sábado, 3 de setembro de 2011

Versões e interpretações modernas para o velho latim



              Não é a primeira vez que visito o ofício da tradução e interpretação, esta fascinante arte que há muito tempo me encanta. Sei que não tenho nela muito talento, mas arrisco, sempre que possível, algumas pinceladas pitorescas, deixando ao curioso leitor as minhas contribuições.
Desta feita, todavia, apresentarei modernas versões e interpretações, umas minhas, outras emprestadas do acaso cotidiano, centradas exclusivamente no velho latim, que insistem alguns em dizer que está morto, porém temos o direito de discordar e contra-argumentar. Morto está quem não lê, pois o latim está bem vivo, e a prova disto é esta língua que vos escrevo e também outras que conheço pouco, como o romeno, o italiano, o francês, o espanhol e o galego, todas elas belas como a nossa língua portuguesa e que não passam de transformação do clássico idioma em modernidade.   
            Para começar a brincadeira, poderíamos sugerir como tradução moderna para Ecce Homo!, palavreado com ressonâncias bíblicas e filosóficas, algo do tipo: É o Cara! Que me perdoem as escrituras... e o filósofo alemão, que a esta hora deve estar se retorcendo no túmulo. O mesmo não podemos dizer de Cristo, que ressuscitou. De todo modo, ambos, Jesus e Nietzsche, eram mesmo Os Caras!, cada qual no seu negócio!
            Continuando, que tal traduzirmos Index Librorum Prohibitorum como Só depois de casar? Acho que não ficou tão ruim não! Afinal, os religiosos viam tantos absurdos no Index quantos vêem as mães puritanas quando advertem suas filhas a respeito do ato da cópula! Portanto creio que a tradução se encaixa bem, é quase o mesmo, apenas exagero.
Bis dat qui cito dat (Dá duas vezes quem dá depressa) pode muito bem ser colocado da seguinte forma, em palavras de Bruna Surfistinha: O próximo!
            Saindo dos títulos clássicos (o que?! vai pensando que Bruna Surfistinha já não virou clássico!), passamos agora a discorrer sobre o mais conhecido acrônimo universal. Falo de I.N.R.I., que ganhou uma interpretação moderna impagável em um trecho do livro Tão Acre, de José Chalub Leite, conforme me narrou o meu amigo Kleison. Assim está escrito o texto: “um crucifixo da marca I.N.R.I.”. Veja só o leitor que coisa! Jesus Nazareno Reis dos Judeus ganhou ares de grife internacional. E de fato é isso mesmo! A imagem de cristo é hoje o ícone mais conhecido no mundo! Alguém duvida?
Deixando de lado a religião e passando à política, Jejunat satis is qui paucis vescitur escis (Bem jejua quem mal come) poderia ser muito bem traduzida como Fome Zero, sem mais comentários, pois essa é de lascar!
Beati monoculi in terra caecorum (Em terra de cegos, quem tem um olho é rei) cai como uma luva em “Cuidando dos seus olhos”, resguardadas, é claro, todas as conotações e interpretações políticas que o leitor quiser dar.
Voltando ao que eleva o homem aos céus, para Radix omnium bonorum ecclesia (A igreja é a raiz de todos os bens) não haveria melhor tradução do que Pequenas igrejas, grandes negócios, dada a avidez com que se arrecada o dízimo em alguns segmentos religiosos.
E como a escrita já está ficando enfadonha e previsível, e tendo já dado o meu recado ao leitor, entendendo que o latim ainda é inatingível para alguns – não pensem que para mim não é –, sugerimos aos que duvidam de nossas versões um Dictionarium, para o qual damos aqui, para finalizar, uma tradução bem despojada, algo como Bom pra burro. Afinal, pra que serve mesmo um dicionário, não é?! E antes que eu me esqueça, também consultei um!
Até o próximo texto. RS! 


Wallace Rocha


2 comentários:

Kleison Albuquerque disse...

Wallace
Corrige ai. Essa história do I.N.R.I. ta no livro do José Chalub Leite, "Tão Acre", que tem muitas historias legais, inclusive essa ai do crucifixo. Recomendo aos leitores do BLOG, mas somente para aqueles que ainda perdem tempo lendo.

Wallace Rocha disse...

Ao Kleison:

Valeu K. Obrigado pela correção da informação. Quando vc me contou a história, devo ter confundido a fonte. Distração minha, agora devidamente corrigida. Mais uma vez Valeu!

Aos outros leitores:

Pessoal, onde se lia antes: “Falo de I.N.R.I., que ganhou uma interpretação moderna impagável na escrita de um Boletim de Ocorrência Policial, conforme me narrou o meu amigo Kleison, que presenciou tal pérola. Assim estava escrito o texto: “Pertences do agente: um crucifixo da marca I.N.R.I.”" , leia-se "Falo de I.N.R.I., que ganhou uma interpretação moderna impagável em um trecho do livro Tão Acre, de José Chalub Leite, conforme me narrou o meu amigo Kleison. Assim está escrito o texto: “um crucifixo da marca I.N.R.I.”"

Desculpem-me todos pelo deslize! Valeu!

Fica agora a homenagem a José Chalub Leite e seu livro "Tão Acre", que recomendo a todos, inclusive a mim, que ainda não li! RS!