terça-feira, 9 de setembro de 2014

Apollo 13

Apollo 13. Direção de Ron Howard. Produção de Brian Grazer. Universal, 1995. DVD.


RESENHA


Manoel Jorge da Silva Sousa
Kleison José Oliveira de Albuquerque
Francisco Wallace da Rocha Neto

O presente estudo tem como objetivo a análise do filme “Apollo 13” (1995), dirigido por Ron Howard, produzido por Brian Grazer, e distribuído pela Universal Studios.
O filme trata da história de uma das tragédias mais desestabilizadoras da história da Agência Espacial Americana (NASA), baseada no livro Lost Moon: The Perilous Voyage of Apollo 13, do piloto Jim Lovell, e é considerado.
Em 11 de abril de 1970, passado somente um ano dos primeiros passos na superfície lunar, a NASA envia ao satélite um novo grupo de astronautas na missão Apollo 13. Jim Lovell (Tom Hanks), Fred Haise (Bill Paxton) e Jack Swigert (Kevin Bacon) foram enviados em uma missão de reconhecimento e aparentemente de rotina, missão esta que seria a terceira a pousar na superfície lunar.
Porém, já no espaço, um tanque de oxigênio explode. Com o acidente, os astronautas Jim Lovell, Jack Swigert e Fred Haise não conseguem seguir para Lua e ainda correm o risco de ficar sem oxigênio e energia suficientes para voltar à Terra. A partir deste ponto a narrativa descreve as soluções encontradas pela Agência Espacial Americana (NASA) para trazer os tripulantes da nave de volta à Terra. Agora a equipe a bordo e a equipe da Agência Espacial, em terra, começam a correr contra o tempo e improvisar novo plano para resgatar a equipe.
Ainda hoje o filme é considerado um dos cinco melhores na história de conquista do espaço e outros temas, por retratar questões que transcendem a vida profissional e a vida pessoal, ajudando até mesmo nas rotinas do quotidiano, motivo pelo qual propomos esta análise.
Quanto à metodologia utilizada, os principais trechos que envolvem tensões e conflitos no longa-metragem foram selecionados e sobre essas cenas foram aplicadas as teorias do sobre planejamento estratégico, planejamento corporativo e processo decisório, observando o ambiente, as situações, os agentes envolvidos, os objetivos, as estratégias adotadas, o modelo decisório e o resultado obtido. 
Segundo Igor Ansoff (1990) (apud ALDAY, 2000), somente um número reduzido de empresas utiliza o verdadeiro Planejamento Estratégico. A maioria das organizações continua empregando as antiquadas técnicas do Planejamento a Longo Prazo, que se baseiam em extrapolação das situações passadas.
No filme em análise, nos parece que a Agência Espacial Americana não adotava um planejamento estratégico, mas sim o planejamento a longo prazo, e isto é perceptível ao vermos no filme quando foram surpreendidos por um problema técnico, e, para resolvê-lo, foi necessário improvisar a solução de forma emergencial.
A estratégia de enfrentamento do problema foi desenvolvida e posta em prática conforme o problema evoluía, e todo o improviso evidencia que a agencia não estava preparada para a emergência. Todos os procedimentos foram tomados com base nas missões anteriores, e um problema que não havia ocorrido antes e para o qual não estavam preparados inviabilizou a missão. O diferencial neste caso foi a equipe técnica, que com poucos recursos a bordo do módulo espacial, em consonância com a equipe em terra, conseguiram, através de liderança forte, trabalho de equipe e conhecimento técnico, salvar a vida dos três astronautas.   
Maxwell (2007) utiliza o exemplo da Apollo 13 para falar do trabalho em equipe. Diz que a NASA possuía três equipes de trabalho para acompanhar o vôo alternadamente, cada qual em seu turno, mas, devido a situação emergencial, as três se juntaram para pensar soluções conjuntas sobre a liderança de Gene Kranz.
No que concerne ao processo decisório, Hebert Simon (1991) (apud BALESTRIN, 2001), em seus estudos sobre tomada decisão, afirmou que “as pessoas devem considerar que os tomadores de decisão possuem habilidades limitadas para avaliar todas as possíveis alternativas de uma decisão, bem como lidar com as consequências incertas da decisão tomada...”. (SIMON, 1999, p. 94).
Este processo é claramente observado no filme, na atitude do chefe da missão. Como técnico, não conhecia a fundo todas as áreas envolvidas na missão espacial, e resolveu reunir o máximo de especialistas possível, inclusive recrutando o astronauta que ficou de fora da missão, por suspeita de rubéola, bem como todos os funcionários envolvidos com a missão, mesmo os de folga. Com base nas informações repassadas pelos especialistas, foi tomando as decisões que entendia mais apropriadas.
O retorno dos astronautas em segurança mostra que a estratégia de tomada de decisão foi a correta, pois mesmo diante do fracasso da chegada à Lua, o retorno dos tripulantes em segurança acabou representando uma vitória institucional e pessoal, na medida em que envolveu emocionalmente todos os técnicos que participaram do processo.
É óbvio que não se atinge os objetivos almejados sem preparação, estabelecimento de metas e treinamento, sem mencionar todo o acompanhamento do processo por uma equipe técnica especializada, revendo procedimentos, verificando falhas, fazendo os ajustes necessários, e cercando-se de cuidados com imprevistos. Mas mesmo dispondo dos recursos e meios necessários, nem sempre é possível prever eventuais problemas, quando isso não faz parte da cultura da empresa ou da corporação.
É notado no filme com bastante clareza todo um planejamento na preparação para o embarque nos momentos de trabalho dos astronautas nos dias que antecedem a partida, o que é essencial para se fazer um trabalho bem feito. Porém, também se percebe que deveria ter havido uma alternativa para o caso de o planejamento original não ocorrer como o esperado, provocando assim um imprevisto, o que de fato aconteceu.
A exemplo desse tipo de falha, ressaltamos um último ponto a ser considerado no que se refere questão da cultura organizacional da NASA. Para Mittelstaedt (2005), a Agência Espacial Americana não tinha uma cultura preventiva. Em sua opinião, “foi claramente uma sequência de erros provocada por uma cultura que queria provar que ‘tudo é trivial’, ‘todos os sistemas são exitosos’ e que ‘é tão seguro quanto entrar num avião’” (2005:139).
A missão da Apollo 13 já começara com imprevistos, e novos imprevistos surgiram no decorrer do encargo. Isso já demandava de toda a equipe envolvida na missão concentração e foco na resolução qualquer eventual problema. Ainda assim, isso foi desconsiderado.
Instalado o problema, Gene Kranz, diretor do voo, vendo que não conseguiria cumprir a missão, pois estava acabada, optou pela decisão inevitável de conservar a vida dos astronautas e trazê-los de volta á terra numa nave avariada.
Há que se considerar, porém, que tal decisão, em meio à situação de crise posta, era bastante perigosa. E em situações de periculosidade extremada, sempre há espaço para uma reflexão. Por mais emergentes que sejam, as ações requerem análise, estratégias e cooperação recíproca. Daí a decisão de ouvir opiniões, consultar os colaboradores, verificar e analisar alternativas e ter o bom senso de optar pelo que era menos arriscado.
Se objetivo inicial da Apollo 13 não fora alcançado, a experiência tirada a partir do feito realizado foi tão grande que faz que este tenha os seus méritos reconhecidos, pois permitiu pensar no que de fato era mais importante. No caso em questão, significou a manutenção da vida dos astronautas da missão Apollo 13.
A liderança focada em um objetivo de união, em ações sincronizadas de todos por um único bem comum, acabou por transformar um desastre em triunfo.

Fontes Consultadas
ALDAY, H. E. C. O Planejamento Estratégico dentro do Conceito de Administração Estratégica. 2000. Disponível em <http://www.paulorodrigues.pro.br/arquivos/aula_01_adm_ii_orientada.pdf> (Acesso em 02/09/2014).
BALESTRIN, A. Uma análise da contribuição de Herbert Simon às Teorias Organizacionais. 2001. Disponível em <http://www.read.ea.ufrgs.br/read28/artigos/ARTIGO02.PDF> (Acesso em 02/09/2014).
MAXWELL, John C. As 17 incontestáveis leis do trabalho em equipe. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2007.
MITTELSTAEDT, Robert E. Seu próximo erro pode ser fatal? – Os equívocos que podem destruir uma organização. São Paulo: Bookman, 2005.
SHIMIZU, Heitor. Apolo 13 vira filme: Houston, temos um problema aqui. In: Revista Super Interessante. Agosto de 1995 (Ed.095). Disponível em: <http://super.abril.com.br/cultura/apolo-13-vira-filme-houston-temos-problema-aqui-441116.shtml> (Acesso: 26/08/14).