Delegado Pimentel: Bom, gente, eu vou sair. E o escrivão Herculano aqui fica no meu lugar.
Sargento Xavier: Fica como, se eu tô aqui antes dele?!
Escrivão Herculano: Ih! Mas eu sou escrivão, e você é sargento. E eu sou no-me-a-do!
Sargento Xavier: E eu sou con-cur-sa-do!
Escrivão Herculano: E eu tenho as costa quente!
Delegado Pimentel: E eu não agüento vocês dois! Fui!
(O delegado sai, e logo depois entra aflita Maria João, secretária do prefeito)
Maria João: Sargento Xavier, pode me fazer um favor?
Escrivão Herculano: Ei! Aqui num é a casa da sogra pra fazer favor a ninguém não!
Maria João: Ãh! Quem é esse aí, Xavier?
Escrivão Herculano: Eu sou o novo escrivão! E o doutor delegado saiu e me deixou aqui pra colocar ordem no galinheiro.
Sargento Xavier: Aqui num tem galinha! Hã!... só um galo cantando fora de hora!
Maria João: E o favor é pra mulher do prefeito, Dona Minerva.
Escrivão Herculano: Erh!... Ãh!... E por que você num disse antes. Se é pra mulher do prefeito... então vá, sargento!
Sargento Xavier: Eu vou porque eu quero! Não porque cê me dar ordem.
(Saem sargento Xavier e Maria João)
Sargento Xavier: É osso! Essa delegacia tem muito cacique pra pouco índio!
Esta cena se passa no gabinete do delegado Pimentel, novela Morde e Assopra, da Rede Globo, de autoria de Walcyr Carrasco. O texto primoroso de Carrasco, muito mais do que ilustrativo das conjunturas atuais, é também auto-explicativo, e desnecessário seria tecer algum comentário. Nada mais é do que uma crítica daquilo que todo cidadão brasileiro bem esclarecido já sabe. O nobre leitor certamente captará suas precisas alusões.
Gostaria apenas de destacar o palavreado travado entre as personagens Xavier (Anderson di Rizzi) e Herculano (Márcio Tadeu de Lima), que só corroboram o que há muito tem ocorrido com uma nação bem semelhante à nossa.
A propósito, isso só me faz recordar a velha – mas sempre atual – piada em que certo cidadão recorre a um nobre deputado no intuito de pedir emprego para o filho.
A piada é mais ou menos assim:
“Um sujeito vai visitar um amigo deputado e aproveita pra lhe pedir um emprego para o filho que acaba de completar o supletivo do 1º Grau.
─ Eu tenho uma vaga de assessor, só que o salário não é muito bom...
─ Quanto doutor?
─ Pouco mais de 10 mil reais!
─ Dez mil???!!! Mas é muito dinheiro pro garoto! Ele num vai saber o que fazer com tudo isso não, doutor!!! Num tem aí uma vaguinha mais modesta?
─ Só se for pra trabalhar na Assembléia. Meio período. Mas eles estão pagando só 7 mil.
─ Ainda é muito, doutor! Isso vai acabar estragando o menino!
─ Bom... então eu tenho uma vaga de consultor. Estão pagando 5 mil reais por mês, serve?
─ Isso tudo é muito ainda, doutor! O senhor num tem um emprego que pagasse uns 1.500 ou até 2.000 reais?
─ Ter... ter até tenho! Mas aí é só por concurso público e é pra quem tem curso superior, pós-graduação, mestrado ou doutorado, bons conhecimentos em informática, domínio no mínimo da língua portuguesa e uma língua estrangeira e conhecimentos gerais. Além do mais, ele terá que comparecer ao trabalho todos os dias...”
Longe de mim modificar o processo de construção da verdade incontestável, mas acredito que essas coisas só acontecem em piadas e na novela das sete da Rede Globo. Afinal, nós vivemos num país perfeito, não é mesmo?! Ainda bem que isso não acontece no Brasil.
Wallace Rocha
4 comentários:
Eu sou con-cur-sa-da! Vai ver é exatamente por isso que eu não tenho moral!! aff!! kkkkkkkkkk
Como sempre, um bom tempêro de humor e crítica racional ao que está posto como "verdade". Gostei do tipo de assunto tratado neste texto. Acredito que há muito mais "coisas" pra vc contar de uma POLÍCIA que NÃO é a nossa... rsrsrsrsrs. Abraço!
Por enquanto, danizinha!
Certamente, Velásquez! Pena que as polícias também são perfeitas! RS!
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