Na semana passada, alguns
acontecimentos que acariciaram minha índole inquieta voltaram novamente a minha
atenção para assuntos de caráter sociais, filosóficos e piadísticos. Vou
retalhar alguns fatos.
1. O primeiro deles, social e sério, só
pra constar em poucas palavras, diz respeito à saúde de um amigo e ex-professor
meu da faculdade, que publicou inúmeros apelos no facebook às autoridades acreanas
para fazer valer o que está previsto na Constituição Brasileira no tocante ao
direito à saúde, direito esse que até agora não lhe foi completamente
assegurado. Cardiopata, ele tem lutado incessantemente para se manter em pé,
haja vista necessitar de medicação especial fornecida pelo Estado, que nem
sempre dispõe do medicamento e, quando o tem, só lhe cede pela metade. Não
fosse a esperteza do Estado, o meu amigo não precisaria passar por este
perrengue. Não fosse a caridade de alguns médicos, que vez ou outra lhe cedem
amostras grátis da medicação, ele estaria em situação bem mais delicada... O
que fazer?
2. Esses dois próximos fatos – por
serem tão desimportantes para mim como eu creio que o são para as pessoas que
igualmente pensam como eu e não se ligam em coisas de menor importância ou de
péssima qualidade – eu vou juntar num tópico só, só para economizar espaço e
não perder a piada, pois não merecem tanta atenção assim (acho que já estou
dando até atenção demais por me ocupar em escrever essas poucas linhas sobre
eles). Primeiramente, refiro-me ao futebol de qualidade duvidosa com o qual nos
agraciaram aquelas que já foram as melhores equipes do mundo: Brasil e Itália.
O que foi aquilo? Não fazem jus ao que ganham! Aliás, ganham demais pro que
fazem. Quem dera fossem esses salários os dos professores do nosso Brasil. Em
segundo lugar, não consigo entender tanta audiência ao último paredão do Big
Brother. Isso é um carnaval piorado! O que é isso, meu povo?! Que abestalhação
é essa?! Existem programas mais proveitosos! É sério! Até mesmo na televisão
brasileira. Se não há, desligue a televisão e vá procurar o que fazer! Vá ler
um livro, pronto! E por falar nisso, você já leu algum livro este ano?!
Educação e cultura não fazem mal a ninguém!...
3. Outro fato faz referência à nossa
cultural falha de caráter, também conhecido como o velho jeitinho brasileiro de
se dar bem em tudo. Há alguns dias, eu e minha esposa fomos convidados para sermos
padrinhos de uma linda menina filha de um casal de amigos. Por ocasião de uma solenidade
para preparação da cerimônia de batismo, os pais da menina nos disseram que
tínhamos que levar algo para comer no intervalo da reunião! Eles fariam o
mesmo, e os outros casais também. No dia da tal reunião, levamos um bolo e uma
bandeja descartável, e os nossos amigos levaram um bolo mais elaborado em uma
bandeja acrílica transparente. Deixamos tudo na cozinha da igreja, juntamente
com as outras guloseimas trazidas pelos outros casais de pais e padrinhos. Participaríamos
da missa. Após a missa, nos reuniríamos na cozinha para o lanche, e aí daríamos
início a “Curso de Padrinhos”. Foi então que veio a surpresa: vejam que
achado... ou perdido, como queiram!: na hora do lanche, procuramos pelos bolos
que havíamos trazido, queríamos experimentar, mas... era como se eles nunca
tivessem sido postos ali na mesa... não sabiam onde tinham ido parar... ninguém
os vira. Perguntamos então pela bandeja, não a descartável, mas a acrílica pelo
menos, utensílio dos nossos futuros compadres. Que bandeja? Esta foi a
resposta! Em meio a toda aquela gente, foi travado esse diálogo constrangedor.
Mais tarde descobriu-se que os bolos, talvez por serem os mais elaborados,
tinham sido dali retirados para serem vendidos pelos jovens do grupo de jovens à
frente da igreja enquanto assistíamos à missa dominical. Mesquinhez nossa? De
modo algum! Tudo foi feito com a melhor das intenções, é claro! E nós não
duvidados disso! De boas intenções as igrejas também estão cheias, e bem assim
estão também os corações dos jovens! Mas e a bandeja acrílica? Onde ela foi
parar? Será que a venderam também com boa intenção?
Piada? Não!... É sério! É grave! Se
me permitem a má comparação: e ainda dizem que os jovens são o futuro do
Brasil! Certamente, darão ótimos políticos! E será plenamente justificável a
nossa política, considerando o nosso caráter! Nem adianta reclamar!
Pra finalizar este texto revoltante:
É por essas e outras que é sempre válido
dizer que o mundo é dos mais espertos... – do Estado, que não cumpre o seu
dever constitucional; das emissoras de televisão, que ganham dinheiro seduzindo e fazendo
sonhar os bobos; e dos espertos mesmo, que esses se viram em qualquer situação
– ... se fosse dos mais inteligentes e retos, pouca gente ia se dar bem na
vida, e eu ia estar rico, menos de modéstia e humildade...
Tudo bem, tudo bem, desculpem-me o
desaforo, mas é que, às vezes, dá vontade de ir à forra e dizer umas verdades,
mas como diz um amigo meu, “Nem todas as verdades são para todos os ouvidos”. Pois
num país onde se dá mais valor a futebol, carnaval, Big Brother, bundas e
redações com português de péssima qualidade salpicadas de receita de miojo e
hino do Palmeiras, não se pode mesmo esperar que se dê o devido valor à saúde,
à educação, à retidão de caráter e aos princípios morais e religiosos, enfim,
às coisas de boa qualidade e que engradecem o ser humano.
Bom feriado de Semana Santa a todos!
Wallace Rocha
3 comentários:
Meu caro Wallace. Fico grato, feliz, e triste. Grato pela menção no primeiro parte do texto na qual você mostra essa preocupação social, cívica, e humanitária. Feliz por não estar sozinho nessa empreitada. Sim, nós podemos mudar esse mundo e pra melhor.
Quanto às demais é que fico triste, mas, já não me assusto com os deslizes que Pedro Álvares Cabral nos proporcionou à nossa (de)formação de caráter.
No tocante à primeira, gostaria que ficasse claro que, apesar de já ter recebido a segunda parte medicação, essa busca que faço, não é somente por mim, é por uma enorme quantidade de cidadãos desassistidos neste estado e neste país. Viver saudável é bom; viver saudável e bem é melhor ainda.
Excelente texto!!!!
Obrigado, Janilson. Nesse pequeno texto eu só fiz menção ao que ainda virá com relação à tua história. Semana que vem, eu publico o teu texto. Valeu!
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