domingo, 6 de maio de 2012

Aqui mora gente! Consertam-se políticos! Nada se paga pra sonhar!



“O mito de que o brasileiro é ‘criativo por natureza’ é apenas isso, um mito. Em essência, o perfil autocrático da sociedade brasileira, que desestimula a iniciativa das pessoas, faz com que o brasileiro, de modo geral, tenha pouca criatividade”. A afirmação é do consultor Paulo Benetti, da empresa Inteligência Natural, que falou dos paradoxos da criatividade no CONARH 2009 - 35° Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas, promovido pela ABRH-Nacional.
Segundo Benetti, as relações sociais no Brasil são autocráticas, ou seja, espera-se que as idéias e as respostas venham sempre do chefe, do líder, do presidente. Isso inibe drasticamente a criatividade, pois não ser criativo passa a ser um fator de sobrevivência em um mundo que exige a acomodação.
Ao ler estes pequenos parágrafos, extraídos de um informativo publicado no site http://www.administradores.com.br/informe-se/informativo/criatividade-do-brasileiro-e-um-mito-avalia-consultor/23933/, fui assaltado pelas seguintes indagações: e nas comunidades onde não há a presença do poder público? E nos locais onde não há infra-estruturas sociais mínimas como ruas trafegáveis, saneamento básico, energia segura, água tratada, escolas, postos de saúde, segurança de qualidade? E nos lugares onde a população, grande parte dela desempregada, vive sem regras, à larga, como Deus criou batata, e a única relação social ou de poder que impera é a lei da sobrevivência – aliás nada mais humano... ou desumano? Não seria um espaço assim fértil em criatividade? Se a resposta for positiva, a afirmação de Benetti não deve ser aplicada ao bairro Caladinho (em nossa capital), que vive a exata realidade descrita nas minhas indagações. Por lá existe apenas o assistencialismo barato de alguns agentes públicos e as visitas ou os agrados esporádicos de indivíduos com pretensões políticas escusas que esperam pelo momento certo da cobrança: o voto! Lá não há autocracia, não há chefes, não há o que perder, não tem por que se preocupar, se acomodar ou esperar. Há apenas que sobreviver.
À parte o infortúnio da pobreza e o abandono do poder público, a comunidade do Caladinho é singular pelos seus modos e costumes, e eu arrisco dizer que seus moradores são tão criativos quanto espirituosos, a julgar pelas imaginativas placas, dentre tantas, que lá encontrei, e outras tantas que pensei e criei em minha louca cabeça:

“Aqui mora gente!”
“Consertam-se políticos!”

Em que pese aos mais exigentes analistas, aparentemente as duas frases parecem não guardar nenhuma relação entre si, mas se insistirmos melhor na observação, podemos notar o seguinte:
Se na primeira está mais do que claro o pedido de socorro, na segunda, aliás num português bem estruturado, diverso da educação que nos é dada pela nação, não temos certeza se o letreiro traduz um sentimento de revolta ou ingênua esperança. De todo modo, em ambas as placas, fica expressa a criatividade irreverente de uma comunidade cuja única escolha foi não ter escolha.
Desse ponto de vista, entendo que as mensagens geradas por essa comunidade extrapolam o caráter meramente visual das placas, transcendem as aspirações daquela gente e vão alcançar os mais suscetíveis em divagar em interpretações, como eu.
Desta ótica, creio que há criatividade sim, mas uma criatividade que atinge um aspecto social e psicológico delicado e bem perceptível por quem está mais próximo dessa realidade, a exemplo de mim, do leitor do blog e de outros tantos, que gostamos de pensar possibilidades. O mesmo não podemos dizer dos políticos, que só vivenciam essas experiências uma vez a cada dois anos. E o momento está chegando! É só prestar atenção nos projetos de infra-estrutura alardeados por toda a cidade. No Caladinho não seria diferente.
Mas esse povo relegado, como gente, como nós, tem a sua importância. Certamente, com o período de campanha eleitoral que ora se aproxima, serão tratados a pão-de-ló pelos candidatos ávidos por seus votos, pois é só assim que são percebidos como entes socialmente relevantes, considerando que “a única consciência social de político é o medo de perder voto”. E é essa condição, o sufrágio, além da morte e das necessidades fisiológicas básicas (dormir, comer, beber, urinar e defecar), que “iguala todas as criaturas num único rebanho”, pelo menos no Brasil, pátria amada querida, more a criatura no Caladinho ou na Chácara Ipê.
Vamos esperar, daqui por diante, que os moradores do Caladinho não sejam visitados apenas em época de campanha eleitoral.
Afinal... bem... Nada se paga pra sonhar!


Wallace Rocha



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