Não sou louco, nunca fui, nem pretendo ser – embora eu mesmo às
vezes tenha dúvida quanto a isso (risos!), e muito mais as pessoas que me
conhecem –, mas ver nascer um filho é daqueles sentimentos tão indescritíveis
que, eu acho, deve beirar a loucura. É ter ao mesmo tempo vontade de rir e de
chorar, estar alegre e assustado, sereno e intranquilo. É um sentir-se
completo, mas com uma parte sua fora de si.
Eu, que como todos os seres
humanos, nasci só e um dia vou morrer só, vivi parte da vida só, e que achei
que estava completo com tudo que tenho, sou agora pego de surpresa (embora há
muito esperada) e me digo completo quando uma parte minha não está em mim, mas ciente
de que em mim viverá pra sempre, assim como eu nela e seus descendentes, pois
agora é inconcebível pensar no futuro sem que essa mesma parte esteja nele. É o
ciclo da vida. É assim que me vejo agora.
Nem precisariam me dizer que a vida não seria mais a mesma! Isso
eu já sei... soube no exato momento que vi Letícia nascer. É tudo muito novo! É
tudo muito assustador! De feto ao fato é tudo mesmo muito louco!
E eu, que tinha em mim um pouco de pedra, essa dureza do coração
ou da alma, não sei, vejo agora que tudo se liquefez. Nessas ocasiões tão
confusas em que os sentimentos que experimento pela primeira vez muito mais me
assustam que me emocionam ao ponto do choro que, acredito, para essas horas,
deveria ser especial como o momento, eu – repito – como ainda não sei chorar, prefiro
sorrir, ainda que seja um sorriso, por falta de experiência, não muito
acertado, de alguém que há pouco era apenas filho e de repente tornou-se pai!
Prefiro sorrir porque, se eu, que só carreguei Letícia na cabeça e
no coração por esses meses, já me sinto assim, meio abobalhado, meio louco, que
dirá Danielle – esposa amada e dedicada e futura mãe dos outros filhos que eu
hei de ter –, que a carregou no ventre, ligada fisicamente a si! Deve estar
sentindo tudo em dobro ou em triplo ou seja lá de que modo inexplicável for!
Deve estar sorrindo de maneira mais transcendental, daquele jeito que só uma
mãe é capaz de entender, mas não de explicar. E não adianta eu aqui querer elucidar
os sentimentos de mãe, já que não sei dizer nem dos de pai, dizer de mim mesmo!
Hoje descobri que falar de amor comum – porque todos os amores
agora são comuns – é fácil, mas de filho é quase impossível!
Que então LETÍCIA seja a ALEGRIA de seu nome! Que seja esse tudo indescritível
que eu não conhecia e que só agora entendi que nos faltava! Se um dia vou
conseguir explicar o que é ou o que será tal sentimento, não me importa! Só sei
que não há no mundo ainda palavras adequadas pra dizer!