sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Republicando... e acrescentando... sempre mais do mesmo sobre o FUSO do ACRE

Mais uma História Brejeira!


Às voltas com o alvoroço causado, desde a última eleição, por causa do Referendo acerca do horário do Acre, recordei um conto interessante de nossa literatura, que vem bem a calhar para a proposição desta nota. 
Refiro-me ao conto O Plebiscito, cujo tempo da narrativa se passa em 1890. Publicado na coletânea Histórias Brejeiras (Ediouro), é um dos mais conhecidos de Arthur Azevedo. Nele se discute a necessidade de realizar um plebiscito para validar o regime republicano. Mas o tema do conto ultrapassa a situação histórica. Trata-se, antes de tudo, do retrato caricatural de um patriarca, o Sr. Rodrigues, protagonista do conto, que representa o pai de família que quer parecer “saber tudo” mas que na realidade nada sabe. O tipo de indivíduo que não pode admitir que desconhece o significado de uma palavra e, por isso, dar azo a uma discussão interminável acerca do assunto, dando a clara impressão de que não sabe perder ou aceitar verdade da perda, como queira o leitor!
Como bem disse Tereza Freire[1], “Arthur Azevedo é um desses casos crônicos em nossa literatura. Escritor mal avaliado e pouco estudado, foi rotulado como escritor de peças de teatro e contos superficiais e digestivos”. Na verdade, porém, “o autor (...) é um dos melhores talentos de seu tempo. Seu senso de humor é invejável. Sua percepção do meio social é aguda. Com isso, os escritos atingem aquele timbre da graça inteligente e crítica. O conto O Plebiscito (...) é de uma palpitante atualidade, pela progressiva pobreza verbal que assola o país e pelo escasso horizonte léxico que abrange umas tantas e repetidas palavras (...).” E aqui, no nosso Acre, acrescentamos que similar situação envolve igualmente umas tantas e repetidas idéias e ideais de um povo que, guerreiro, aprendeu a escolher e a referendar a sua preferência, mas que ainda não teve o seu direito de escolha respeitado.
A idéia de O Plebiscito, associada à nossa celeuma do Referendo, trouxe-me às têmporas a seguinte indagação: estaria uma parcela minoritária – muito minoritária mesmo! – da sociedade acreana precisando de esclarecimentos sobre o significado de Referendo?
Ô, pessoal do PT,
Aprendam a perder,
Deixem de criancice.
Já dizia Machado de Assis
Que idéia fixa é prenúncio de loucura...
Eu digo que, em período pré-eleitoral,
Desrespeitar a vontade do “Povo do Acre”
Pode parecer burrice!

Wallace Rocha



[1] TEREZA FREIRE é historiadora, com mestrado sobre Pagu pela PUC-SP. É roteirista e diretora do documentário Caminhos do Yoga, gravado na Índia em 2003, e autora do romance Selvagem como o vento, de 2002. Na televisão, cabe destacar seu trabalho como roteirista da série de documentários da STV, Diário de Viagem, sobre turismo no Nordeste, e como apresentadora do programa Contos da Meia-noite, da TV Cultura de São Paulo. Foi contemplada com o Programa de Ação Cultural (PAC) da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, em 2006.

sábado, 12 de novembro de 2011

A mostrenga língua e suas expressões e impressões curiosas

Por que mostrenga? Sei lá! Talvez para suscitar um comentário do tipo: “Ih! Ele esqueceu o N.” Mas não esqueci não. É assim mesmo sem o N. Por quê? Historicamente há várias versões. Vou citar duas dentre tantas: a primeira é que deriva do italiano mostro; e a segunda que é etimologicamente uma deformação do castelhano mostrenco. Ambas são aceitáveis. Mas por que em português monstro tem N? Esta eu vou ficar devendo, mas arrisco um palpite: talvez pro monstro não ficar tão mostrengo! Afinal, em tempos de deformidades lingüísticas (estão o Lula e o Facebook pra provar), por que eu também não posso brincar? RS!
E por falar em deformidades, vamos nos deliciar com algumas pérolas. A começar pelas manchetes abaixo, publicadas em jornais de nossa capital:


É bem provável que o N que falta em mostrengo tenha vindo parar justamente neste arquivo seNcreto!
Do mesmo modo, como vi certo dia um amigo escrever harmonia sem o H, este mesmo H, talvez desolado por ter sido esquecido, deve ter vindo parar no ouve da matéria abaixo:


Mas como bem disse o Altino Machado: “Governo não “houve” mesmo!”
E a dança das letras continua. No caso abaixo, trocaram X por S. Vamos esperar que o X fujão, a exemplo da moça desaparecida e achada, seja também achado com a namorada... ou namorado... sei lá!


Mas saindo agora do erro ortográfico (forma) e partindo pro sintático (organização frasal) e semântico (sentido), vejamos a pérola abaixo. É um dos meus preferidos. Baleia... baleia... baleia... Acho que agora ele entendeu. Não? Paciência então!


Nenhum, porém, ficou tão inusitado quanto este que segue:


É o que eu sempre digo: a profissão de repórter está cada vez mais dinâmica, tem até que psicografar, pois o trabalhador braçal com certeza veio do além para fazer a matéria.
Mas pra não dizer que só a imprensa local comete os seus deslizes, vejamos outros casos engraçados e curiosos:
É fato: o trânsito anda mesmo caótico!


Quer ver mais uma?


Se aquele Jesus salva! Esse daí não perdoa!
Nem a polícia perdoou o estelionato na língua. Pra quem acha que a polícia é burra... Olha só!


Saímos então da língua dos outros pra cair na vagina dessa mulher.


Que coisa mais maluca é essa? Fico até imaginando o tamanho do prazer que uma coisa desse talhe pode causar!
Que o diga a Sheila aí embaixo... se tivesse uma tão grande, qual seria a dimensão do seu sucesso na praça, hein? Pois com todas essas qualidades... Sheila, minha filha, desculpa, mas eu também não sei por que você foi virar puta.


Mas saindo da genitália feminina, vamos parar num salão, a meu ver, de causar pesadelo a qualquer homem macho do sexo masculino. Não entro num lugar desses jamais! Nem que seja o último salão do mundo. Vai que eles derrapam na navalha, assim como derraparam na língua, e vão querer cortar o meu... RS! Sei lá! É bom não arriscar!


Seria preferível ser corno em terceira dimensão, vai ver que dói menos!


I’ll be back!



Wallace Rocha




 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Um caso quase escatológico de falha de memória



             Quem nunca passou pela angustiante experiência de ter que se lembrar de alguma coisa ou do nome de alguém familiar e não consegue?... Ih!... “Deu um branco!” Do que eu estava falando mesmo?! Brincadeirinha! Pois bem: certamente não há quem nunca tenha passado por isso. O que quer que seja a ser lembrado parece estar à nossa frente, quase tocando a nossa língua, tentamos agarrá-lo desvairadamente como quem está em queda e não encontra um sustentáculo que possa salvar-lhe a vida, e é impossível resgatar a informação, que se esvai à sua frente como fumaça, causando-nos certa sensação de incapacidade, e aí ficamos nos perguntando como isso pode acontecer conosco, como nossa memória, até bem pouco tempo tão boa, possa ter falhado justo ali. Psicólogos chamam esse bloqueio de TOT – sigla em inglês para Tip Of the Tongue – literalmente em português “ponta da língua”.
Sabe-se que este fenômeno ocorre com qualquer tipo de pessoa, contudo é mais freqüente em pessoas mais idosas e está mais associado a substantivos, principalmente a nomes próprios. Certo é que, à medida que ficamos mais velhos, são armazenadas mais informações em nosso cérebro, e muitas vezes estas informações não estão estocadas em lugares específicos, mas em diversos pontos da nossa massa cinzenta. Assim, uma característica física de alguém ou de alguma coisa fica armazenada em um determinado local, e o nome está em outro. Então o cérebro, na tentativa de recuperar as informações durante as sinapses, pode falhar, dada a quantidade de informação a ser agrupada.
 Jerry Carvalho Borges, colunista da CH On-line, afirma que Diferentemente de outras palavras, os nomes próprios são arbitrários e nada nos dizem sobre o rosto das pessoas. No caso daqueles com quem temos relações mais próximas, há uma maior chance de reconhecimento, pois associamos os rostos com os nomes das pessoas. Há, portanto, mais possibilidades de conexões. É por isso que guardamos primeiro o nome dos melhores e dos piores alunos! O mesmo não vale para pessoas com quem temos relações mais distantes. Podemos até lembrar a letra inicial ou mesmo a sonoridade do nome, mas somos incapazes de recordar integralmente o nome da pessoa. Essa é uma das razões por que o TOT pode ser tão frustrante...” (grifo nosso)
            Pegando carona no último trecho dessa afirmação, aproveito para acrescentar alguma coisa à ciência, tirando o lado frustrante do TOT e atribuindo-lhe um pouco de irreverência, pois mesmo quando cérebro falha, ele ainda consegue fazer associações hilárias. Passarei agora a relatar o mais divertido caso de TOT de que tive conhecimento. Ele me foi narrado pelo meu amigo Felipe Russo e aconteceu com a sua avó:
           
A velhinha sentou numa cadeira na sala de espera da recepção da Unimed. Uma atendente aproximou-se e perguntou:
– Posso ajudá-la?
– Sim, minha filha. Ontem estive aqui para fazer alguns exames, e a moça me disse para retornar hoje para dar prosseguimento ao restante...
– A senhora sabe dizer o nome da atendente?
– Não me lembro bem... mas era um nome bem pequeno, poucas letras...
– A senhora não consegue lembrar?
– Não sei... acho que era OSTA...
– OSTA?! – perguntou a atendente em estado de surpresa, mas recordando de um referencial.
– É isso mesmo: OSTA! – disse a velhinha.
A atendente, toda delicada, disse-lhe então:
– Não seria ERDA?
Ao que retrucou a velhinha, já impaciente pela demora no atendimento:
– ERDA!... OSTA!... é tudo a mesma coisa! E pronto!

Essa é pra você, Felipinho. Boas risadas. Valeu!



Wallace Rocha