Visitando o Parque de Exposições no último domingo, como fez a maioria dos rio-branquenses (ainda é assim que se escreve?), certamente por falta de opção de lazer ou algo melhor pra fazer, percebi que esta edição da feira não trouxe grandes novidades, não que eu esperasse por isso. O interessante disso é que, mesmo sabendo da mesmice, a gente ainda vai!
Mas como sou otimista e sempre tiro algum proveito das situações, ao visitar o setor de mostra de veículos recordei um episódio ocorrido numa edição anterior da Expoacre e que me foi narrado por meu amigo Edvan, ilustre cruzeirense, por ocasião de sua passagem também pelo mesmo setor de mostra de veículos. O episódio dizia respeito a uma possível modificação na sintaxe da nossa língua. Como agora virou moda bagunçar a língua portuguesa, lembrei-me do caso e, a partir de agora, vou me permitir alguns exageros. Se o Lula pode, por que eu não posso? Antes de irmos ao fato, contudo, gostaria de fazer algumas considerações.
É certo que me incomoda, ainda, como algumas pessoas maltratam a nossa língua, seja por desconhecerem o uso adequado do vernáculo ou simplesmente por usarem-no com excesso de zelo. Inquieta-me também o fato de outros conhecerem tanto o nosso idioma que, de tão rebuscados, não conseguem dar explicações acessíveis a nós, pobres mortais, e caímos naquela de Entender ou venerar, como bem escreveu Dinah Silveira de Queiróz. E há ainda os acordos ortográficos, o último deles recentemente implantado no Brasil e que, em minha opinião, só veio pra me atrapalhar, eu que já estava quase aprendendo o nosso massacrado vernáculo cotidiano.
Por esses motivos e outros que não valem a pena ser citados, atravessou minha mente uma idéia (assim mesmo, com acento, pelo menos até 2012) com ressonâncias linguísticas que só revalida a tese de que a língua é um organismo vivo, dinâmico e independente da vontade humana, o que me leva a crer que as modificações deveriam acontecer naturalmente com a variação dos costumes e da cultura no decorrer do tempo, não por acordo ou decreto. Claro! Devo admitir que posso estar errado ou que pelo menos há alguém que discorde mim, mas uma coisa é certa: existem casos de alterações linguísticas naturais que podem ter vindo para ficar e que nem foram contemplados pelo famigerado acordo, a exemplo do episódio presenciado e narrado por meu amigo Edvan.
O caso é o seguinte:
A respeito de um jipe simuladamente atolado no setor de mostra de automóveis, dois cidadãos travavam o seguinte diálogo:
— O jipe se atolou-se. – disse o primeiro deles.
— Não é se atolou-se. – replicou o segundo.
— Como não?! – treplicou o primeiro.
E o replicante explicou majestosamente, sem dizer muita coisa:
— Ou se usa próclise ou ênclise.
E o outro, em sua explicação nada ortodoxa, mas de certo modo irreverente e espirituosa, sem desmerecer o catedrático conhecimento do amigo, contra-argumentou o rigor sintático do colega de modo bem mais prático:
— Veja bem, companheiro. Eu sei exatamente o que eu disse. Se o jipe tivesse atolado apenas as rodas dianteiras, seria se atolou; se tivesse atolado somente as rodas traseiras, seria atolou-se. Como estão atoladas tanto as dianteiras como as traseiras, o certo é mesmo se atolou-se. E pronto!
E ambos gargalharam.
Sem dúvida, esta foi a melhor explicação sobre próclise e ênclise simultaneamente que eu já tive. Ademais, como sugeriu o Edvan, criou-se a partir daí uma nova terminologia que, futuramente, se permitirem os gramáticos e o “saudoso” Lula, poderia chamar-se prênclise.
Ah! Nem precisaria de acordo ortográfico ou decreto! Nem do Lula! RS!
Valeu, Edvan! Essa é pra você aí em Sampa.
Wallace Rocha