sexta-feira, 24 de junho de 2011

Que coisa!




Revendo esta peça publicitária sobre o uso de preservativos veiculada no Carnaval deste ano no blog usedisco.blogspot.com, ocorreu-me – além da sugestão óbvia, diga-se de passagem muito boa (RS!) –, outra idéia tão boa quanto, porém bastante inquietante! Mas já podem os leitores de mentes mais imaginativas irem logo tirando o seu cavalinho da chuva, que este blogueiro, pelo menos por enquanto, não pretende falar sobre o “coisar” que vocês estão pensando. Todavia, tentarei seduzi-los... seduzi-los só com este texto, que fique bem claro (RS!).
Já falei aqui em minha segunda postagem, com palavras emprestadas de Tereza Freire, da “(...)progressiva pobreza verbal que assola o país e do escasso horizonte léxico que abrange umas tantas e repetidas palavras (...).” Pois bem, retomo o assunto e passo a discorrer sobre ele.
Vasculhando a Internet, encontrei no site Metamorfose Digital a assombrosa assertiva: “Em 20 anos caiu para mais da metade o número de palavras empregadas pelos jovens para comunicar-se e não são poucos os perigos que encerra esta preocupante realidade. Enquanto na década de 80 o vocabulário de um adolescente era composto por umas mil palavras, na atualidade mal chega a 350 e tudo leva a prever que o processo de deterioração continuará se agravando.” (Para saber mais sobre o assunto, leia a seguinte matéria: Cada vez é mais reduzido o vocabulário dos adolescentes: http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=2511#ixzz1Q6DC6j35).
Em outro artigo, publicado no site desciclopedia.org e seu desdobramento descionário, a sua fonte de ignorância linguística, encontrei outra frase ao mesmo tempo gracejada e preocupante: segundo o site, coisar é considerado o verbo universal da língua portuguesa. (...) Funciona como quebra-galho para quando você quer expressar uma ação mas não consegue por não ter lido livros suficientes na infância.”
O descionário ainda relata que apesar de não constar oficialmente na relação de vocábulos da Língua Portuguesa, o verbo é muito usado nas variantes da Língua pelo Brasil. Pode-se notar o "coisar" e também o substantivo "coisa" em 50% das palavras pronunciadas pelas pessoas. Especialistas alertam que se não for feito nada em relação à educação brasileira, toda a língua portuguesa se resumirá na palavra "coisa" e suas derivadas.
Coisei aqui com os meus botões e tive a seguinte impressão: QUE COISA! Exagero?! Hum... Talvez não.
Vejamos um exemplo prático, extraído da música Marcianos Invadem a Terra, da Legião Urbana:

“Cuidado com a coisa coisando por aí
A coisa coisa sempre e também coisa por aqui
Seqüestra o seu resgate, envenena a sua atenção
É verbo e substantivo/adjetivo e palavrão”

Claro que no trecho acima o autor fez uma crítica criativa e bem humorada da situação, mas me preocupam aqueles que ainda não têm um domínio linguístico acurado, seja por escassez vocabular ou por imaturidade de não terem ainda percebido a importância da leitura, e acabam utilizando o termo “coisar” e suas derivações, além de outros arranjos linguísticos não menos nocivos à boa estruturação da linguagem humana, para expressar ou tentar expressar idéias mais complexas. Temos que admitir que nem sempre irá funcionar. Pois para bem explorar o fantástico universo da linguagem, precisamos mais, muito mais do que “coisar”. Precisamos conhecer a língua. Precisamos dominar a linguagem. Antes, porém, precisamos ler.
Paulo Freire dizia que a leitura do mundo precede a leitura da escrita. Este humilde blogueiro acrescenta que a leitura da escrita é imprescindível para a compreensão do mundo, da complexa realidade que nos cerca, da história da humanidade. Sigamos então os dois conselhos.
Tirando de tudo isso algum ensino, convido os leitores do blog, inclusive os que não leram livros suficientes na infância (RS!), para visitarem a Feira do Sebo da FGB, na Praça Povos da Floresta, no centro da cidade.
A feira é promovida pela Fundação Municipal de Cultura Garibaldi Brasil, todos os sábados, das 17h às 20h.  Pode-se comprar, vender e trocar livros e revistas, a preços que variam de R$ 1,00 a R$ 10,00. Vale a pena conferir algumas relíquias. Afinal, a leitura estimula a capacidade de raciocínio e de discernimento.
Então, vamos coisar (ler) mais!
Ah! Antes que eu me esqueça: da próxima vez, quem sabe, eu escrevo sobre o outro “coisar” (RS!).
Até a próxima.







Wallace Rocha

sábado, 18 de junho de 2011

A origem da palavra “sincero” e o negócio de lavagem de moto com cera na Baixa da Colina


Outro dia, ao passar por uma rua no bairro Baixa da Colina, avistei um anúncio que me atiçou a curiosidade. À saída dessa rua estava uma pequena placa com os dizeres: LAVA-SE MOTO COM CERA – R$ 5,00.
No primeiro momento, devo admitir, o que mais me chamou a atenção foi o preço, aliás, barato do serviço, mas como não tenho moto nem sei pilotar, direcionei meu raciocínio para outras abstrações, especificamente para a expressão “com cera”, associada à idéia de como a cultura, a linguagem e os conceitos se modificam, se deturpam ou se corroem com o tempo.
Logo passou pela minha cabeça a origem da palavra “sincero”, e da situação depreendi então o seguinte: dependendo do tempo e das palavras, a propaganda pode ou não pode ser a alma do negócio.
Mas o que a origem da palavra “sincero” tem a ver com a lavagem de moto com cera e suas implicações no tempo?
Ora! Vamos às explicações:
Várias são as versões sobre a origem da palavra “sincero”. Apesar de ser considerada por alguns como conto da carochinha, a história dessa origem, dita por alguns como fantasiosa, lendária, ainda é interessante.
Como disse Malba Tahan, “Sincero vem do velho, do velhíssimo latim... E eis a poética viagem que fez “sincero” de Roma até aqui:”
"Sincero" deriva da expressão latina “sine cera”, que significa “sem cera”, literalmente.
A expressão “sine cera” tornou-se generalizada durante o auge da arte romana, quando as esculturas se tornaram pela primeira vez um meio de expressão artística popular.
Quando a escultura tinha uma falha, escultores desonestos ocultavam com cera as microfissuras de suas estátuas de mármore. A cera era usada para servir como disfarce, mascarando imperfeições no que parecia ser cerâmica barata. Na hora, o comprador não percebia as falhas. Mas depois de um tempo as imperfeições vinham à tona, e se descobria que era uma escultura "cum cera". Uma peça indiscutivelmente perfeita ou de qualidade deveria ser, portanto, "sine cera".
Sabedores dessa fraude, os escultores honestos faziam questão de ressaltar que suas estátuas eram "sine cera", ou seja, verdadeiras, autênticas, honestas. Alguns chegavam a carimbar suas peças com a frase "sine cera" como prova de autenticidade. Os romanos ludibriados aprenderam então a escolher as estátuas e a exigir dos vendedores: “Sine cera!”
A expressão chegou até nós como "sincera", derivando daí “sincero”. “Da antiga cerâmica romana, o vocábulo passou a ter um significado muito mais elevado. Sincero é aquele que é franco, leal, verdadeiro que não oculta, que não usa disfarces, malícia ou dissimulações.”
Infelizmente, porém, não há muitas – ou mesmo nenhuma – provas de que a versão acima seja a verdadeira.
Independentemente de sua precisão histórica, a mensagem gerada pela expressão "sine cera" continua a ser uma boa história. "Sine cera" exemplifica o ideal, a perfeição na honestidade, a virtude de falar a verdade.
E a propósito disso, voltamos agora ao início do raciocínio: se fizermos, grosso modo, uma comparação deste caso com a lavagem de moto com cera na Baixa da Colina, o dono do negócio de lavagem, se morasse na Roma Antiga, teria feito do seu negócio um fiasco com tal propaganda.
Mas como ele mora no Acre atual... Que esta pequena fábula nos sirva pelo menos de lição, que é para isso que servem as fábulas, pois o tempo constrói, destrói e reconstrói tudo – ou quase tudo –, e daí vêm as verdades!

Wallace Rocha

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Mais uma História Brejeira!


Às voltas com o alvoroço causado, desde a última eleição, por causa do Referendo acerca do horário do Acre, recordei um conto interessante de nossa literatura, que vem bem a calhar para a proposição desta nota. 
Refiro-me ao conto O Plebiscito, cujo tempo da narrativa se passa em 1890. Publicado na coletânea Histórias Brejeiras (Ediouro), é um dos mais conhecidos de Arthur Azevedo. Nele se discute a necessidade de realizar um plebiscito para validar o regime republicano. Mas o tema do conto ultrapassa a situação histórica. Trata-se, antes de tudo, do retrato caricatural de um patriarca, o Sr. Rodrigues, protagonista do conto, que representa o pai de família que quer parecer “saber tudo” mas que na realidade nada sabe. O tipo de indivíduo que não pode admitir que desconhece o significado de uma palavra e, por isso, dar azo a uma discussão interminável acerca do assunto, dando a clara impressão de que não sabe perder ou aceitar verdade da perda, como queira o leitor!
Como bem disse Tereza Freire[1], “Arthur Azevedo é um desses casos crônicos em nossa literatura. Escritor mal avaliado e pouco estudado, foi rotulado como escritor de peças de teatro e contos superficiais e digestivos. Na verdade, porém, o autor (...) é um dos melhores talentos de seu tempo. Seu senso de humor é invejável. Sua percepção do meio social é aguda. Com isso, os escritos atingem aquele timbre da graça inteligente e crítica. O conto O Plebiscito (...) é de uma palpitante atualidade, pela progressiva pobreza verbal que assola o país e pelo escasso horizonte léxico que abrange umas tantas e repetidas palavras (...).” 
E aqui, no nosso Acre, acrescentamos que similar situação envolve igualmente umas tantas e repetidas idéias e ideais de um povo que, guerreiro, aprendeu a escolher e a referendar a sua preferência, mas que ainda não teve o seu direito de escolha respeitado.
A idéia de O Plebiscito, associada à nossa celeuma do Referendo, trouxe-me às têmporas a seguinte indagação: estaria uma parcela minoritária - muito minoritária mesmo! - da sociedade acreana precisando de esclarecimentos sobre o significado de Referendo?


Wallace Rocha



[1] TEREZA FREIRE é historiadora, com mestrado sobre Pagu pela PUC-SP. É roteirista e diretora do documentário Caminhos do Yoga, gravado na Índia em 2003, e autora do romance Selvagem como o vento, de 2002. Na televisão, cabe destacar seu trabalho como roteirista da série de documentários da STV, Diário de Viagem, sobre turismo no Nordeste, e como apresentadora do programa Contos da Meia-noite, da TV Cultura de São Paulo. Foi contemplada com o Programa de Ação Cultural (PAC) da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, em 2006.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Abertura

Machado de Assis abriu o seu romance Memórias Póstumas de Brás Cubas com estilo e certa dose de graça, esperando ele – surpreso! – ter “(...) quando muito, dez, Dez? Talvez cinco.” leitores. Assim gostaria de abrir meu blog, com um lampejo de desconfiança de que alguém o leia ou dê a ele a devida importância. Mas como não possuo a maestria de um Machado de Assis, o faço de maneira mais breve e mais simples, mas também com graça, e ainda emprestando o palavreado alheio – se é que foram, de fato, essas as palavras usadas pelo Todo-Poderoso quando da criação do universo! RS!


ET FIAT LUX!


Wallace Rocha