domingo, 2 de outubro de 2011

A baunilha e a vagina!



            A etimologia, estudo da origem, composição e evolução histórica dos vocábulos, bem como das regras e explicações dos significados deles por meio da análise dos elementos que os constituem através do tempo, sempre provocou em mim certo fascínio. Um caso curioso de etimologia, porém, já me causou, mais do que qualquer outro, perturbações quase filosóficas, se é que é possível filosofar sobre essas coisas, embora não tenha tido muito êxito no intento. Se não tenho muito a dizer sobre isso, contudo, vamos fazer como fazem os etimólogos e vamos tentar reconstruir informações sobre a semelhança entre a baunilha e a vagina, para que o leitor possa conhecê-las melhor e, quem sabe, a partir de agora, lembrar de uma quando estiver saboreando a outra, mas sem confundi-las, como me narrou ter feito um amigo oculto e muito culto certa vez. Saber demais às vezes atrapalha, disse ele.
Bem... feitas as apresentações das duas indivíduas, assim mesmo, com a, comecemos a exposição. Mas por qual? Hum... pela mais gostosa, é claro!
Comecemos: a vagina... ops!, quero dizer, a baunilha – estou falando de paladar, pessoal –  é um gênero de plantas trepadeiras (estou falando da baunilha ainda, não olhe para baixo) pertencentes à família das Orquidáceas. É encontrada em zonas tropicais e congrega mais de 100 espécies conhecidas. A partir dos frutos de algumas espécies, dentre elas a mais conhecida, Vanilla planifolia, obtém-se a especiaria comercialmente conhecida como baunilha. É uma espécie típica de regiões tropicais e foi originalmente cultivada pelos povos mesoamericanos pré-colombianos.
A vagina – agora sim!, pode olhar para a esquerda (do latim vagĭna, lit. "bainha") – é um canal do órgão sexual feminino dos mamíferos, parte do aparelho reprodutor, que se estende do colo do útero à vulva. Encontra-se em qualquer lugar do mundo e, apesar de alguns homens dizerem que mulher é tudo igual, sempre há quem procure uma vagina diferente. Recebeu este nome dos antigos latinos por acharem que a sua forma se assemelhava em estrutura e profundidade a uma bainha. É bem verdade, digamos, que a vagina também "guarda a espada”, se me permitem os leitores a comparação chula.
A baunilha era completamente desconhecida no Velho Mundo antes de Colombo. Exploradores espanhóis que chegaram à costa de Veracruz, no golfo do México, no início do século XVI, conheceram essa espécie de orquídea e, por não saberem o nome da tal planta, dada a dificuldade de comunicação com os nativos, puseram-lhe o nome de vainilla porque seu fruto se parecia com a bainha de uma espada, só que diminuta.
Já a vagina... era velha conhecida do Velho Mundo... e do Novo Mundo também, mesmo antes de ter sido descoberto novo... uma devassa, cobiçadíssima a vagina!
Também o termo baunilha, a exemplo de sua companheira mais cobiçada, derivou do mesmo termo latino vagina (bainha), vagem, em referência à profunda cavidade estigmática do gênero, bem semelhante à genitália feminina. O vocábulo baunilha, portanto, já deve ter deduzido o leitor, procede da composição das palavras vaina ou vagina (bainha) + o sufixo latino illa (pequena), derivando daí vainilla ou pequena vagina ou vagem.
A palavra baunilha entrou na língua inglesa no ano de 1754, quando o botânico Philip Miller escreveu sobre o gênero no seu Dicionário do Jardineiro. Na maioria das línguas a baunilha é designada por termos foneticamente muito semelhantes: vanilla em inglês, vanille em alemão, wanilia em polonês, vanilje em sueco, vanille em francês, vaniglia em italiano e vainilla em espanhol (note-se que v e ll em espanhol são pronunciados [b] e [lh]).
No português, escreve-se e fala-se baunilha com b e lh, talvez influenciado pela pronúncia do espanhol, com leves modificações morfológicas peculiares à estruturação de cada língua.   
Já a vagina... é vagina mesmo, latim clássico, em todo lugar, e todo mundo se entende e sabe para que serve!
A baunilha é a segunda especiaria mais cara do mundo, a seguir ao açafrão, devido à quantidade de trabalho necessária à sua produção. Apesar do seu custo, é muito apreciada pela sensação fisiológica da interação do paladar e olfato (flavor), que o autor Frederic Rosengarten, Jr. descreveu em The Book of Spices como "puro, apimentado, e delicado" e pelo seu aroma floral complexo descrito com um "bouquet peculiar". É usada em bolos e sobremesas, perfumes e na aromaterapia.
Já a vagina... também pode ser muito cara, principalmente se for de luxo, mas no mercado paralelo encontra-se por preços bastante acessíveis. Só não sei se tem no MercadoLivre! Quanto ao aroma e ao gosto, há controvérsias! Sabe-se que causa sensação fisiológica prazerosa, igual ou superior à da baunilha. É usada normalmente na cama, mas há quem prefira usá-la no carro, nas praias desertas ou até mesmo no meio da rua, nos pés de cerca ou nos caixas eletrônicos do Banco do Brasil, a exemplo do episódio ocorrido no terminal urbano há alguns meses em nossa capital!
A essa altura, creio que as semelhanças ficaram mais evidentes. O leitor, diferentemente do meu amigo muito culto e oculto, certamente já deve saber diferenciar as duas indivíduas. E também deve ter descoberto que, apesar de derivarem do mesmo termo latino, nada têm a ver com cheiro ou gosto, e seu consumo necessita de lugares apropriados – caixas eletrônicos? Que é isso?! Vai entender as latentes necessidades dos outros!
E aos que ainda não estão convencidos da minha explicação, afirmo que suas semelhanças são apenas um caso curioso de etimologia e circunstâncias textuais. Pode acreditar! Pronto!  
Como descobri tudo isso? Experimentando as duas coisas, é claro!... através da leitura! (Oh, leitor de mente poluída!) Também experimentando a língua portuguesa neste texto ou textículo, se preferir o leitor mais culto. Ah! E ainda visitando a Wikipedia e outro site imoral ou de moral duvidosa que embasaram meus escritos e que cito abaixo como referência.
Até o próximo texto. RS!

Wallace Rocha


Referências:

2 comentários:

Jokebed disse...

Bem ousado, aliás, a tua cara. Mas permita-me fazer um questionamento: Por que você não postou a figura da flor de baunilha com a mesma riqueza detalhes descritivos que a da vagina? Alguns de seus leitores se interessam bem mais pela baunilha, rs.

Wallace Rocha disse...

Boa, Joke, muito boa! RS! Agora que eu percebi que o texto ficou mais direcionado para o público masculino. Da próxima vez eu escrevo algo voltado para o público feminino, tá bom? Só não sei ainda que figuras eu vou colocar! KKKKKKK!