Mais uma História Brejeira!
Às voltas com o alvoroço causado, desde a última eleição, por causa do Referendo acerca do horário do Acre, recordei um conto interessante de nossa literatura, que vem bem a calhar para a proposição desta nota.
Refiro-me ao conto O Plebiscito, cujo tempo da narrativa se passa em 1890. Publicado na coletânea Histórias Brejeiras (Ediouro), é um dos mais conhecidos de Arthur Azevedo. Nele se discute a necessidade de realizar um plebiscito para validar o regime republicano. Mas o tema do conto ultrapassa a situação histórica. Trata-se, antes de tudo, do retrato caricatural de um patriarca, o Sr. Rodrigues, protagonista do conto, que representa o pai de família que quer parecer “saber tudo” mas que na realidade nada sabe. O tipo de indivíduo que não pode admitir que desconhece o significado de uma palavra e, por isso, dar azo a uma discussão interminável acerca do assunto, dando a clara impressão de que não sabe perder ou aceitar verdade da perda, como queira o leitor!
Como bem disse Tereza Freire[1], “Arthur Azevedo é um desses casos crônicos em nossa literatura. Escritor mal avaliado e pouco estudado, foi rotulado como escritor de peças de teatro e contos superficiais e digestivos”. Na verdade, porém, “o autor (...) é um dos melhores talentos de seu tempo. Seu senso de humor é invejável. Sua percepção do meio social é aguda. Com isso, os escritos atingem aquele timbre da graça inteligente e crítica. O conto O Plebiscito (...) é de uma palpitante atualidade, pela progressiva pobreza verbal que assola o país e pelo escasso horizonte léxico que abrange umas tantas e repetidas palavras (...).” E aqui, no nosso Acre, acrescentamos que similar situação envolve igualmente umas tantas e repetidas idéias e ideais de um povo que, guerreiro, aprendeu a escolher e a referendar a sua preferência, mas que ainda não teve o seu direito de escolha respeitado.
A idéia de O Plebiscito, associada à nossa celeuma do Referendo, trouxe-me às têmporas a seguinte indagação: estaria uma parcela minoritária – muito minoritária mesmo! – da sociedade acreana precisando de esclarecimentos sobre o significado de Referendo?
Ô, pessoal do PT,
Aprendam a perder,
Deixem de criancice.
Já dizia Machado de Assis
Que idéia fixa é prenúncio de loucura...
Eu digo que, em período pré-eleitoral,
Desrespeitar a vontade do “Povo do Acre”
Pode parecer burrice!
Wallace Rocha
[1] TEREZA FREIRE é historiadora, com mestrado sobre Pagu pela PUC-SP. É roteirista e diretora do documentário Caminhos do Yoga, gravado na Índia em 2003, e autora do romance Selvagem como o vento, de 2002. Na televisão, cabe destacar seu trabalho como roteirista da série de documentários da STV, Diário de Viagem, sobre turismo no Nordeste, e como apresentadora do programa Contos da Meia-noite, da TV Cultura de São Paulo. Foi contemplada com o Programa de Ação Cultural (PAC) da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, em 2006.
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