Marta Renata Freitas Alves
Manoel Jorge da Silva Sousa
Edvan da Silva Rogério
Marilena Costa Chaves
Kleison José Oliveira de Albuquerque
Francisco Wallace da Rocha Neto
This paper aims to make some reflections about the
complexity and the interaction of the Public Security with the media. To
achieve such purpose, Edgar Morin’s Theory of Complexity was used as basis of
this research in order to understand the relations of the Public Security with
the media by using of analyses of bibliographic and netnographic content as
methodological resources. The qualitative, comprehensive and explanatory
research sought to reflect about the nature of the relationship between media
and Public Security, its complexities and challenges.
Keywords: Public
Security. Media. Complexity. Interaction.
INTRODUÇÃO
A globalização e a mídia atualmente fazem parte do desenvolvimento de
qualquer comunidade. Partindo desta perspectiva, é essencial entendermos a
comunicação como um elemento basilar de qualquer sociedade, pois a mídia ocupa
hoje, também no campo da segurança pública, um papel fundamental na conjuntura contemporânea
da sociedade brasileira, pois tem sido protagonista de serviços de informação,
contribuindo muitas vezes positiva ou negativamente na complexa formação da opinião
social.
O confronto da polícia com a criminalidade, da forma exposta pela mídia,
já se encontra hoje de tal forma impregnada no coletivo inconsciente, que se
pode afirmar, sem chance de erro, que o fenômeno atravessa todas as classes e
níveis culturais, povos e civilizações, e as informações decorrentes deste
embate se consagraram como bem de consumo essencial, disponível gratuitamente a
todos em milhares de noticiosos televisivos, através da mídia impressa e
virtual e todas as demais formas pagas e gratuitas de divulgação, mais nos impressionando
por sua constante atualização, pois atualmente as ocorrências policiais são
noticiadas de forma instantânea.
Este contexto é, pois, sem
dúvida, um terreno fértil para a realização de um trabalho proativo da
imprensa, em parceria com as forças responsáveis pela manutenção da Ordem
Pública, de forma a erradicar esta realidade perversa. Mas não é isso que de
fato ocorre.
Justamente nesse campo é que se
situa essa análise, pois a informação difundida através da mídia, que despeja
um discurso midiático indutor da crença à inoperância dos dispositivos de segurança
pública e afasta-se do seu papel social que é garantir informação, acaba
seguindo outro viés, gerando sensação de insegurança; e a atividade policial
acaba sendo cada vez mais analisada de modo simplista e taxada de ineficaz, de
maneira que o confronto da polícia com a criminalidade descamba em novo
confronto: mídia e segurança pública.
Este
trabalho foi, portanto, concebido com o intuito de tecer reflexões sobre essa complexidade e a interação da
Segurança Pública com a mídia no Brasil e ainda
discutir os desafios da segurança pública de reverter, na complexidade
midiática, o descredenciamento das instituições de segurança. Para isso, utilizou-se como aporte metodológico a
Teoria da Complexidade de Edgar Morin para analisar e compreender a interação dessas
instituições. Para complementar, o presente trabalho também se valeu dos
resultados das pesquisas empreendidas por Silva (2012) e Ramos e Paiva (2007),
através da análise de conteúdo bibliográfico e netnográfico, com pesquisa de
natureza qualitativa, compreensiva e explicativa, buscando refletir a natureza das relações entre mídia e segurança pública, suas
complexidades e desafios.
COMPLEXIDADES
E DESAFIOS
Conforme observa Fraga (2001), o ato
violento não está limitado a quem o sofre, pois se estende e afeta quem o
pratica, bem como quem lhe vê os resultados. Isso nos remete ao princípio hologramático da teoria da complexidade. A
informação, difundida e obtida através da mídia, não tem gerado segurança ou
trazido a prevenção ao fenômeno da criminalidade. A atividade policial,
mantenedora da ordem pública e da paz social é cada vez mais analisada não em
seus múltiplos meandros e enfoques, mas simplificada em seu confronto com a
criminalidade, ao casuísmo do cotidiano policial, numa postura maniqueísta,
manifestada passivamente pelo indivíduo anônimo, que se sente como alvo
potencial de delinquentes empenhados em transgredir a lei.
Assim como outras áreas que envolvem as relações humanas, a mídia aqui
será tratada com a importância que lhe é peculiar. Será analisada não apenas
como veículo de informação, mas com a vontade de ter nessa ação comunicativa um
saber necessário a ações não repetitivas que podem alienar ou escravizar
aqueles que a reproduzem ou aqueles que sofrem as suas influências quando as
recebem. Assim, nosso objetivo é entender o jornalismo como uma ciência
alicerçada na sua complexidade, numa ética social que lhe dá a possibilidade
não de escravizar e ou alienar, mas que leve o leitor à episteme do jornalismo
que liberta e constrói a dicotomia de informar e formar opinião do público
ouvinte.
Entendendo a
epistemologia como o estudo do conhecimento, da teoria das ciências, e da validação
do saber científico, não se concebe o jornalismo na sua complexidade como algo
pobre, superficial e condenado à mediocridade de quem o pratica e que o afasta
desse conceito epistemológico. A notícia por sua
vez é produto dos acontecimentos sociais e do pensamento humano, portanto fruto
de uma praxe complexa e que segue a ideologia dominante. Conforme se observa,
“Toda vida, cada vida, a vida de toda a sociedade só pode ser multidimensional.
Não de maneira harmoniosa, complementar e realizada, mas no conflito, no
dilaceramento, na contradição” (MORIN, 1986: 123).
“Se a complexidade não é
a chave do mundo, mas o desafio a enfrentar, por sua vez o pensamento complexo
não é o que evita ou suprime o desafio, mas o que ajuda a revelá-lo, e às vezes
mesmo a superá-lo” (MORIN, 2006: 8). Assim, o
jornalismo deveria ser palco de inovações e obrigações de responsabilidade
sociocultural capazes de promover, na técnica, verdadeira transformação na
sociedade contemporânea, que se orienta na fluidez infinita das informações
veiculadas. Contrariamente, a maioria dos jornalistas tem uma tendência à superficialidade,
a serem limitados pela ideologia dominante e, portanto, condenados a uma
prática direcionada à mediocridade do sensacionalismo de mercado, de maneira
que o que hoje ocorre é uma prática desenfreada de transmissão e que muitas vezes
foge do seu real objetivo, que é o da informação compromissada com a
imparcialidade e com a verdade e não voltada para a espetacularização, transformando
a violência em moeda política, servindo mesmo para garantir notoriedade,
espaços no campo mediático, fontes de recursos econômicos e de poder.
A partir daí, surgem vários questionamentos quanto à
postura da imprensa diante do impacto social da matéria a ser divulgada e o
modo como será divulgada. Uma pesquisa realizada por Ramos e Paiva (2007)
mostrou que os grandes jornais do país dedicam um espaço bastante expressivo
para divulgação de matérias relacionadas à polícia, violência e criminalidade,
ou seja, esse tema é pauta diária e com um grau de relevância altíssimo nos
periódicos brasileiros de grande circulação. No entanto, o problema não está
aí. A preocupação surge quando a mídia gera ou acentua a sensação de
insegurança e violência na sociedade através de notícias sensacionalistas e
tendenciosas, que beiram o espetáculo.
A
imprensa, por sua essência, é formadora de opinião e responsável por
comportamentos e tendências sociais. Assim, ao noticiar matérias sobre
violência e criminalidade, deve fazê-lo com compromisso de informar a verdade
dos fatos, permitindo que o leitor faça sua própria análise. Porém, quando se
trata de segurança pública, violência e criminalidade, o que se observa é a
veiculação exacerbada de notícias fortemente carregadas de emoção, que direciona
a opinião de quem as recebe. Na visão de Souza (2005), a mídia, ao divulgar,
espetacularizar, sensacionalizar e banalizar os atos de violência está
amplificando a linguagem da violência e instituindo a cultura do medo. Dessa
forma, a eficiência e a eficácia da polícia no combate à violência tem sido
medida pela sociedade a partir no cenário mostrado pela mídia, já carregado de
impressões e ideologias tendenciosas do canal que o divulga.
Nesse sentido, Silva (2012), em sua pesquisa sobre
as relações da Segurança Pública e da mídia com a sociedade, apresenta
questionamentos acerca de uma manipulação e direcionamento feito pela mídia
através da veiculação das notícias ou se é a própria sociedade que chega às
suas conclusões baseada nas suas experiências de medo e insegurança. Assim, a
autora conclui que é necessário fazer uma distinção dentre o que a mídia
veicula [produção] e o que depois de veiculado circula pela sociedade
[recepção], e que retorna em forma de um terceiro sistema, o de “resposta”.
Entende-se, assim, que esse retorno abrange não só o
que foi veiculado e o que foi percebido pela sociedade, mas as diversas
conclusões geradas sobre a violência e a Segurança Pública, determinadas
conforme as vivências e a cultura das comunidades.
Não se pode
desconsiderar, portanto, que uma notícia mal transmitida, carregada de
sensacionalismo, leva a uma distorção do “real” e ao descrédito das
instituições de Segurança Pública. Por
outro lado, é na mídia que a sociedade encontra uma forma de defesa de seus
direitos, à medida que a exploração das notícias de criminalidade, além de
mostrar os equívocos das políticas de Segurança Pública, pode mobilizar as
autoridades, impulsionando uma necessidade de mudança e aprimoramento
institucional.
Assim, fica claro que transformações na
sociedade e cultura trazem impactos em diversos campos e disso resulta um
incremento de complexidade nas relações entre a instituição Segurança Pública,
especialmente organizações policiais, e a mídia, causando conflitos que,
conforme o contexto, podem ser considerados como negativos ou como indicativos
de necessidade de mudança, aperfeiçoamento e desenvolvimento, exigindo uma
maneira construtiva de lidar com novas formas de comunicação. (SILVA, N.N.,
2012, p. 17)
Hoje, para ser eficaz, a polícia tem de atuar de forma legal, dentro das
normas do estado de direito, e ainda conquistar legitimidade, legitimidade esta
ratificada pela opinião pública tendo a imprensa como aliada nesse processo.
Para Fraga (2001) o jornalista deve, portanto, cercar-se de uma noção de
equilíbrio, devendo informar o real, mas sem sensacionalizar essa realidade;
deve sim operar um trabalho proativo de imprensa, de forma a erradicar esses
desvios, pois hoje a mídia é reconhecida como fundamental na implantação e no
sucesso de políticas públicas, incluindo as de segurança, de modo que é salutar
buscar essa sintonia entre mídia e segurança.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Diante do poder inquestionável que a mídia exerce sobre a vida das
pessoas, o grande desafio do Estado é agregar a força da sociedade com todas as
suas formas de representação, a partir de seu envolvimento com as ações de
prevenção e repressão à violência e à criminalidade. É importante desconstruir
a ideia banalizada de violência e de criminalidade, exposta através da mídia
sensacionalista, cuja atitude pode ser definida também como uma forma de
violência, ou seja, uma violação do direito à privacidade e à dignidade humana.
Em oportuna reflexão, Silva (2012) ensina que se não se consegue mudar
os valores que orientam o olhar da mídia sobre os setores populares
dificilmente se conseguirá avançar em direção a uma cobertura mais equilibrada.
O autor ainda observa que é inegável o peso e a importância da mídia na
formação de consciência e de opinião do cidadão, além da sua função precípua de
informar, entreter e divulgar.
A partir desta perspectiva, é possível afirmar que a mídia pode fazer de
sua atividade algo mais conscientizador, sensibilizador aos gestores públicos e
ao público em geral, transcendendo para um jornalismo mais interpretativo do
que meramente comercial e apelativo, afinal jornalismo, assim como a segurança
pública, é prestação de serviço, sendo compensadora
a reflexão sobre o relacionamento entre a Polícia Militar com a imprensa na
promoção da paz social.
RESUMO
Este paper objetiva fazer reflexões sobre a complexidade e a interação da Segurança Pública
com a mídia. Para isso, partiu-se da Teoria da Complexidade de Edgar Morin para
entender tais relações. Utilizou-se a análise de conteúdo bibliográfico e
netnográfico como recurso metodológico. A pesquisa, de natureza qualitativa,
compreensiva e explicativa, buscou pensar a natureza das relações entre
mídia e segurança pública, suas complexidades e desafios.
Palavras-chave:
Mídia. Segurança Pública. Complexidades.
Interação.
REFERÊNCIAS
FRAGA, Luis Alves de. Reflexões sobre o mundo actual: problemas sociais contemporâneos. Porto: Campo das letras, 2001.
MORIN,
Edgar. Para sair do Século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
____________.
Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre: Sulina, 2006.
RAMOS,
Silvia e PAIVA, Anabela. Mídia e violência: novas tendências na cobertura de
criminalidade e segurança no Brasil. IUPERJ, 2007, Rio de Janeiro.
SILVA, N. N. Segurança Pública, Mídia e Sociedade: Complexidade e Interação. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.5, n.1, p.4-24, jan./dez. 2012.
SILVA,
José Maria da e SILVEIRA, Emerson Sena da. Apresentação de trabalhos
acadêmicos: normas e técnicas. 7 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
SOUZA,
Robson Sávio Reis. Mídia e violência: o papel da imprensa na segurança pública.
em 07/11/2005 na edição 354. Artigo disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/o-papel-da-imprensa-na-seguranca-publica.
Acesso em 04.06.2014.
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