Sempre gostei de literatura de boa qualidade,
principalmente de livros inteligentes e polêmicos, desses que quem escreve é
excomungado e quem lê é pervertido ou possuído pelo demônio, livros que atiçam
a nossa índole a fazer coisas boas ou ruins – ou pelos menos pensá-las, nas
ruins – ou mesmo deixar-nos com alguma experiência nova após a leitura,
sentindo que o mundo dentro do nosso crânio se expandiu... enfim, algo bem por
aí. Há muito o mundo literário carecia de qualquer coisa desse tipo. E eu,
enfastiado de literatura pop e seus açucarados melodramas que vendem mais do
que banana em fim de feira para leitor de péssimo gosto, acabei, na minha incansável
avidez por leitura, por encontrar La Puta de Babilonia, um ensaio
histórico e acadêmico sobre a Igreja Católica escrito por Fernando Vallejo,
colombiano naturalizado mexicano. A obra foi apresentada na Faculdade de
Filosofia e Letras da Universdad Nacional Autónoma de México e
inicialmente foi publicada pela Editora Planeta Mexicana em 2007.
La
Puta de Babilonia (ou, em português, A Prostituta da Babilônia) é o nome que os albigenses davam à
Igreja Católica Romana, conforme o livro do Apocalipse. Para os que não são
profundos conhecedores do texto bíblico para saber de có onde estão as
referências, é só visitar os trechos 17:1 e 17:2, em que está escrito: “Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande
prostituta que está assentada sobre muitas águas; com a qual se prostituíram os
reis da terra; e os que habitam sobre a terra se embriagaram com o vinho da sua
prostituição”; o trecho 17:9, que trataria sobre Roma, fala em “(...) sete montes, sobre os quais a mulher
está assentada”; e o trecho 17:18, que expressa: “E
a mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os reis da terra”. Já
é um bom começo para a diversão! RS!
A bem da verdade, a obra está
situada na área dos estudos sobre a fé dogmática católica contemporânea dos
últimos mil e setecentos anos, abordando, nas 317 páginas sem divisão de
capítulos da versão original em língua espanhola, a postura da Igreja no
derramamento de sangue de vidas humanas e sua relação com o poder temporal.
Em La Puta de Babilonia, Vallejo
desmistifica e busca mostrar o que está por trás dos pilares dessa instituição
que ao longo de toda a obra é denominada La Puta.
Uma menção ilustrativa do conteúdo
de tal livro foi feita por José Saramago em uma entrevista. Saramago,
respondendo sobre as polêmicas nas quais estava envolvido quando do lançamento
do livro Caim em 2009, e se o lançamento de tal livro iria causar
polêmicas na Espanha, disse o seguinte: “Não,
em Espanha, não. Publicou-se lá recentemente um livro do Fernando Vallejo, La Puta
de Babilonia, que se fosse eu a escrever aquilo cá em Portugal tinham-me
dependurado num desses candeeiros da avenida. É de uma violência de denúncia e
de crítica que é um autêntico bota abaixo”.
Apesar de o livro não estar dividido
em capítulos, podem ser distinguidos, exemplificativamente, os seguintes temas:
a. Os grandes
crimes da Igreja Católica.
b. Os bispos de
Roma destruindo cópias antigas dos evangelhos no século III d.C. (pág.
54).
c. Escolha dos
vinte e sete textos para o Novo Testamento no Terceiro Concílio de
Cartago no ano de 397 (pág. 68).
d. Inexistência
de provas da existência histórica de Cristo (pág. 81).
e. Contradições
entre os evangelhos; inexatidões (págs. 89; 116).
f. Os evangelhos
apócrifos (pág. 116).
g. A
interpretação simbólica das "cretinadas bíblicas" (“cretinices
bíblicas”) (pág. 157).
h. As operações
tenebrosas do Banco do Vaticano (pág. 212).
i. Os papas dos
séculos XIX e XX.
j. Como Ratzinger chegou
ao papado calculadamente (pág. 292).
Quem estiver entusiasmado pelo
livro, que foi lançado em 2007, mas que ainda não tem tradução para o português,
pode baixar uma cópia em espanhol em alguns sites.
Apenas para atiçar um pouco mais a
curiosidade, vão aí alguns juízos do autor: em uma entrevista de divulgação do
livro, Vallejo expressou a sua opinião de que Jesus é: “Um plano forjado por Roma, centro do império e do mundo helenizado, a
partir do ano 100, reunindo traços tomados dos mitos de Átis da Frígia,
Dionísio da Grécia, Buda do Nepal, Krishna da Índia, Osíris e seu filho Horus
do Egito, Zoroastro e Mitra da Pérsia e toda uma série de deuses e
redentores do gênero humano que o precederam em séculos, e ainda em milênios, e
que o mundo mediterrâneo conheceu em razão da conquista da Pérsia e da Índia
por Alexandre Magno”. E prossegue: “Atis
morreu pela salvação da humanidade, crucificado em uma árvore, desceu ao
submundo e ressuscitou no terceiro dia. Mitra teve doze discípulos; pronunciou
um Sermão da Montanha, foi chamado de Bom Pastor, se sacrificou pela paz do
mundo e ressuscitou aos três dias. Buda ensinou no templo aos 12 anos, curou
enfermos, caminhou sobre a água e alimentou quinhentos homens com uma cesta de
biscoitos; seus seguidores faziam votos de pobreza e renunciavam ao mundo; foi
chamado de Senhor, Mestre, a Luz do Mundo, Deus dos Deuses, Altíssimo… Krishna
foi filho de um carpinteiro, seu nascimento foi anunciado por uma estrela no
oriente e esperado por pastores que lhe presentearam com especiarias…”
Independentemente de crença
religiosa ou qualquer coisa que o valha, só posso dizer que é leitura que vale
a pena. Afinal, cultura e conhecimento nunca são demais.
Referência:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
Um comentário:
Ótima postagem, meu amigo!!!
Só tenha cuidado para não ser excomungado pelo Papa Ratzinger. (Rsrsrsrs)
Deus te abençoe por aí com saúde a todos os teus.
Boas postagens.
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