quinta-feira, 26 de julho de 2012

Maria vai com as outras!

Em minha opinião a imagem acima chega a parecer um poodle sentado. E pra você?

Em uma determinada cena do filme Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra, dirigido por Gore Verbinski, encontramos algo que pode nos ensinar muito sobre opinião!

Comodoro: Ora, ora... Jack Sparrow, não é?
Jack: Capitão Jack Sparrow, por favor.
Comodoro: Mas eu não estou vendo seu navio... (pausa) Capitão.
Jack: Eu estou em busca de um… no momento.
Comodoro: Sem balas adicionais ou pólvora... Uma bússola que não aponta para o norte... Hã! Achei que sua espada fosse de madeira... Você é sem dúvida o pior pirata de quem já ouvi falar!
Jack: Mas ouviu falar de mim!

Se você vive preocupado demais com o que os outros pensam de você ou vive andando na linha para não ser motivo de comentários vindouros ou talvez fique extremamente chateado, irritado quando a opinião pública derruba você com sua crítica ferrenha, é hora de parar e repensar algo simples: o seu valor!

Opinião: Modo de ver, de pensar, de deliberar.
Opinião Pública: O conjunto das ideias e dos juízos partilhados pela maioria dos membros de uma sociedade, naquilo que concerne às mais variadas áreas de atividade.

Nesses dias, me dei conta de que opinião (a dos outros) pode vir a ser um caso muito sério para quem se importa demais com ela! Não que não devamos nos importar; mas o excesso pode levar um cidadão comum ao mais profundo caos - loucura oriunda de quando nos importamos demais com a opinião e dos outros!
Quando ligamos muito para o que os outros pensam é porque queremos que pensem algo de nós, sim, queremos impressionar, demonstrar a importância que temos. E quando isso falha, e a crítica mostra suas garras, metemos o “rabinho entre as pernas”, “rodamos a baiana” e “chutamos o pau da barraca”, sem contar os “prejuízos psicológicos” que a tal importância nos condiciona.
Quando nos referenciamos pelo que os outros pensam, deixamos de ser normais e adotamos outras características, fugindo das nossas habituais. Mas quando não nos importamos tanto com a opinião dos outros, prosseguimos sendo nós mesmos!
Não ligue se não agradar. Esta é forma mais fácil de saber quem está realmente interessado em quem você é de verdade. Pessoas falam da vida dos outros quando estão infelizes com a sua. Não vê o nosso pirata supracitado na ficção? Ele tem um otimismo que devíamos imitar. Podem falar, pensar o que quiser... O importante é você ter a certeza de quem você é para não se condicionar à opinião dos outros.

Comodoro: Você é sem dúvida o pior pirata de quem já ouvi falar!
Jack: Mas ouviu falar...

Quando nos importamos muito com a opinião dos outros é porque não temos opinião alguma. Pense bem antes de tomar decisões baseada no que os outros pensam. Assim você pode estar levando eles ao sucesso, já que não conseguiram conquistar a sua atenção, buscam então te diminuir, fazendo você esquecer quem é e o que realmente pensa.
Mas existe algo muito importante em tudo isso: há pessoas que usam argumentos que as favorecem para praticarem coisas que fogem até da decência! Que não seja o caso de ler este artigo e achar que pode fazer tudo que der na telha. Bom senso tem um bom termômetro e sempre funciona. Já a opinião dos outros!...
Bom fim de semana a todos.

Texto: Glauco Capper
Administrador do BLOG No Calibre!!! (http://26mm.blogspot.com.br/)




domingo, 15 de julho de 2012

Borges e o pronome "se"



No caderno de cultura de um jornalão, o resenhista de livros escreveu sobre dois lançamentos editoriais: "A Editora Globo reedita, em volumes separados, dois clássicos borgianos: Elogio da Sombra (1969) e O Informe de Brodie (1970). Tratam-se das mesmas traduções que a Globo havia editado em Jorge Luis Borges - Obras Completas (1999)."
"Tratam-se" das mesmas traduções? Distração do resenhista. Ele fez com o verbo "tratar" o que o governo faz com o povo. Para ser mais preciso, ele tratou o verbo "tratar" - que nesse sentido exige preposição para ligar-se ao complemento - como se fosse verbo que não precisa de preposição. Na verdade, confundiu duas estruturas marcadas pelo pronome "se".
Primeira estrutura: alugam-se deputados, vendem-se senadores por preço convidativo; ouviam-se cochichos de políticos pedindo os 20 % usuais; consertam-se mentes poluídas pela militância política. Nessa estrutura, nota-se que o verbo vai para o plural.
Segunda estrutura: trata-se de senadores honestíssimos, precisa-se de deputados decentes; tratou-se de anúncios malfeitos; tratava-se das mesmas traduções. Nessas frases, nota-se que há um "de" e o verbo fica na terceira pessoa do singular.
A primeira estrutura (alugam-se deputados etc.) é formada por verbos transitivos diretos, isto é, verbos que dispensam preposição para ligar-se ao complemento. É formada pelo verbo, mais o pronome "se", mais o sujeito. Sujeito plural, verbo no plural; sujeito no singular, verbo no singular. Nela, a palavra que se segue ao pronome "se" é o sujeito, que, obviamente, concorda com o verbo: aluga-se um deputado, vende-se um senador; vendem-se bananas; alugam-se bicicletas; arrendam-se políticos picaretas por bom preço.
Há sábios lingüistas zangados que discordam dessa análise; consideram-na ultrapassada e contrária ao fluir natural da língua, porque, dizem eles, as pessoas falam "aluga-se deputados, vende-se senadores". O "se", defendem, é um índice de indeterminação do sujeito; portanto, "deputados" e "senadores" não são sujeito e não têm de concordar com o verbo.
Como a maioria dos especialistas defende a primeira análise, de acordo com a tal de norma culta ou língua oficial, com ela convém ficar por enquanto: "senadores" e "deputados" nesse caso são sujeitos, sim, e o verbo transitivo direto deve concordar com o sujeito. Então, vendem-se votos, arrendam-se mandatos etc.
A segunda estrutura (Trata-se de senadores picaretas, precisa-se de pedreiros etc.) é formada por verbos transitivos diretos pronominais e ao mesmo tempo transitivos indiretos (TDpI). A preposição "de" que rege a palavra plural seguinte nos exemplos mostra que tal palavra não pode ser sujeito; é objeto indireto, por isso não há sentido na concordância do verbo com ela.
Na estrutura ("Trata-se de ex-prefeitos larápios" = verbo, mais pronome "se", mais preposição "de", mais palavra plural), portanto, o verbo fica sempre e sempre na terceira pessoa do singular. O sujeito é indeterminado: o pronome "se" torna indefinido o agente da ação verbal. Nesse caso, "se", é, pois, índice de indeterminação do sujeito. Já se vê por aí que o resenhista, encantado com Borges, distraiu-se no texto e misturou estruturas parecidas, mas diferentes. Coisas da vida.

Texto: Josué Machado
Jornalista e autor do livro Manual da Falta de Estilo (Ed. Best Sellers)

domingo, 1 de julho de 2012

Meus heróis não morreram de overdose, mas quase perderam o acento


  Talvez o leitor do blog não tenha percebido, mas ultimamente tenho modificado com bastante frequência alguns textos depois de tê-los publicado. Isso tem ocorrido porque de vez em quando encontro erros, principalmente de acentuação e hifenização, além do acréscimo de letras no alfabeto, tudo culpa do famigerado acordo ortográfico que todas as criaturas, cultas e incultas, tiveram que, abaixo de Lula, engolir.
                Preocupado que sou com os meus textos e com a crítica (RS!), acabei por aceitar a ideia dos amigos mais próximos e também meus leitores de falar sobre isso, e me dispus a escrever sobre as tais modificações do nobre vernáculo, modificações essas que, em minha opinião, não fedem nem cheiram, ou melhor, cheiram muito mal e só vieram para atrapalhar. Mas já que vieram pra valer, não temos saída, só nos resta embarcar, ainda que o verbo não seja o mais adequado para o caso em tela. Adotemos então o “novo português” – Nossa! – desde já e vamos nos permitir fazer algumas brincadeiras com o que mudou, com o perdão de Camões. Porém, por questões didáticas e intelectuais, falarei nesta nota apenas de acentuação, porque das regras de hifenização eu nunca soube mesmo, não vai ser agora que vou me meter a besta! Talvez este assunto fique para um próximo post, quando eu aprender... se aprender!
                Para começar, o número de letras passa de 23 para 26, com a incorporação das letras "k", "w" e "y" ao alfabeto. Mudança, a meu ver, muito significativa, pois agora os pais poderão voltar a registrar os filhos, sem mais óbices, com letras estrangeiras e nomes mais artísticos em “ingrêis” e alemão, abusando dos "k", "w" e "y" e demais consoantes dobradas como Hyasmyn Shéron da Silva, Ystiviwónder da Silva e Silva, Karl Marx de Arimatéa, Robert Müller de Sá, Craudete Swellen da Silva, Creugisllaynne Ewellynn Kétlen de Araújo, Ethelvina Kimberly do Ó e, olha só uma sugestão melhor ainda, se é possível!: Francisco Wallace da Rocha Neto. (Que nome lindo! Meus pais me adoram, com certeza! RS!) Ufa! Mas, a propósito, se depender do trema e dos acentos, ainda vai ficar a dúvida, seja na regra velha ou na nova, porque haja criatividade!
                Por aqui, contudo, nestas paragens textuais mais pé-no-chão, vamos tentar trocar em miúdos o que sobrou da nossa acentuação. O trema desaparece em todas as palavras, e agora, quem gosta da coisa, não vai precisar engolir linguiça com os tais dois pontinhos... Sei, sei... talvez o gosto não seja mais o mesmo; ou aguentar qualquer coisa que seja com o trema, embora tenhamos que continuar engolindo sapo, que este não foi contemplado pelo acordo, pobre batráquio. Fica, porém, o trema em nomes próprios e estrangeiros como Müller. Aê! O Robert Müller acima tá podendo!
                Quanto à acentuação, os ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas perderam os acentos, a exemplo de Europeia, boia, Coreia, heroico, estreia, joia, plateia, jiboia, assembleia e ideia, que também perdeu o seu, e nós andamos a perder as nossas ideias e ideais com coisas inúteis, olha que coincidência, palavra esta precisa como antes que veio a calhar a esta situação. Já as oxítonas como papéis, troféu e herói mantêm o acento. Na dúvida em saber o que são os monstros paroxítona e oxítona? Ainda não sabe? Também não sabe separar sílabas? A velha-nova gramática e um bom dicionário ainda ajudam. É só correr atrás, ainda dá tempo, assim vai me evitar o trabalhão de explicar isso de novo. Se não aprendeu até agora, paciência... Meus heróis podem não ter morrido de overdose de preciosismo lulista, mas quase perderam o acento. Só faltava agora o Tiririca querer fazer história no ramo linguístico. 
                O acento também caiu no “i” e no “u” fortes depois de ditongos, em palavras paroxítonas. A exemplo disso podemos citar as palavras guaira e feiura. Contudo é bom lembrar: o resto permanece igual. Quem não sabe do que eu estou falando, é o seguinte: os hiatos saída e saúde são exemplo disso. O “i” e o “u”, caso estejam na última sílaba e sozinhos, também mantêm os acentos, como nos exemplos Piauí e tuiuiú. Caso a palavra seja oxítona, ou seja, o “i” e o “u” na última sílaba forte, a exemplo de pacu e quati, também permanecem do mesmo jeito de antes, sem acento.  O mesmo ocorre caso seja a palavra monossilábica, seja com o “i” e o “u”.
                E por falar em “i” e “u” acentuados, embora o que eu vá dizer não tenha nada a ver com as mudanças nas regras atuais, é bom que se registre essas duas curiosidades a seguir, para que não reste dúvida. Então lá vai: a primeira é que os políticos, que são eternos proparoxítonos, são imexíveis, jamais perderão os acentos, pelo menos é o que se espera, e assim também bem que poderia se esperar que perdessem pelo menos os assentos, já que apenas trocá-los com frequência dos seus pequenos tronos não tem resolvido os problemas da nação. Se isso pudesse ser decretado como as mudanças na língua talvez funcionasse. Lula, cadê você?! A segunda é que cu nunca foi e nunca será acentuado. Acabamos de falar disso agorinha mesmo, só que com outras palavras. Porém, como você provavelmente não olha para o “seu” – aliás nem sabe como ele é composto – não deve ter prestado atenção no que eu disse. Esclarecida, pois, agora a dúvida, pelo menos essa, vamos deixar de nos preocupar com o “monossilábico” dos outros e que cada qual cuide do seu agora... Que mau costume esse de não consultar a gramática!
                E deixando o “dos outros” de lado, mas insistindo ainda no “u”, some também o acento agudo no “u” forte nos grupos gue, gui, que, qui, de verbos como averiguar, apaziguar, arguir, redarguir, enxaguar, quando conjugados averigue, apazigue, argui etc. É... essa daqui não dá pra fazer brincadeira, pelo menos não me ocorre agora.
                Mas calma, ainda não acabou a chatice, porém está quase acabando a paciência; ainda bem que esta ainda tem acento, e bem que poderia ser assento, assim a gente poderia ficar sentado para não cansar muito de ler este texto, que inicialmente era pra ser um textículo, e este é com “x” mesmo, não é trocadilho não. Só não vale acentuar melancia – tem gente que faz – nem escrever embriaguês, porque quem sabe que embriaguez é assim, com “ez”, pode achar que o autor da primeira, com “ês”, está bêbado. Com certeza! Mas bêbado gramaticalmente.
                Mas com essa mudança, alguma coisa boa há de ter. Para compensar os que costumavam deslocar o acento nas vogais dobradas em palavras como voo, magoo e enjoo, acabou-se o problema, caíram os acentos, e o nosso voo ficou sem o chapeuzinho da vovozinha, e o nosso enjoo ficou menos enjoado. Hum... magoou! Do mesmo modo as palavras creem, leem, veem, preveem, mas isso já era previsto, não?! Claro que sim, pois o bom observador já iria sacar!
                Quanto aos acentos diferenciais, não houve muita mudança. Como exemplo disso, à palavra fôrma, para diferenciar de forma, é facultado receber ou não o acento circunflexo. Mas some o acento diferencial em para, pela, pelo, polo e coa! Ótimo! Assim a maioria do pessoal usuário do Facebook já pode parar de acentuar tudo oficialmente, já que não sabem a diferença entre verbo e preposição mesmo. Ops! Ah, se fosse só isso!...
                Ia me esquecendo: ficam os diferenciais em pôr (verbo), para diferenciar de por (preposição); e pôde (pretérito), para diferenciar de pode (presente).
                Mas só pra terminar, ainda tem um detalhe: nada muda no plural de ter e vir e seus derivados. Assim: ele tem / eles têm; ele vem / eles vêm. Mas – Ooh! – há quem pergunte: “E ela? É do mesmo jeito?” Pelo amor de Deus, como é possível?! Não me faça essa pergunta, porque me faz lembrar a Escolinha do Chaves, em episódio que o professor Girafales pergunta ao Kiko: “Kiko, se eu tenho três maçãs e ganho mais três, com quantas maçãs eu fico?” E o Kiko responde: “Não sei, professor.” “Como não sabe?”, pergunta o mestre. E o Kiko diz: “É que eu só sei fazer conta com banana!”
                Ainda bem que o português é mais fácil que a matemática. (RS!)
                No mais, as demais regras de acentuação permanecem as mesmas.
                Que bom, né?!
                “Hasta la vista, babies!”
Wallace Rocha