quinta-feira, 12 de abril de 2012

Saindo da Caverna

Por Jokebed L. Taveira

Eis que em tempos cibernéticos, época do novo, da exaltação da novidade, ganham cada vez mais força novas adaptações à personalidade, como é o caso do caráter versátil. Funciona da seguinte maneira: o sujeito adota como seu determinado tipo de caráter, dependendo do contexto em que vive, determinadas posturas necessariamente desconexas, incoerentes, ignorando qualquer forma de ascensão de caráter, se é que isso é possível, em prol do que lhe parece vantajoso. Nasce assim o caráter virtual, cujas características são a versatilidade e a volatilidade, o egoísmo exacerbado e o autoritarismo.
Humanos pontuam seus objetivos de forma a dar sentido à própria existência. Alcançando os tais objetivos, dizemos que alcançamos a felicidade. E consequentemente tendo fracasso, sinonimicamente teremos tristeza.
Se considerarmos o processo de evolução de nossa espécie, veremos que toda a trajetória da humanidade, sua vida social, se restringe à equação vitória igual felicidade, derrota igual fracasso ou sorte versus azar. É o jogo da vida, ganhar ou perder, sempre; o empate é, também, perda.
Por outro lado, a felicidade como substantivo abstrato que é, se personifica nos mais diferentes símbolos de conquista. A cada era, a cada cultura, em cada povo e até mesmo em cada momento da vida de um indivíduo, a palavra felicidade tem um conceito específico.
Em pólo oposto, o fracasso pode ser concebido como sensação de invalidez que invade todo o corpo e dá a impressão de apunhalar a alma. O desgosto e a frustração, como uma magia macabra, reduzem todas as conquistas anteriores a meros filmes antigos em preto-e-branco, sem som e desprovidos de qualquer emoção. Nem mesmo o que chamamos de alma resiste a um cérebro repleto de tristezas, muito menos o corpo que é controlado por ele. O sistema imunológico não responde aos ataques patológicos. A impressão que se tem é que o cérebro programa o corpo para se autodestruir, ou melhor, para se deixar “morrer”. E assim muitos perdem a vontade de lutar e mudar o cenário vigente.
                  Ambições, traições, paixões, desejos, iras, mágoas, rancores são os sentimentos que representam a tristeza e a felicidade. Dependendo da situação, mas acima de qualquer coisa, são engrenagens que movem o mundo e a história da humanidade.
                    Desse modo, os conceitos de FELICIDADE e FRACASSO perseguem todos os indivíduos da espécie humana, desde o primeiro até o último suspiro. Por esta razão, esses sentimentos parecem estar acima da própria vida, presos ao famoso fio de prata, na linha tênue que separa a vida da morte. Somos apenas pó, e enquanto pó-animado o enredo de nossa história é apenas um misto de felicidades e tristezas.
                  Enquanto os animais menos evoluídos contentam-se em viver apenas se alimentando e procriando, tentando a cada dia salvar a própria pele, tudo o que querem é sobreviver, os evoluídos, não; querem mais, muito mais. Seu prazer não está na simples sobrevivência, ela não lhes basta, nem mesmo lhes seria atraente, não fosse a possibilidade de perseguir a satisfação pessoal de alguma forma. Isso talvez explique, embora não justifique, o porquê de alguns menos escrupulosos usarem pescoços como degraus para alcançarem seus objetivos.
                  Como já dissemos, a definição de felicidade vai depender do conceito atribuído, por cada indivíduo, a esse substantivo abstrato tão propalado e tão almejado. Contudo, quanto mais simples e menos vinculada a aspectos egocêntricos e materiais ela está, mais rápido se perceberá o quão maravilhoso é sair da Caverna! Quão regozijoso é caminhar em direção à luz, estando livre dos grilhões!



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