Talvez o
leitor do blog não tenha percebido, mas ultimamente tenho modificado com
bastante frequência alguns textos depois de tê-los publicado. Isso tem ocorrido
porque de vez em quando encontro erros, principalmente de acentuação e
hifenização, além do acréscimo de letras no alfabeto, tudo culpa do famigerado
acordo ortográfico que todas as criaturas, cultas e incultas, tiveram que,
abaixo de Lula, engolir.
Preocupado
que sou com os meus textos e com a crítica (RS!), acabei por aceitar a ideia
dos amigos mais próximos e também meus leitores de falar sobre isso, e me
dispus a escrever sobre as tais modificações do nobre vernáculo, modificações
essas que, em minha opinião, não fedem nem cheiram, ou melhor, cheiram muito
mal e só vieram para atrapalhar. Mas já que vieram pra valer, não temos saída,
só nos resta embarcar, ainda que o verbo não seja o mais adequado para o caso
em tela. Adotemos então o “novo português” – Nossa! – desde já e vamos nos
permitir fazer algumas brincadeiras com o que mudou, com o perdão de Camões.
Porém, por questões didáticas e intelectuais, falarei nesta nota apenas de
acentuação, porque das regras de hifenização eu nunca soube mesmo, não vai ser
agora que vou me meter a besta! Talvez este assunto fique para um próximo post,
quando eu aprender... se aprender!
Para
começar, o número de letras passa de 23
para 26, com a incorporação das
letras "k", "w" e "y" ao alfabeto. Mudança, a meu ver, muito significativa,
pois agora os pais poderão voltar a registrar os filhos, sem mais óbices, com
letras estrangeiras e nomes mais artísticos em “ingrêis” e alemão, abusando dos
"k", "w" e "y"
e demais consoantes dobradas como Hyasmyn Shéron da Silva, Ystiviwónder da
Silva e Silva, Karl Marx de Arimatéa, Robert Müller de Sá, Craudete Swellen da
Silva, Creugisllaynne Ewellynn Kétlen de Araújo, Ethelvina Kimberly do Ó e,
olha só uma sugestão melhor ainda, se é possível!: Francisco Wallace da Rocha Neto. (Que nome lindo! Meus pais me
adoram, com certeza! RS!) Ufa! Mas, a propósito, se depender do trema e dos
acentos, ainda vai ficar a dúvida, seja na regra velha ou na nova, porque haja
criatividade!
Por
aqui, contudo, nestas paragens textuais mais pé-no-chão, vamos tentar trocar em
miúdos o que sobrou da nossa acentuação. O trema desaparece em todas as
palavras, e agora, quem gosta da coisa, não vai precisar engolir linguiça com os tais dois pontinhos...
Sei, sei... talvez o gosto não seja mais o mesmo; ou aguentar qualquer coisa que seja com o trema, embora tenhamos que
continuar engolindo sapo, que este não foi contemplado pelo acordo, pobre
batráquio. Fica, porém, o trema em nomes próprios e estrangeiros como Müller. Aê! O Robert Müller acima tá
podendo!
Quanto
à acentuação, os ditongos abertos éi
e ói das palavras paroxítonas
perderam os acentos, a exemplo de Europeia, boia, Coreia, heroico, estreia,
joia, plateia, jiboia, assembleia e ideia,
que também perdeu o seu, e nós andamos a perder as nossas ideias e ideais com
coisas inúteis, olha que coincidência, palavra esta precisa como antes que veio
a calhar a esta situação. Já as oxítonas como papéis, troféu e herói mantêm o acento. Na dúvida em saber o
que são os monstros paroxítona e oxítona? Ainda não sabe? Também não
sabe separar sílabas? A velha-nova gramática e um bom dicionário ainda ajudam.
É só correr atrás, ainda dá tempo, assim vai me evitar o trabalhão de explicar
isso de novo. Se não aprendeu até agora, paciência... Meus heróis podem não ter
morrido de overdose de preciosismo lulista, mas quase perderam o acento. Só
faltava agora o Tiririca querer fazer história no ramo linguístico.
O
acento também caiu no “i” e no “u” fortes depois de ditongos, em
palavras paroxítonas. A exemplo disso podemos citar as palavras guaira e
feiura. Contudo é bom lembrar: o resto permanece igual. Quem não sabe do que eu
estou falando, é o seguinte: os hiatos saída
e saúde são exemplo disso. O “i” e o “u”, caso estejam na última sílaba e sozinhos, também mantêm os
acentos, como nos exemplos Piauí e tuiuiú. Caso a palavra seja oxítona, ou
seja, o “i” e o “u” na última sílaba forte, a exemplo de pacu e quati, também
permanecem do mesmo jeito de antes, sem acento.
O mesmo ocorre caso seja a palavra monossilábica, seja com o “i” e o “u”.
E
por falar em “i” e “u” acentuados, embora o que eu vá
dizer não tenha nada a ver com as mudanças nas regras atuais, é bom que se
registre essas duas curiosidades a seguir, para que não reste dúvida. Então lá
vai: a primeira é que os políticos,
que são eternos proparoxítonos, são imexíveis, jamais perderão os acentos, pelo menos é o que se espera,
e assim também bem que poderia se esperar que perdessem pelo menos os assentos, já que apenas trocá-los com frequência
dos seus pequenos tronos não tem resolvido os problemas da nação. Se isso
pudesse ser decretado como as mudanças na língua talvez funcionasse. Lula, cadê
você?! A segunda é que cu nunca foi
e nunca será acentuado. Acabamos de falar disso agorinha mesmo, só que com
outras palavras. Porém, como você provavelmente não olha para o “seu” – aliás
nem sabe como ele é composto – não deve ter prestado atenção no que eu disse.
Esclarecida, pois, agora a dúvida, pelo menos essa, vamos deixar de nos preocupar
com o “monossilábico” dos outros e que cada qual cuide do seu agora... Que mau
costume esse de não consultar a gramática!
E
deixando o “dos outros” de lado, mas insistindo ainda no “u”, some também o acento agudo no “u” forte nos grupos gue, gui, que, qui, de verbos como averiguar,
apaziguar, arguir, redarguir, enxaguar, quando conjugados averigue, apazigue,
argui etc. É... essa daqui não dá pra fazer brincadeira, pelo menos não me
ocorre agora.
Mas
calma, ainda não acabou a chatice, porém está quase acabando a paciência; ainda bem que esta ainda tem
acento, e bem que poderia ser assento, assim a gente poderia ficar
sentado para não cansar muito de ler este texto, que inicialmente era pra ser
um textículo, e este é com “x” mesmo, não é trocadilho não. Só não
vale acentuar melancia – tem gente
que faz – nem escrever embriaguês,
porque quem sabe que embriaguez é
assim, com “ez”, pode achar que o
autor da primeira, com “ês”, está
bêbado. Com certeza! Mas bêbado gramaticalmente.
Mas
com essa mudança, alguma coisa boa há de ter. Para compensar os que costumavam
deslocar o acento nas vogais dobradas em palavras como voo, magoo e enjoo, acabou-se o problema, caíram os
acentos, e o nosso voo ficou sem o chapeuzinho da vovozinha, e o nosso enjoo ficou menos enjoado. Hum... magoou! Do mesmo modo as palavras creem, leem, veem, preveem, mas isso já
era previsto, não?! Claro que sim, pois o bom observador já iria sacar!
Quanto
aos acentos diferenciais, não houve muita mudança. Como exemplo disso, à
palavra fôrma, para diferenciar de forma, é facultado receber ou não o
acento circunflexo. Mas some o acento diferencial em para, pela, pelo, polo e coa! Ótimo! Assim
a maioria do pessoal usuário do Facebook já pode parar de acentuar tudo oficialmente,
já que não sabem a diferença entre verbo e preposição mesmo. Ops! Ah, se fosse
só isso!...
Ia
me esquecendo: ficam os diferenciais em pôr
(verbo), para diferenciar de por
(preposição); e pôde (pretérito),
para diferenciar de pode (presente).
Mas
só pra terminar, ainda tem um detalhe: nada muda no plural de ter e vir e seus derivados. Assim: ele tem / eles têm; ele vem / eles
vêm. Mas – Ooh! – há quem pergunte: “E
ela? É do mesmo jeito?” Pelo amor de Deus, como é possível?! Não me faça
essa pergunta, porque me faz lembrar a Escolinha do Chaves, em episódio que o
professor Girafales pergunta ao Kiko: “Kiko, se eu tenho três maçãs e ganho
mais três, com quantas maçãs eu fico?” E o Kiko responde: “Não sei, professor.”
“Como não sabe?”, pergunta o mestre. E o Kiko diz: “É que eu só sei fazer conta
com banana!”
Ainda
bem que o português é mais fácil que a matemática. (RS!)
No
mais, as demais regras de acentuação permanecem as mesmas.
Que
bom, né?!
“Hasta
la vista, babies!”
Wallace Rocha
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