Revendo os meus registros,
encontrei este texto meio doido que ousei escrever. Estou republicando. Acho
que ele é igual à “DENGUE” da propaganda governamental, que agora parafraseio:
quem não leu pode ler; que já leu pode ler de novo! Ambas as coisas – o texto e
a propaganda – são um perigo às mentes fracas! Cuidado!
Vamos ao texto:
Revisitando os meus
arquivos sobre literatura, tive a impressão de que alguns escritores que eu
costumava ler e que eram tão presentes no meu hobby de desbravar as irrealidades tinham sido, de algum modo,
relegados, quer seja por um momento, pela crítica, pelo público, por mim e,
quem sabe, pelo mundo. E nisso percebi no meu pensamento certo saudosismo.
Resolvi então
escrever sobre eles, os relegados, dando um tom saudosista ao texto, mas
pensei: teriam mesmo sido eles esquecidos? Eram tão presentes! São ainda tão
presentes, que os revejo quase sempre! De fato a prova está aqui, esta idéia
norteando a minha escrita. Claro que, às vezes, surgem novos escritores e novas
formas de escrita interessantes, mas eu sempre retorno aos cânones, porque o
que é bom será sempre eterno. Mesmo assim, essa breve impressão me fez
descobrir, com pesar, que, se eu os esqueço momentaneamente, o mundo também
pode esquecê-los. Creio que considerações assim também devem ocorrer a outros
leitores.
Resolvi então
escrever sobre eles. Insisti. Mas como começar? Quem eram eles?
Que Haroldo Bloom tenha
empreendido esforços para eternizar os seus 100 escritores em Gênio,
Os 100 Autores Mais Criativos da História da Literatura, isso é
louvável, louvável até certo ponto. Ao mesmo tempo explico e pergunto: Primeiro
porque Bloom falou de genialidade, o que pode ter incluído, por ventura, alguns
relegados; segundo porque eu pretendo falar sobre relegados, o que poderá,
também por ventura, incluir alguns gênios. Então, de Harold Bloom para mim não
há tanta diferença. Faço dos seus os meus e os apresento a seguir. Agora as
perguntas: mas por que só 100? Por que tão poucos? De qualquer modo, estão
entre eles – alguns relegados, outros gênios, outros loucos –, Homero,
Tito Lucrécio, Virgílio, Sócrates, Platão, São Paulo, Santo Agostinho, Maomé, Geoffrey
Chaucer, William Shakespeare, Miguel de Cervantes, Michel de Montaigne, John
Milton, Dante Alighieri, Samuel Johnson, Luis Vaz de Camões, John Donne,
Alexander Pope, James Boswell, Johan Wolfgang von Goethe, Sigmund Freud, Thomas
Mann, Friedrich Nietzsche, Kierkegaard, Franz Kafka, Marcel Proust, Samuel
Beckett, Molière, Henrik Ibsen, Anton Tchekhov, Oscar Wilde, Luigi Pirandello, Jonathan
Swift, Jane Austen, Lady Murasaki, Nathaniel Hawthorne, Herman Melville,
Charlotte Bronte, Emily Bronte, Virginia Woolf, Leon Tolstói, Ralph Waldo
Emerson, Emily Dickinson, Robert Frost, Wallace Stevens, T. S. Eliot, William
Wordsworth, Percy Shelley, John Keats, Giacomo Leopardi, Lorde Alfred Tennyson,
Dante Gabriel Rossetti, Christina Rossetti, Walter Pater, Hugo von Hofmannsthal,
Victor Hugo, Gérard de Nerval, Charles Baudelaire, Arthur Rimbaud, Paul Valéry,
James Joyce, Alejo Carpentier, Octavio Paz, Stendhal, Mark Twain, William
Faulkner, Ernest Hemingway, Flannery O´Connor, Walt Whitman, Fernando Pessoa,
Hart Crane, Federico García Lorca, Luis Cernuda, George Eliot, Willa Cather,
Edith Wharton, F. Scott Fitzgerald, Iris Murdoch, Gustave Flaubert, Eça de Queirós,
Jorge Luis Borges, Italo Calvino, William Blake, D. H. Lawrence, Tennessee
Williams, Rainer Maria Rilke, Eugenio Montale, Honoré de Balzac, Lewis Carroll,
Henry James, Robert Browning, William Buttler Yeats, Charles Dickens, Fiodor
Dostoiévski, Isaac Babel, Paul Celan, Ralph Ellison e Machado
de Assis, o único autor brasileiro a constar da relação.
Lembrei-me então de Aristóteles, Sófocles, Ésquilo, Eurípedes, Giovanni
Bocaccio, Thomas Moore, Erasmo de Roterdã, François Rabelais, Guimarães Rosa, José Saramago, Adolfo Bioy Casares,
Roberto Bolaño, Julio Cortázar, Gabriel Garcia Marquez, Enrique Vila-Matas, Benito
Lynch, Paul Groussac, Robert Musil, Samuel T. Coleridge, Edgar Allan Poe, Conan
Doyle, Günter Grass, J. D. Salinger e suas razões obscuras de 57 anos de
reclusão voluntária e Robert Walser, este último, a exemplo de Kafka, um
caso intrigante de loucura e genialidade. E aqui teríamos pela frente, a perder
de vista e de escrita, uma infinidade de outros autores a citar, antigos,
clássicos e modernos, mas como isso já foi feito pelo mestre da crítica
literária universal, que se esqueceu de contemplar estes poucos e outros mais que
agora citamos, ou não os quis contemplar por critérios de estarem alguns ainda
vivos e outros que desconhecemos, usamos também os mesmos pretextos, o do
esquecimento e o do não-querer, ou outros mais, sejam eles quais forem, e ficamos
por aqui, sabendo que existem mais, e pedindo desculpas por não termos sido tão
mais abrangente, mas deixando a dica a Harold Bloom, caso ele pense em revisar Gênio...
ou, quem sabe, revisar os conceitos sobre a Teoria do Humanitismo na obra de
Machado de Assis que, em nossa opinião, Bloom deixou muito a desejar, por não
saber explicar ou por não saber entender, seja o que for, mas isso é tema para
outro texto.
Curiosamente, de
todos os autores aqui citados, de esquecidos na verdade eles nada têm, pelo
menos pra mim. Têm de gênios e de loucos todos eles um pouco, mas não de
médico, que aqui não tratamos de medicina, mas de literatura e loucura, embora
esta careça da medicina psiquiátrica, mas as duas imprescindivelmente carecem
da literatura. Um ou outro, talvez, possa ter andado aí por alguma estante, um
pouco empoeirado, mas certamente continuam todos bem vivos, vivos na memória da
cultura universal, e por muito tempo ainda vão continuar, certamente vivos e a libertar
ou a enlouquecer esse ou aquele leitor de intelecto mais suscetível, pois já
dizia Plutarco que “os livros já levaram mais de um à sabedoria e mais de um à loucura.”
Mas a idéia de
escrever sobre os relegados permanecia, e isso já me preocupava, pois estava se
tornando uma idéia fixa, e como toda idéia fixa é mesmo prenúncio de loucura...
ou genialidade (que pretensão a minha! refiro-me à loucura. RS!) –, andei e andei
até aqui, perfiz círculos e quadrados nos labirintos literários, fui para
frente e para trás, acabei meio perdido em divagações, sem norte, me encontrei
perdido em nada.
E eu, que esperava
escrever sobre os esquecidos, por não saber exatamente o que escrever ou sobre
quem escrever, afinal, pra mim são todos tão vivos, acabei por novamente
relegá-los. E para provar a máxima do Barão de Itararé, aplicada a mim mesmo: “De
onde menos se espera, daí é que não sai nada!” RS!
Restou-me apenas vasculhar
onde fosse possível achar, e acabei me deparando, santa Internet, com as palavras do Mestre GENELOHIM em seu NEO LIBER
LEGIS (dos quais eu nunca tinha ouvido falar, nem do livro nem do homem – AGORA
SIM! – pensei – pelo menos desativei um lugar comum: De onde menos se espera pode sair
alguma coisa sim! RS!), e percebi que o que estava escrito pelo Mestre traduzia
exatamente o que eu pretendia dizer ou pelo menos abarcava em uma única idéia o
meu pensamento de escrever sobre autores esquecidos, ao mesmo tempo dando ao
texto o toque saudosista que pretendia. Como dos autores, de certa maneira, pelo
menos de nome já comentei, restou-me o saudosismo.
Achando
desnecessário, portanto, continuar a escrever em cima do já escrito e bem posto
(Bloom e Genelohim, resguardadas a pouco conhecida filosofia iniciática deste e
a mundialmente renomada crítica literária daquele, ambos bem distintos em suas
diferenças), resolvi apenas citar as palavras do tal Mestre, para o deleite da
minha inabilidade ou indolência na escrita.
Fiquemos então com
essas lições. Talvez elas possam traduzir o que eu não consegui dizer.
“PALAVRAS,
PENSAMENTOS, DARÃO REMINISCÊNCIAS, NADA MAIS! (NLL, 99)
EXISTE
a História, que inscreve na memória da Humanidade os fatos que considera
relevantes.
MAS
quantos fatos, trabalhos valiosos, exemplares, realizações importantes,
desaparecem na voragem do tempo, perecendo junto com seus autores, relegados ao
anonimato e ao esquecimento!...
SIM,
existe uma memória preservada que confere continuidade e sentido à vida do
homem na Terra. Mas o número de esquecidos, de desaparecidos, é cada dia
maior...
QUE
fazer de nossas vidas? Devemos perseguir a imortalidade da obra? Ou
simplesmente viver o eterno presente, deixando que se apaguem os traços ou
vestígios de nossa passagem pelo Planeta?
SE
"na vida tudo passa", e os registros são incompletos, se estamos
praticamente fadados ao esquecimento, valerá mesmo a pena empreender uma
afanosa lide para realizar obra meritória de continuidade?”
Certamente,
contudo, haverá o tempo em que acontecerá o mesmo Com Harold Bloom, Mestre
Genelohim, com os escritores citados, comigo e com nós todos, que não passamos
de seres mortais. Quem sabe, quando não mais pudermos escrever, no futuro
outros poderão e falarão sobre alguns de nós. Seremos para eles, em algum
momento, fruto da lembrança ou do esquecimento. E assim serão eles para seus
descendentes. E tudo será apenas uma questão cronológica, já que nesse mundo
sempre há quem lembre ou esqueça, quem nasça ou morra, seja na arte ou na vida
ou nas duas, pois assim como a vida brota e fenece, o mundo – e tudo que há
nele – se refaz... em algum tempo ou em algum lugar.
E isso é tudo! Mas
não sei se me fiz entender...
Wallace Rocha
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