Para não dizer que nasci pobre – já
que a vida é uma dádiva divina e, portanto, uma riqueza – vou dizer que nasci
simples. Nasci simples, filho de pais simples, sem posses senão também a vida,
sem instrução formal, mas com um orgulho tão grande de serem honestos e tão
enorme convicção de autossuficiência que aparentava uma insana coerência. Não
eram mais que idealistas. Quando eu me entendi por gente, isso me assustou,
assim como até hoje se assustam os que têm a oportunidade de me conhecer, pois
saí aos meus pais.
Sim, sei, tenho falhas, admito, mas
cresci, estudei, procurei meu lugar ao sol, não enriqueci – nem quero – mas
mudei minha condição social e nunca precisei me render ao relativismo moral que
hoje impera no país e no Estado e que, infelizmente, tive o desprazer de
experienciar bem de perto nessas eleições. O que era pra ser um exercício de
democracia acabou se tornando um palco de imoralidades.
Durante minha criação, no pouco tempo
em que meu pai esteve presente, ele fez o que pôde, e se mais não fez foi por
fraqueza ou pobreza de espirito, não por falta de oportunidade. Mas nunca fez
ou deixou de fazer algo por imoralidade. Minha mãe não me educou com dinheiro –
não tínhamos – mas me educou com honra, e isso vale mais do que qualquer 30
moedas. Embora precisássemos, minha mãe nunca aceitou benefício de quem quer
que fosse. Como ela dizia, tinha pernas, braços e saúde pra trabalhar. E
trabalhou como pôde, conseguiu o emprego que sua educação lhe permitiu, mas
nunca aceitou esmola de ninguém. Com essa ideologia cresci, e é essa mesma
consciência social que pretendo passar aos filhos que ainda terei.
Infelizmente, o cenário que se nos
apresenta hoje no país é de decadência cultural e educacional, de valores
éticos e morais degenerados, em que vale tudo para se manter no poder. Os
argumentos são sempre os mesmos: “Não é assistencialismo...”; “Governamos para
os pobres...”; “Apoiamos as minorias...”; “A vida vai melhorar”; “Eles estão
contra nós”. O reforço incansável dessas úteis mentiras é ratificado ainda mais
pelo embotamento do intelecto das massas, pelo agrado do Deus de Aristófanes e
pela mitificação da bondade populista. Não passam de uma legião de viciados
políticos, sanguessugas, oportunistas, preguiçosos, pobres ou não, instruídos
ou não, de desqualificados querendo se dar bem, mas que se igualam no mesmo vício
político e constroem um hábito que degenera e causa prejuízo não só a eles, mas
também a mim, à nação; mas sou eu que, sendo economicamente ativo, trabalho,
produzo, tenho que pagar por isso.
A meu ver, essa colonização é uma
mazela muito mais nefasta do que qualquer doença biológica, pois é ideológica e
social, prostitui o indivíduo, a nação. Porém, pior do que ser um desgraçado-ignorante-colonizado
é ser um educado-idiota-medíocre-prostituído que se vende e vende a família, a
mulher e os filhos, o seu bem mais precioso. É todo esse tipo de gente que
destrói um país.
Essa mitificação do “governo salvador
dos pobres” só poderá gerar uma nação de parasitas, pois institucionalizará a hipocrisia,
moldará caráteres, favorecerá o surgimento de uma nação de medíocres, cujo lema
será a corrupção como norte para a sobrevivência. Poderá chegar o dia em que
dirão: “Ame-nos ou morra!”
Se não me calo e assim me expresso,
perdoe-me o leitor, é porque entendo que cada vez que você abdica do seu
direito de protesto, dos seus direitos e deveres constitucionais como cidadão e
agente público, você nega os seus valores pessoais e profissionais nos quais
acredita e, assim, acaba contribuindo omissivamente para a degradação dos
valores morais da sociedade na qual você está inserido. Não pretendo – não sou
inocente a este ponto – salvar o mundo, mas também não me empurrem goela abaixo
– também não sou tão ignorante – a verdade de vocês. Já sei construir as minhas
próprias verdades que, como diria um amigo meu, “não são para todos os
ouvidos”.
Enquanto escrevia esse texto, assistia
a um jornal numa emissora local de João Pessoa, PB, e o repórter dizia que
nove! – isso mesmo – nove pessoas haviam sido assassinadas em 24 horas na
região metropolitana da capital. Conclusão? Isso não me admira nem me
consterna. A propósito, consterna-me muito mais saber que no último domingo
(26.10.2014), em menos de 12 horas, 196.509 (cento e noventa e seis mil e
quinhentos e nove pessoas!) morreram moralmente no meu Estado, o ACRE! Plácido
de Castro parece ter lutado por nada e deve estar se retorcendo no túmulo.
Mesmo correndo o risco de cair no
lugar comum, devo dizer que estou sentindo vergonha alheia. Na atual
conjuntura, a ignorância, a mediocridade e a arrogância podem cegar... e até
matar; pois quando gritarem: "O rei está nu!", aí já vai ser tarde
demais. O Acre já terá feito jus ao rótulo pelo qual é conhecido no Brasil: não
vai mais existir!
Resta-me ainda uma esperança: gostaria de estar errado!
Resta-me ainda uma esperança: gostaria de estar errado!
Wallace Rocha
João Pessoa – PB, Outubro de 2014
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