sexta-feira, 26 de junho de 2015

LETÍCIA




Não sou louco, nunca fui, nem pretendo ser – embora eu mesmo às vezes tenha dúvida quanto a isso (risos!), e muito mais as pessoas que me conhecem –, mas ver nascer um filho é daqueles sentimentos tão indescritíveis que, eu acho, deve beirar a loucura. É ter ao mesmo tempo vontade de rir e de chorar, estar alegre e assustado, sereno e intranquilo. É um sentir-se completo, mas com uma parte sua fora de si.
 Eu, que como todos os seres humanos, nasci só e um dia vou morrer só, vivi parte da vida só, e que achei que estava completo com tudo que tenho, sou agora pego de surpresa (embora há muito esperada) e me digo completo quando uma parte minha não está em mim, mas ciente de que em mim viverá pra sempre, assim como eu nela e seus descendentes, pois agora é inconcebível pensar no futuro sem que essa mesma parte esteja nele. É o ciclo da vida. É assim que me vejo agora.
Nem precisariam me dizer que a vida não seria mais a mesma! Isso eu já sei... soube no exato momento que vi Letícia nascer. É tudo muito novo! É tudo muito assustador! De feto ao fato é tudo mesmo muito louco!
E eu, que tinha em mim um pouco de pedra, essa dureza do coração ou da alma, não sei, vejo agora que tudo se liquefez. Nessas ocasiões tão confusas em que os sentimentos que experimento pela primeira vez muito mais me assustam que me emocionam ao ponto do choro que, acredito, para essas horas, deveria ser especial como o momento, eu – repito – como ainda não sei chorar, prefiro sorrir, ainda que seja um sorriso, por falta de experiência, não muito acertado, de alguém que há pouco era apenas filho e de repente tornou-se pai!
Prefiro sorrir porque, se eu, que só carreguei Letícia na cabeça e no coração por esses meses, já me sinto assim, meio abobalhado, meio louco, que dirá Danielle – esposa amada e dedicada e futura mãe dos outros filhos que eu hei de ter –, que a carregou no ventre, ligada fisicamente a si! Deve estar sentindo tudo em dobro ou em triplo ou seja lá de que modo inexplicável for! Deve estar sorrindo de maneira mais transcendental, daquele jeito que só uma mãe é capaz de entender, mas não de explicar. E não adianta eu aqui querer elucidar os sentimentos de mãe, já que não sei dizer nem dos de pai, dizer de mim mesmo!
Hoje descobri que falar de amor comum – porque todos os amores agora são comuns – é fácil, mas de filho é quase impossível!
Que então LETÍCIA seja a ALEGRIA de seu nome! Que seja esse tudo indescritível que eu não conhecia e que só agora entendi que nos faltava! Se um dia vou conseguir explicar o que é ou o que será tal sentimento, não me importa! Só sei que não há no mundo ainda palavras adequadas pra dizer! 



terça-feira, 28 de outubro de 2014

Missa de sétimo dia


Para não dizer que nasci pobre – já que a vida é uma dádiva divina e, portanto, uma riqueza – vou dizer que nasci simples. Nasci simples, filho de pais simples, sem posses senão também a vida, sem instrução formal, mas com um orgulho tão grande de serem honestos e tão enorme convicção de autossuficiência que aparentava uma insana coerência. Não eram mais que idealistas. Quando eu me entendi por gente, isso me assustou, assim como até hoje se assustam os que têm a oportunidade de me conhecer, pois saí aos meus pais.
Sim, sei, tenho falhas, admito, mas cresci, estudei, procurei meu lugar ao sol, não enriqueci – nem quero – mas mudei minha condição social e nunca precisei me render ao relativismo moral que hoje impera no país e no Estado e que, infelizmente, tive o desprazer de experienciar bem de perto nessas eleições. O que era pra ser um exercício de democracia acabou se tornando um palco de imoralidades.
Durante minha criação, no pouco tempo em que meu pai esteve presente, ele fez o que pôde, e se mais não fez foi por fraqueza ou pobreza de espirito, não por falta de oportunidade. Mas nunca fez ou deixou de fazer algo por imoralidade. Minha mãe não me educou com dinheiro – não tínhamos – mas me educou com honra, e isso vale mais do que qualquer 30 moedas. Embora precisássemos, minha mãe nunca aceitou benefício de quem quer que fosse. Como ela dizia, tinha pernas, braços e saúde pra trabalhar. E trabalhou como pôde, conseguiu o emprego que sua educação lhe permitiu, mas nunca aceitou esmola de ninguém. Com essa ideologia cresci, e é essa mesma consciência social que pretendo passar aos filhos que ainda terei.
Infelizmente, o cenário que se nos apresenta hoje no país é de decadência cultural e educacional, de valores éticos e morais degenerados, em que vale tudo para se manter no poder. Os argumentos são sempre os mesmos: “Não é assistencialismo...”; “Governamos para os pobres...”; “Apoiamos as minorias...”; “A vida vai melhorar”; “Eles estão contra nós”. O reforço incansável dessas úteis mentiras é ratificado ainda mais pelo embotamento do intelecto das massas, pelo agrado do Deus de Aristófanes e pela mitificação da bondade populista. Não passam de uma legião de viciados políticos, sanguessugas, oportunistas, preguiçosos, pobres ou não, instruídos ou não, de desqualificados querendo se dar bem, mas que se igualam no mesmo vício político e constroem um hábito que degenera e causa prejuízo não só a eles, mas também a mim, à nação; mas sou eu que, sendo economicamente ativo, trabalho, produzo, tenho que pagar por isso.
A meu ver, essa colonização é uma mazela muito mais nefasta do que qualquer doença biológica, pois é ideológica e social, prostitui o indivíduo, a nação. Porém, pior do que ser um desgraçado-ignorante-colonizado é ser um educado-idiota-medíocre-prostituído que se vende e vende a família, a mulher e os filhos, o seu bem mais precioso. É todo esse tipo de gente que destrói um país.
Essa mitificação do “governo salvador dos pobres” só poderá gerar uma nação de parasitas, pois institucionalizará a hipocrisia, moldará caráteres, favorecerá o surgimento de uma nação de medíocres, cujo lema será a corrupção como norte para a sobrevivência. Poderá chegar o dia em que dirão: “Ame-nos ou morra!”
Se não me calo e assim me expresso, perdoe-me o leitor, é porque entendo que cada vez que você abdica do seu direito de protesto, dos seus direitos e deveres constitucionais como cidadão e agente público, você nega os seus valores pessoais e profissionais nos quais acredita e, assim, acaba contribuindo omissivamente para a degradação dos valores morais da sociedade na qual você está inserido. Não pretendo – não sou inocente a este ponto – salvar o mundo, mas também não me empurrem goela abaixo – também não sou tão ignorante – a verdade de vocês. Já sei construir as minhas próprias verdades que, como diria um amigo meu, “não são para todos os ouvidos”.
Enquanto escrevia esse texto, assistia a um jornal numa emissora local de João Pessoa, PB, e o repórter dizia que nove! – isso mesmo – nove pessoas haviam sido assassinadas em 24 horas na região metropolitana da capital. Conclusão? Isso não me admira nem me consterna. A propósito, consterna-me muito mais saber que no último domingo (26.10.2014), em menos de 12 horas, 196.509 (cento e noventa e seis mil e quinhentos e nove pessoas!) morreram moralmente no meu Estado, o ACRE! Plácido de Castro parece ter lutado por nada e deve estar se retorcendo no túmulo.
Mesmo correndo o risco de cair no lugar comum, devo dizer que estou sentindo vergonha alheia. Na atual conjuntura, a ignorância, a mediocridade e a arrogância podem cegar... e até matar; pois quando gritarem: "O rei está nu!", aí já vai ser tarde demais. O Acre já terá feito jus ao rótulo pelo qual é conhecido no Brasil: não vai mais existir!
          Resta-me ainda uma esperança: gostaria de estar errado!


Wallace Rocha
João Pessoa – PB, Outubro de 2014


terça-feira, 9 de setembro de 2014

Apollo 13

Apollo 13. Direção de Ron Howard. Produção de Brian Grazer. Universal, 1995. DVD.


RESENHA


Manoel Jorge da Silva Sousa
Kleison José Oliveira de Albuquerque
Francisco Wallace da Rocha Neto

O presente estudo tem como objetivo a análise do filme “Apollo 13” (1995), dirigido por Ron Howard, produzido por Brian Grazer, e distribuído pela Universal Studios.
O filme trata da história de uma das tragédias mais desestabilizadoras da história da Agência Espacial Americana (NASA), baseada no livro Lost Moon: The Perilous Voyage of Apollo 13, do piloto Jim Lovell, e é considerado.
Em 11 de abril de 1970, passado somente um ano dos primeiros passos na superfície lunar, a NASA envia ao satélite um novo grupo de astronautas na missão Apollo 13. Jim Lovell (Tom Hanks), Fred Haise (Bill Paxton) e Jack Swigert (Kevin Bacon) foram enviados em uma missão de reconhecimento e aparentemente de rotina, missão esta que seria a terceira a pousar na superfície lunar.
Porém, já no espaço, um tanque de oxigênio explode. Com o acidente, os astronautas Jim Lovell, Jack Swigert e Fred Haise não conseguem seguir para Lua e ainda correm o risco de ficar sem oxigênio e energia suficientes para voltar à Terra. A partir deste ponto a narrativa descreve as soluções encontradas pela Agência Espacial Americana (NASA) para trazer os tripulantes da nave de volta à Terra. Agora a equipe a bordo e a equipe da Agência Espacial, em terra, começam a correr contra o tempo e improvisar novo plano para resgatar a equipe.
Ainda hoje o filme é considerado um dos cinco melhores na história de conquista do espaço e outros temas, por retratar questões que transcendem a vida profissional e a vida pessoal, ajudando até mesmo nas rotinas do quotidiano, motivo pelo qual propomos esta análise.
Quanto à metodologia utilizada, os principais trechos que envolvem tensões e conflitos no longa-metragem foram selecionados e sobre essas cenas foram aplicadas as teorias do sobre planejamento estratégico, planejamento corporativo e processo decisório, observando o ambiente, as situações, os agentes envolvidos, os objetivos, as estratégias adotadas, o modelo decisório e o resultado obtido. 
Segundo Igor Ansoff (1990) (apud ALDAY, 2000), somente um número reduzido de empresas utiliza o verdadeiro Planejamento Estratégico. A maioria das organizações continua empregando as antiquadas técnicas do Planejamento a Longo Prazo, que se baseiam em extrapolação das situações passadas.
No filme em análise, nos parece que a Agência Espacial Americana não adotava um planejamento estratégico, mas sim o planejamento a longo prazo, e isto é perceptível ao vermos no filme quando foram surpreendidos por um problema técnico, e, para resolvê-lo, foi necessário improvisar a solução de forma emergencial.
A estratégia de enfrentamento do problema foi desenvolvida e posta em prática conforme o problema evoluía, e todo o improviso evidencia que a agencia não estava preparada para a emergência. Todos os procedimentos foram tomados com base nas missões anteriores, e um problema que não havia ocorrido antes e para o qual não estavam preparados inviabilizou a missão. O diferencial neste caso foi a equipe técnica, que com poucos recursos a bordo do módulo espacial, em consonância com a equipe em terra, conseguiram, através de liderança forte, trabalho de equipe e conhecimento técnico, salvar a vida dos três astronautas.   
Maxwell (2007) utiliza o exemplo da Apollo 13 para falar do trabalho em equipe. Diz que a NASA possuía três equipes de trabalho para acompanhar o vôo alternadamente, cada qual em seu turno, mas, devido a situação emergencial, as três se juntaram para pensar soluções conjuntas sobre a liderança de Gene Kranz.
No que concerne ao processo decisório, Hebert Simon (1991) (apud BALESTRIN, 2001), em seus estudos sobre tomada decisão, afirmou que “as pessoas devem considerar que os tomadores de decisão possuem habilidades limitadas para avaliar todas as possíveis alternativas de uma decisão, bem como lidar com as consequências incertas da decisão tomada...”. (SIMON, 1999, p. 94).
Este processo é claramente observado no filme, na atitude do chefe da missão. Como técnico, não conhecia a fundo todas as áreas envolvidas na missão espacial, e resolveu reunir o máximo de especialistas possível, inclusive recrutando o astronauta que ficou de fora da missão, por suspeita de rubéola, bem como todos os funcionários envolvidos com a missão, mesmo os de folga. Com base nas informações repassadas pelos especialistas, foi tomando as decisões que entendia mais apropriadas.
O retorno dos astronautas em segurança mostra que a estratégia de tomada de decisão foi a correta, pois mesmo diante do fracasso da chegada à Lua, o retorno dos tripulantes em segurança acabou representando uma vitória institucional e pessoal, na medida em que envolveu emocionalmente todos os técnicos que participaram do processo.
É óbvio que não se atinge os objetivos almejados sem preparação, estabelecimento de metas e treinamento, sem mencionar todo o acompanhamento do processo por uma equipe técnica especializada, revendo procedimentos, verificando falhas, fazendo os ajustes necessários, e cercando-se de cuidados com imprevistos. Mas mesmo dispondo dos recursos e meios necessários, nem sempre é possível prever eventuais problemas, quando isso não faz parte da cultura da empresa ou da corporação.
É notado no filme com bastante clareza todo um planejamento na preparação para o embarque nos momentos de trabalho dos astronautas nos dias que antecedem a partida, o que é essencial para se fazer um trabalho bem feito. Porém, também se percebe que deveria ter havido uma alternativa para o caso de o planejamento original não ocorrer como o esperado, provocando assim um imprevisto, o que de fato aconteceu.
A exemplo desse tipo de falha, ressaltamos um último ponto a ser considerado no que se refere questão da cultura organizacional da NASA. Para Mittelstaedt (2005), a Agência Espacial Americana não tinha uma cultura preventiva. Em sua opinião, “foi claramente uma sequência de erros provocada por uma cultura que queria provar que ‘tudo é trivial’, ‘todos os sistemas são exitosos’ e que ‘é tão seguro quanto entrar num avião’” (2005:139).
A missão da Apollo 13 já começara com imprevistos, e novos imprevistos surgiram no decorrer do encargo. Isso já demandava de toda a equipe envolvida na missão concentração e foco na resolução qualquer eventual problema. Ainda assim, isso foi desconsiderado.
Instalado o problema, Gene Kranz, diretor do voo, vendo que não conseguiria cumprir a missão, pois estava acabada, optou pela decisão inevitável de conservar a vida dos astronautas e trazê-los de volta á terra numa nave avariada.
Há que se considerar, porém, que tal decisão, em meio à situação de crise posta, era bastante perigosa. E em situações de periculosidade extremada, sempre há espaço para uma reflexão. Por mais emergentes que sejam, as ações requerem análise, estratégias e cooperação recíproca. Daí a decisão de ouvir opiniões, consultar os colaboradores, verificar e analisar alternativas e ter o bom senso de optar pelo que era menos arriscado.
Se objetivo inicial da Apollo 13 não fora alcançado, a experiência tirada a partir do feito realizado foi tão grande que faz que este tenha os seus méritos reconhecidos, pois permitiu pensar no que de fato era mais importante. No caso em questão, significou a manutenção da vida dos astronautas da missão Apollo 13.
A liderança focada em um objetivo de união, em ações sincronizadas de todos por um único bem comum, acabou por transformar um desastre em triunfo.

Fontes Consultadas
ALDAY, H. E. C. O Planejamento Estratégico dentro do Conceito de Administração Estratégica. 2000. Disponível em <http://www.paulorodrigues.pro.br/arquivos/aula_01_adm_ii_orientada.pdf> (Acesso em 02/09/2014).
BALESTRIN, A. Uma análise da contribuição de Herbert Simon às Teorias Organizacionais. 2001. Disponível em <http://www.read.ea.ufrgs.br/read28/artigos/ARTIGO02.PDF> (Acesso em 02/09/2014).
MAXWELL, John C. As 17 incontestáveis leis do trabalho em equipe. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2007.
MITTELSTAEDT, Robert E. Seu próximo erro pode ser fatal? – Os equívocos que podem destruir uma organização. São Paulo: Bookman, 2005.
SHIMIZU, Heitor. Apolo 13 vira filme: Houston, temos um problema aqui. In: Revista Super Interessante. Agosto de 1995 (Ed.095). Disponível em: <http://super.abril.com.br/cultura/apolo-13-vira-filme-houston-temos-problema-aqui-441116.shtml> (Acesso: 26/08/14).