sexta-feira, 10 de junho de 2011

Mais uma História Brejeira!


Às voltas com o alvoroço causado, desde a última eleição, por causa do Referendo acerca do horário do Acre, recordei um conto interessante de nossa literatura, que vem bem a calhar para a proposição desta nota. 
Refiro-me ao conto O Plebiscito, cujo tempo da narrativa se passa em 1890. Publicado na coletânea Histórias Brejeiras (Ediouro), é um dos mais conhecidos de Arthur Azevedo. Nele se discute a necessidade de realizar um plebiscito para validar o regime republicano. Mas o tema do conto ultrapassa a situação histórica. Trata-se, antes de tudo, do retrato caricatural de um patriarca, o Sr. Rodrigues, protagonista do conto, que representa o pai de família que quer parecer “saber tudo” mas que na realidade nada sabe. O tipo de indivíduo que não pode admitir que desconhece o significado de uma palavra e, por isso, dar azo a uma discussão interminável acerca do assunto, dando a clara impressão de que não sabe perder ou aceitar verdade da perda, como queira o leitor!
Como bem disse Tereza Freire[1], “Arthur Azevedo é um desses casos crônicos em nossa literatura. Escritor mal avaliado e pouco estudado, foi rotulado como escritor de peças de teatro e contos superficiais e digestivos. Na verdade, porém, o autor (...) é um dos melhores talentos de seu tempo. Seu senso de humor é invejável. Sua percepção do meio social é aguda. Com isso, os escritos atingem aquele timbre da graça inteligente e crítica. O conto O Plebiscito (...) é de uma palpitante atualidade, pela progressiva pobreza verbal que assola o país e pelo escasso horizonte léxico que abrange umas tantas e repetidas palavras (...).” 
E aqui, no nosso Acre, acrescentamos que similar situação envolve igualmente umas tantas e repetidas idéias e ideais de um povo que, guerreiro, aprendeu a escolher e a referendar a sua preferência, mas que ainda não teve o seu direito de escolha respeitado.
A idéia de O Plebiscito, associada à nossa celeuma do Referendo, trouxe-me às têmporas a seguinte indagação: estaria uma parcela minoritária - muito minoritária mesmo! - da sociedade acreana precisando de esclarecimentos sobre o significado de Referendo?


Wallace Rocha



[1] TEREZA FREIRE é historiadora, com mestrado sobre Pagu pela PUC-SP. É roteirista e diretora do documentário Caminhos do Yoga, gravado na Índia em 2003, e autora do romance Selvagem como o vento, de 2002. Na televisão, cabe destacar seu trabalho como roteirista da série de documentários da STV, Diário de Viagem, sobre turismo no Nordeste, e como apresentadora do programa Contos da Meia-noite, da TV Cultura de São Paulo. Foi contemplada com o Programa de Ação Cultural (PAC) da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, em 2006.

3 comentários:

Michelle Sales disse...

Bom Wallace..gostei da comparação, muito inteligente! Tbm vindo do Sr. né? rsrrs.

Anônimo disse...

Algumas pessoas tinham que ler esse post, né! Se bem que não ia adiantar mt não, elas não entenderiam!

Anônimo disse...

Obrigado, anônimo, por ter percebido a intenção. RS! (Wallace)