quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Um caso quase escatológico de falha de memória



             Quem nunca passou pela angustiante experiência de ter que se lembrar de alguma coisa ou do nome de alguém familiar e não consegue?... Ih!... “Deu um branco!” Do que eu estava falando mesmo?! Brincadeirinha! Pois bem: certamente não há quem nunca tenha passado por isso. O que quer que seja a ser lembrado parece estar à nossa frente, quase tocando a nossa língua, tentamos agarrá-lo desvairadamente como quem está em queda e não encontra um sustentáculo que possa salvar-lhe a vida, e é impossível resgatar a informação, que se esvai à sua frente como fumaça, causando-nos certa sensação de incapacidade, e aí ficamos nos perguntando como isso pode acontecer conosco, como nossa memória, até bem pouco tempo tão boa, possa ter falhado justo ali. Psicólogos chamam esse bloqueio de TOT – sigla em inglês para Tip Of the Tongue – literalmente em português “ponta da língua”.
Sabe-se que este fenômeno ocorre com qualquer tipo de pessoa, contudo é mais freqüente em pessoas mais idosas e está mais associado a substantivos, principalmente a nomes próprios. Certo é que, à medida que ficamos mais velhos, são armazenadas mais informações em nosso cérebro, e muitas vezes estas informações não estão estocadas em lugares específicos, mas em diversos pontos da nossa massa cinzenta. Assim, uma característica física de alguém ou de alguma coisa fica armazenada em um determinado local, e o nome está em outro. Então o cérebro, na tentativa de recuperar as informações durante as sinapses, pode falhar, dada a quantidade de informação a ser agrupada.
 Jerry Carvalho Borges, colunista da CH On-line, afirma que Diferentemente de outras palavras, os nomes próprios são arbitrários e nada nos dizem sobre o rosto das pessoas. No caso daqueles com quem temos relações mais próximas, há uma maior chance de reconhecimento, pois associamos os rostos com os nomes das pessoas. Há, portanto, mais possibilidades de conexões. É por isso que guardamos primeiro o nome dos melhores e dos piores alunos! O mesmo não vale para pessoas com quem temos relações mais distantes. Podemos até lembrar a letra inicial ou mesmo a sonoridade do nome, mas somos incapazes de recordar integralmente o nome da pessoa. Essa é uma das razões por que o TOT pode ser tão frustrante...” (grifo nosso)
            Pegando carona no último trecho dessa afirmação, aproveito para acrescentar alguma coisa à ciência, tirando o lado frustrante do TOT e atribuindo-lhe um pouco de irreverência, pois mesmo quando cérebro falha, ele ainda consegue fazer associações hilárias. Passarei agora a relatar o mais divertido caso de TOT de que tive conhecimento. Ele me foi narrado pelo meu amigo Felipe Russo e aconteceu com a sua avó:
           
A velhinha sentou numa cadeira na sala de espera da recepção da Unimed. Uma atendente aproximou-se e perguntou:
– Posso ajudá-la?
– Sim, minha filha. Ontem estive aqui para fazer alguns exames, e a moça me disse para retornar hoje para dar prosseguimento ao restante...
– A senhora sabe dizer o nome da atendente?
– Não me lembro bem... mas era um nome bem pequeno, poucas letras...
– A senhora não consegue lembrar?
– Não sei... acho que era OSTA...
– OSTA?! – perguntou a atendente em estado de surpresa, mas recordando de um referencial.
– É isso mesmo: OSTA! – disse a velhinha.
A atendente, toda delicada, disse-lhe então:
– Não seria ERDA?
Ao que retrucou a velhinha, já impaciente pela demora no atendimento:
– ERDA!... OSTA!... é tudo a mesma coisa! E pronto!

Essa é pra você, Felipinho. Boas risadas. Valeu!



Wallace Rocha



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