Um amigo (sou cheio de amigos
instrutivos) me
veio perguntar se eu não tinha orgulho de ser o que eu era, de ser, segundo
ele, uma autoridade, o que me dava, como dava também a outros, ainda segundo
ele, certas prerrogativas para ajudar “os amigos” como... Ah!... deixa pra
lá... tenho até vergonha de repetir o que ele disse. Fiquei calado e pensei:
“Não vou envergonhar esse cara.” Então lhe dei um tapinha nas costas, saí e fui
embora.
Mas
agora vai aí uma resposta razoável:
Para começar, orgulho não se deve
ter de nada nessa vida. Pois somos apenas humanos, e com os padrões morais de
hoje isso já não é lá grande coisa, dadas as nossas falhas e imperfeições.
Como
se pode ter orgulho do que somos se a nossa frase predileta é (imagino que era
isso que ele esperava de mim após o elogio cheio de más intenções que fez): “Deixe que eu vou dar um jeitinho”?
Como
se pode ter orgulho de se apresentar amigo, fazer um elogio e já ir logo
pensando em tirar vantagens?
Como
se pode ter orgulho de se dizer sincero e tramar contra o seu próximo, seja em
casa, na escola ou no trabalho?
Como
se pode ter orgulho de ser o que se é e fazer uso de subterfúgios para fazer
valer a sua suposta condição de autoridade para tentar “contornar algum
imperativo legal”, por exemplo, transacionar com “um amigo” para esquivar-se de
uma multa de trânsito oferecendo ou recebendo dinheiro?
Como se pode ter orgulho de achar
que o honesto é um paspalho e o malandro é que é ”o cara”, num país onde impera
o jeitinho brasileiro e a corrupção como estilo de vida?
Enfim!
Graças a Deus eu não sou assim como ele pensa que eu deveria ser. Mas certamente
se tivesse ouvido isso, teria sido ele a se calar, despedindo-se, e ido embora.
Teria ficado envergonhado. Talvez até pensasse que eu estivesse a falar dele.
De
qualquer modo, o comentário dele me deixou outra ideia daquilo de que vale a
pena ter orgulho. E aí vão algumas pinceladas do que penso, só pra destacar alguns
exemplos:
Orgulho mesmo se deve ter quando se
é acima de tudo sério, honesto, ético.
Orgulho
mesmo se deve ter quando se tem consciência do que você é e como poderá
contribuir para melhorar o mundo, ou pelo menos a sua realidade.
Orgulho
mesmo se deve ter quando se pode ser útil para si, sem prejudicar os outros e a
sociedade em que vive, e quando lhe passarem o troco errado, ainda que seja a
ínfima quantia de R$ 0,50 (cinquenta centavos), você deve entender que tem a
obrigação moral de devolver.
Orgulho
mesmo se deve ter quando se notar, na sociedade em que vive, meio deslocado dos
valores morais que te cercam, pois há muito já vivemos o que dizia Rui
Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra;
de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas
mãos dos maus, o homem chaga a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, e a
ter vergonha de ser honesto.”
Entenderam agora porque eu nada
respondi no momento. Poupei o meu amigo de duas vergonhas.
Mas
pra finalizar, a propósito do orgulho que acabei de defender, devo dizer que
esse orgulho tem que ser comedido, para que não percamos a humildade, pois no
fim das contas, como diz minha mãezinha em sua empírica sabedoria e português
nada ortodoxo, mas que passa uma mensagem que dispensa explicações: “Somo
tudo comedor de farinha, cagamo e mijamo como todo mundo, e vamo morrer tudo do
mermo jeito, como todo mundo morre. E pronto!”
Orgulhar-se
de que, então, se não passamos de NADA?
Essa, sim, é minha mais simples lição de humildade.
Essa, sim, é minha mais simples lição de humildade.
Wallace Rocha
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