Depois de uma semana estafante, todo
mundo só quer sombra e água fresca... afinal de contas, ninguém é de ferro. E
normalmente pra relaxar, nos fins de semana, a gente procura um barzinho ou
restaurante, em companhia dos amigos, para beber (quem bebe), pra comer (quem
come, não estando de regime), pra rir dos fatos e da vida (quem não tá de mal
com ela) e pra falar da vida alheia, que isso todo mundo faz, e faz de boca e
barriga cheias, porque, deixemos de hipocrisia, ninguém é santo. E foi numa
dessas ocasiões que eu e alguns amigos (ainda bem que são meus amigos! RS!) nos
reunimos pra botar o papo em dia.
Já no final da noite, eu já meio
cansado de falar e sonolento e enfastiado de tanto ouvir, já quase meio bêbado
de tanto beber suco, veio à baila à mesa o mesmo e sempre papo sobre sexo, este
velho assunto de que os mais libertinos todos falam e dizem que fazem bem
melhor do que na realidade fazem, e que os puritanos, embora mais recatados,
também dão suas gemidas bem desavergonhadamente; assunto esse que ressuscita
qualquer um dos mortos, que dirá do sono; e assim comecei a despertar para
dedicar um pouco mais de atenção a esse pecado delicioso, causa de eu e todos
os seres humanos e alguns não-humanos estarmos aqui.
E o papo caiu na terceira idade, menopausa,
formas alternativas medicinais de ressurreição da virilidade do homem macho
depois dos 70 etc; e eu, apesar de ainda estar beirando os quarenta, me
interessei, até porque um dia vou chegar lá, Deus queira!, talvez nos 90. E foi
justamente das façanhas de um senhor-menino de 96 anos, do município de Sena
Madureira, interior do Estado, que se veio a falar e que, para o espanto de
alguns, casara recentemente com uma garota de 16 anos e, para maior espanto
ainda de outros, acabava de ser pai. Foi o que relatou a mulher de um amigo meu
também à mesa.
̶ Como é que ele consegue,
né? – perguntou ele.
Eu, ainda acordando do transe,
disparei o disparate científico abaixo numa conversa informal:
̶ É porque o homem, diferentemente da mulher, que já vem com a quantidade
de óvulos certa desde o nascimento, produz espermatozóides até a morte!
Todos olharam pra mim como se eu
fosse um extraterrestre. O autor da pergunta só faltou lascar um “Porra,
Wallace!”, mas disse:
̶ Não! – e elevando o
antebraço em riste, como se simulasse uma ereção – Como é que ele consegue?...
– e riu em seguida.
Eu, encabulado com a minha gafe, tive
que pensar rápido:
̶ Também!... Com uma menina de 16
anos!...
Não pense o leitor que apanhei da
minha mulher. Todos olharam pra mim de novo, mas agora eu não era mais o extraterrestre,
mas o libertino comediante! E todos caíram num riso quase orgástico!
̶ É! – disse a mulher do meu amigo – Mas diz o
pessoal que o velhinho só é assim porque come muita rapadura!
E eu, filosofando em sussurro:
̶ Rapadura envelhecida dezesseis anos!
E novo riso orgástico!
E a conversa continuou a passear dos 16 aos 96
anos. E eu, que antes em papos assim costuma ansiar “Ah! meus 16 anos!”, mudei
de ideia e comecei a pensar “Quem dera pudesse eu chegar aos 96 anos!”, como
aquele velinho, quer movido a Viagra ou a rapadura que fosse... ou pelo menos
alcançar os 96... Isso certamente já seria uma vitória, e eu teria muito mais
histórias pra contar!
Wallace
Rocha
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