segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Perfeição!

Com a virada do ano, é comum acreditarmos naquele velho clichê: “Ano novo, vida nova!” Mas a revista da semana nas bancas, o noticiário desgostoso nosso de cada dia e os sites de notícias locais acabam fazendo a gente voltar à realidade, que já nem é mais nua e crua, pois é sempre mais do mesmo, e já nem nos assustamos mais, nem mesmo os mais ingênuos, e parecemos até estar ficando burros e cegos e perdendo a dignidade e a capacidade de se indignar.
Mas não! Isso não! E foi justamente assim que acordei hoje! Indignado! Não me perguntem por que! Só sei que acordei assim, como se toda a indignação do ano passado tivesse despertado em mim só agora, para desabar o meu “Ano novo, vida nova!” Pensam que estou brincando? Não! Eu acredito nisso a cada ano! Assim como também acredito em Papai Noel! Só não acredito em político honesto! Aí já é pedir demais!
O noticiário do mundo falou de corrupção o ano passado inteiro! O noticiário do Brasil falou de corrupção também o ano inteiro! Mas que se dane o mundo e o resto do Brasil, pois a mim interessa a minha realidade, a minha aldeia... mas (essa adversativa me persegue), ora! O noticiário do Acre também fala de corrupção, talvez não o ano inteiro, mas pelo menos uma vez por mês! E começamos o mês e o ano mal! E eu ainda e sempre tenho que ouvir: “Eu não sabia!”, “Eu não conheço!” Como bem disse: tenho que ouvir, mas não me peçam para acreditar!
Mas como sempre, isso é assunto apenas para uma semana. E assim como foi nos outros escândalos, a memória se apaga nos/as próximos/as mensalões, sacolões, alagações... Ih!.. Isso vai dar eleições! ... ou não vai dar! Pessimista, eu? Não! Realista! Quase otimista!
Mas (olha ela aí de novo! Eu acho a melhor de todas, não vou mudar) Indignado que ainda estou, me faltam palavras adequadas pra continuar. Vou apenas citar um trecho do texto “Política e corrupção: conjugação fatal?”, de Agenor Gasparetto, renomado sociólogo e editor da Via Litterarum, e depois, ficamos com o poder da ode “Perfeição”, nas palavras de Renato Russo, ao que o povo brasileiro tem de melhor - ou seja: o pior!

“Política e corrupção parecem acompanhar a saga humana na perspectiva do exercício do poder. No Brasil, em particular, parece que acompanham-na como um mal inevitável, como uma conjugação fatal. É como se a corrupção fosse parte constituinte do ser político brasileiro. No entanto, de tempos em tempos, particularmente no período que antecede disputas eleitorais, casos emergem e ganham o primeiro plano dos noticiários.  Os episódios atuais, são recorrentes, no entanto. O ingrediente novo parece ser a situação do PT neles, o partido que cresceu, se afirmou e conquistou o poder do país ancorado em discurso anticorrupção (...). O novo é estar vendo também esse partido no lamaçal da corrupção. Diante disso, pergunta-se: afinal, será que estamos diante de uma conjugação inevitável, fatal, entre exercício do poder político e corrupção? Ou ainda, onde se situa a linha tênue que separa ação publicamente defensável do poder e corrupção? (...)”

“Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escola
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Perséfone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda hipocrisia e toda afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar o coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
(a lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção
Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição...”
 Wallace Rocha

2 comentários:

Glauco Capper disse...

Gostei demais... Perfeito!!!

BRUNO disse...

FICO FELIZ QUANDO LEIO POSTS COMO ESSE.SOMOS POUCOS, MAS, SOMOS NOBRES.
PARABÉNS PELO POST.