reforçado pela subserviência política.
Ademais, longe de constituir o retrato da verdade, propagandas nefastas têm ganhado popularidade nas mais diversas classes sociais do cenário vilabobense e, diga-se de passagem, algumas dessas classes são bem mais suscetíveis a isso, contando, desafortunadamente, com simpatizantes até mesmo entre alguns amigos nossos, cidadãos vilabobenses desorientados.
E para completar o absurdo do conjunto, o mercantilismo funcional através da política que atualmente impera nessa vila é o que ajuda a desgraçar a convivência no meio social, já que a política compra, vende, aluga e descarta, ao seu bel prazer, os indivíduos suscetíveis a esta mercantilice no barato jogo de poder!
E era justamente sobre tudo isso que se falava, outro dia, entre amigos, numa praça da vila, e acabou-se por se comparar essa briga por cargos políticos com a briga de cães por um osso descarnado em Memórias Póstumas de Brás Cubas. O diálogo era o seguinte:
— Sabe a cena dos cachorros brigando por um osso?
— Sim, sei. Você está dizendo que nós somos os cachorros?
— Não. É pior: somos o osso!
Vista a cena desta forma, isso mostra a que ponto chegou a degeneração dos valores morais vividos pela sociedade, transformando a todos em meras coisificações humanas, reduzindo-os a quase nada, a um osso descarnado.
A esse tipo de indivíduo vai aí um recado: “O homem que se vende recebe sempre mais do que vale”.
Mas toda esta história de fingir verdade, parecer ser mais inteligente e ludibriar o público, vender-se à política para não perder os cargos e outras práticas tanto mais vis, tudo isso faz lembrar uma fábula interessante, As Roupas Novas do Imperador, que, em resumo, é mais ou menos assim, para quem ainda não conhece:

Certo dia chegou à corte dois velhacos que, se fazendo passar por tecelões, espalharam o engodo de que o tecido que fabricavam era tão fino, raro e delicado que apenas as pessoas mais inteligentes e mais cultas eram capazes de vê-lo.
Ora! Não tardou que a notícia chegasse aos ouvidos do Imperador, e logo o Rei mandou convidá-los à corte.
Lançada a proposta pelos falsos tecelões e apresentadas as qualidades do fino tecido, o Rei, muito vaidoso, pediu a eles que lhe confeccionassem uma roupa com tal tecido, achando o monarca que o traje lhe seria útil, pois se tivesse uma vestimenta com aquele tecido, poderia, em dois tempos, saber quais dos seus ministros eram demasiado estúpidos e inadequados para desempenhar as suas funções.
Para começar o trabalho os tecelões receberam vários baús cheios de riquezas, como linhas de ouro, seda e outros materiais raros e exóticos, tudo exigido pelos artificiosos para a confecção das roupas.
Em seguida, guardaram todos os tesouros e ficaram em seu tear, fingindo tecer fios invisíveis, que todas as pessoas alegavam ver, para não parecerem parvas. Logo se imagina que muita gente fez papel ridículo para não passar por estúpido, principalmente o Imperador! Ele estava ansioso por ver o andamento do trabalho, mas, apesar de saber que era o homem mais esperto das redondezas, ficou um pouco preocupado com o fato de talvez não conseguir ver o tecido.
Mandou chamar o Primeiro-ministro e ordenou que ele fosse se inteirar do andamento do trabalho dos tecelões.
O Primeiro-ministro também não conseguia ver nada, mas receou que o Imperador o dispensasse se demonstrasse ser um daqueles infelizes demasiado estúpidos para apreciar o tecido. À Vossa Alteza voltou o ministro com a notícia de que era absolutamente perfeito e afirmou com honestidade que nunca tinha visto nada igual.
Impaciente e duvidoso, não tardou que o Imperador enviasse seu chanceler para inspecionar novamente o trabalho, só que o pobre homem não conseguia ver coisa alguma, mas disse que o traje era de beleza incomparável. A verdade, porém, era que também não queria perder o seu emprego.
Por fim, o Imperador não mais se conteve, reuniu os seus ministros e foram ver o progresso dos supostos alfaiates.
Os tecelões, ao ouvirem o barulho das roupas do Rei a arrastar pelo corredor, fingiram estar atarefados nos seus teares. As suas mãos andavam frenéticas, para a frente e para trás, como se trabalhassem com afinco na mais bela e fina das vestes. Mas de fato seguravam absolutamente nada!
O Imperador estancou. Parecia um pesadelo! Só ele, de toda a sua corte, era demasiado estúpido para não conseguir ver o maravilhoso tecido? Sentia a garganta seca e a voz até tremeu quando afirmou com convicção fingida: "Que lindas vestes! Vocês fizeram um trabalho magnífico!". Embora não visse nada, não ousou dizer que nada via, pois isso seria admitir na frente dos súditos que não tinha a capacidade necessária para ser Rei. Assim, o Imperador não perdeu a pose. Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho, nenhum deles querendo que achassem que eram incompetentes ou incapazes.
Os velhacos garantiram que as roupas logo estariam completas, e o Rei resolveu marcar uma grande parada na cidade para que ele exibisse as vestes especiais. Naturalmente, era de esperar que o Imperador fosse usar as roupas feitas com aquele novo tecido, de que já todo o império ouvira falar.
Na manhã do grande dia, o Imperador estava de ceroulas enquanto os tecelões o ajudavam a vestir a roupa nova. Concordou com tudo o que lhe disseram acerca do corte e das características do tecido. Depois de andar umas quantas vezes para a frente e para trás, de modo a, segundo os tecelões, poder ver como a cauda do manto lhe assentava bem, quase se convenceu que conseguia mesmo ver o traje e que estava efetivamente muito bem feito.
E foi assim que o Imperador saiu à rua, todo orgulhoso, a comandar o regimento real, vestido apenas com as suas melhores ceroulas.
Começou por reinar um silêncio de espanto por entre a multidão que enchia as ruas, mas como já todos tinham ouvido falar de que apenas as pessoas inteligentes conseguiam ver aquelas roupas, primeiro um, depois outro dos súbditos exclamaram, à medida que o Imperador ia passando: “Maravilhoso! Soberbo!” Dali a pouco, já toda a gente aplaudia e dava vivas. O Imperador não cabia em si de contente.
Contudo, quando toda a gente está a fazer muito barulho, acontece por vezes haver de repente breves momentos de silêncio. Um desses momentos deu-se quando o Imperador chegou à praça principal da cidade. No meio desse silêncio, a voz de uma criança fez-se ouvir claramente em toda a praça.
— Mas, mãe! – gritou o menino. — O Imperador está nu!
Naquele momento, a multidão caiu em si, vendo que o menino dissera a verdade e que tinham sido tão palermas quanto o Imperador. Uma após outra, as pessoas começaram a rir. Durante alguns segundos, o Imperador ainda tentou manter a pose digna da sua posição, mas depois lançou o seu manto imaginário para trás do ombro e, assim, continuou mais impassível que nunca, e os camaristas continuaram segurando a sua cauda invisível.

Sempre atual, esta fábula sobre a hipocrisia é bastante ilustrativa ao momento em que vivem os cidadãos vilabobenses.
Preferem a verdade dos outros porque têm preguiça de pensar e construir as próprias verdades.
Preferem andar nus, como o Imperador da fábula, a ter que admitir que são ignorantes.
Preferem viver como baratas a ter que admitir a verdade.
Queira Deus que uma criança “malcriada” não estrague tudo isso!
 




Wallace Rocha





           


[2] Idem.
[5] João Luiz Mauad (Administrador de empresas), em artigo A Ética da Mentira.
[6] Idem.
[7] Eros Salerno, em artigo Em Foco: A Ética Institucional.
[8] Raimundo Salles (Advogado e Diretor Comunicação de SBC) em artigo A Ética da Mentira.
[9] Idem.