segunda-feira, 23 de abril de 2012

William Shakespeare – o dramaturgo maior

“Eu poderia viver recluso numa casca de noz
e me considerar o rei do espaço infinito.”[1]

É interessante a assertiva contida nesta frase do Bardo Inglês, pois hoje eu me sinto um pouco assim. Suas inúmeras lições contidas em sua vasta obra literária simplesmente nos revelam quase tudo das experiências humanas que um ser, em uma vida comum, jamais experimentaria.
“Muitos historiadores lamentam o fato de que não se saiba muito a respeito de sua vida. Sabemos apenas que nasceu em Stratford-upon-Avon [23 de abril de 1564], casou-se lá, teve filhos, foi para Londres, enriqueceu-se com o teatro e voltou à cidade natal para morrer [23 de abril de 1616] rico e reconhecido como um grande talento. Será, porém, que os fatos que nos faltam mudariam alguma coisa? Temos o fundamental, ou seja, sua obra. E nela há mais Shakespeare do que qualquer biografia.”[2] Nela há mais humanismo e humanidade do que se possa imaginar ou encontrar em qualquer que seja a manifestação artística.
O certo é que pouco se sabendo de fato a respeito da vida de Shakespeare, muito já se escreveu sobre a sua grandiosa obra literária. E por isso mesmo, diante de tão vastas possibilidades, eu não sei exatamente o que dizer, nem por onde começar. De fato nem me atrevo.
Gostaria apenas de deixar que o leitor do blog, neste 23 de abril (aniversário de 396 anos da morte do bardo), se delicie com o soneto abaixo (o meu preferido), que é apenas uma amostra dentre os 154 sonetos que Shakespeare escreveu, e que “formam, talvez, as mais belas páginas líricas da literatura inglesa.”[3]
O soneto que aí segue vai apresentado no original e na humilde tradução deste blogueiro apaixonado por literatura de boa qualidade.


Sonnet XVII
William Shakespeare

Who will believe my verse in time to come,
If it were fill'd with your most high deserts?
Though yet, heaven knows, it is but as a tomb
Which hides your life and shows not half your parts.
If I could write the beauty of your eyes
And in fresh numbers number all your graces,
The age to come would say 'This poet lies:
Such heavenly touches ne'er touch'd earthly faces.'
So should my papers yellow'd with their age
Be scorn'd like old men of less truth than tongue,
And your true rights be term'd a poet's rage
And stretched metre of an antique song:
But were some child of yours alive that time,
You should live twice; in it and in my rhyme.

Soneto XVII
Tradução: Wallace Rocha

Quem há de crer nos versos meus um dia
Se plenos fossem do teu mais puro encanto?
Mas, sabe Deus, não passam duma tumba fria
Que te escondem a vida sobre velado manto.

Se eu pudesse pintar-te a beleza dos olhos somente
E todos os teus encantos eu enumerasse,
O futuro certamente diria: “Este poeta mente,
Toques tão divinais não tocariam assim humana face.

Assim, os meus papéis, com o tempo amarelados,
Seriam escarnecidos como velhos falastrões;
Teus dons como mero furor poético seriam tomados
E relegados ao esquecimento de antigos refrões.

                Mas se um fruto teu viver ao tempo e a tanto,
                O dobro viverás: nele e no meu canto.



Wallace Rocha



Para saber mais sobre o Bardo Inglês, acesse:
e descubra o que eu não disse. RS!       


[1]  Shakespeare, Hamlet, Ato 2, Cena 2.
[2]  CEVASCO e SIQUEIRA. Rumos da Literatura Inglesa. São Paulo, Ática, 5ª Ed, 1999.
[3]  Idem.

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